O racismo está em crescimento na Europa
Quase metade dos descendentes de africanos dizem ter sido alvos de comportamentos racistas ou discriminados pela cor da sua pele nos últimos cinco anos.
O racismo está em crescimento na Europa e, em Portugal, 23% das pessoas negras queixam-se de discriminação quotidiana. Novo relatório aponta que quase metade dos cidadãos com ascendência africana na União Europeia tenha sido vítima de atitudes racistas.
Um relatório recente da Agência Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA na sigla original) alerta para o crescimento do racismo na Europa, citando dados que afirmam que quase metade das pessoas de ascendência africana na União Europeia (UE) são confrontados quotidianamente com atitudes racistas, discriminatórias ou até mesmo alvos de crimes de ódio. Segundo a análise da agência, 45% das pessoas de ascendência africana que vivem no espaço comunitário dizem ter sido vítimas de discriminação racial nos últimos cinco anos. No relatório anterior, datado de 2016, eram 39% os que denunciavam ser vítimas regulares de atitudes racistas.
Os países onde as pessoas mais sentem discriminação social são a Alemanha e a Áustria: aqui, 70% dos descendentes africanos afirmaram ser alvo de atitudes racistas algures nos últimos cinco anos. Já em Portugal, a percentagem fixa-se em 27%. Contudo, a FRA lembra que apenas 9% das vítimas denunciou atos ou casos de discriminação, o que dificulta ter uma compreensão real da dimensão do problema.
Os dados mostram ainda que mulheres jovens, pessoas com educação superior e que utilizam símbolos e vestuário religiosos são aquelas que têm maior probabilidade de enfrentar discriminação racial, que as afeta sobretudo quando procuram trabalho ou alojamento. Um terço dos inquiridos referiu ter sido discriminado na procura de emprego e no próprio local de trabalho.
Pessoas com ascendência africanas estão ainda em maior risco de pobreza, em comparação com a população em geral, considerando o aumento da inflação e do custo de vida na União Europeia, apurou o relatório. "Cerca de 33% enfrentam dificuldades para fazer face às despesas quotidianas e 14% não têm dinheiro para aquecer as suas casas, em comparação com 18% e 7% da população em geral", sublinha a FRA.
O relatório diz ainda que descendentes de africanos são mais propícios a terem apenas contratos de trabalho temporário e a serem demasiado qualificados para a posição que ocupam, quando comparados à população geral.
Já quanto ao alojamento, "31% dos inquiridos afirmaram ter sido vítimas de discriminação racial" ao tentar encontrar alojamento na União Europeia.
"As pessoas de ascendência africana enfrentam cada vez mais discriminação apenas por causa da cor da pele", lamenta o diretor da FRA, Michael O'Flaherty, citado no relatório, apontando para uma deterioração da qualidade de vida destes cidadãos. "O racismo e a discriminação não devem ter lugar nas nossas sociedades. A UE e os seus Estados-membros devem utilizar estas conclusões para direcionar melhor os seus esforços e garantir que também as pessoas de ascendência africana possam usufruir dos seus direitos livremente, sem racismo ou discriminação", conclui o responsável.
O documento da FRA analisou as respostas de mais de 6.700 pessoas de ascendência africana que vivem em 13 países da UE: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Polónia, Portugal e Suécia.
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