Secções
Entrar

Taxa de pobreza agrava-se entre idosos, mas diminui nas crianças

Luana Augusto 07 de janeiro de 2025 às 11:57

Estudo revela que Portugal continua a ser um dos países mais desiguais da UE. Face a este cenário, Carlos Farinha Rodrigues lembra que é necessário pôr em prática a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza. "A pobreza é um travão ao desenvolvimento social e ao crescimento da economia", diz à SÁBADO.

Em apenas um ano, a taxa de pobreza dos idosos agravou-se em Portugal, passando de 17,1% em 2022 para 21,1% em 2023. Esta é das conclusões da atualização do estudo Portugal Desigual, apresentado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. 

DR

Segundo Carlos Farinha Rodrigues, autor desta investigação, o aumento traduz-se em "largos milhares de idosos" e pode dever-se a dois fatores.

"A primeira explicação é que houve uma alteração na metodologia do cálculo das pensões de velhice. Ou seja, em Portugal, tal como acontece nos outros países na União Europeia, os inquéritos assentam-se nas respostas que as pessoas dão relativamente aos seus rendimentos. O que acontece, é que há anos que o INE tem tentado introduzir fatores de validação de informação, como dados de IRS." 

Segundo o especialista em estudo da pobreza e das desigualdades, a alteração desta metodologia "fez com que os resultados, relativos ao valor das pensões, fossem inferiores àqueles que foram realmente declarados pelas famílias". Deixa, assim, uma notícia de alívio: "Se esta análise estiver correta, o problema não é muito grave", refere em resposta à SÁBADO.  

Além disso, Carlos Farinha Rodrigues aponta para uma outra explicação, que poderá justificar este aumento da taxa de pobreza nos idosos.

"Entre 2022 e 2023 tivemos um aumento de 7% no limiar da pobreza. Ou seja, passou de €591 para €632, para um indivíduo sozinho. Se olharmos para a escala de rendimento entre estes dois valores vemos que há milhares de pessoas que são pensionistas. A explicação é que havia pensionistas que não eram pobres e agora são porque os rendimentos subiram", explica, atentando que estão em situação de pobreza monetária as pessoas de rendimento equivalente mensal inferior a €632, valor que em 2022 era €591.

O professor associado do ISEG acredita, assim, que o aumento do nível de pobreza nos idosos "não se vai repetir no futuro" - embora esta seja a faixa etária onde se verifica uma maior incidência da pobreza. Lembra ainda a importância de ser colocada em prática a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza.  

"Não se tem feito o suficiente. É preciso reforçar as políticas públicas de combate à pobreza e desigualdade. Quando olhamos para a pobreza temos que pensar que a pobreza não é um problema dos pobres. É um problema da sociedade que põe em causa a qualidade de vida. A pobreza é um travão ao desenvolvimento social e ao crescimento da economia", frisa.

Taxa de pobreza nas crianças

No caso das crianças e dos jovens, os resultados parecem ser mais animadores. Segundo o estudo Portugal Desigual, a incidência da pobreza nas crianças e jovens caiu para 17,8% - o valor mais baixo desde 2003.

"Esta diminuição deve-se a medidas específicas para crianças e jovens, tais como as medidas das creches, por exemplo", aponta Carlos Farinha Rodrigues, ao referir-se à política das creches gratuitas para crianças nascidas a partir de 1 de setembro de 2021.

Segundo o investigador, combater a pobreza nas crianças e jovens é mais "complicado", isto porque não são apenas necessárias medidas para esta faixa etária, mas também é necessário haver políticas destinadas à população adulta. Garante assim que "a prioridade deve ser a questão das crianças e dos jovens".

"Combater a pobreza dos idosos é mais simples. É possível resolver a pobreza aumentando as pensões, o Complemento Solidário para Idosos, e tendo medidas públicas destinadas aos idosos. Mas no caso das crianças é mais complicado. As crianças não são pobres porque querem, é porque vivem numa família pobre", lembra.

Nas "medidas para as crianças e as famílias", Carlos Farinha Rodrigues dá como exemplo a aposta no "rendimento das famílias" e a "inserção do sistema de saúde". Em 2023, a agência Lusa dava conta que a pobreza tinha feito aumentar os casos de crianças sem acesso aos serviços de saúde.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela