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Mais de metade dos jovens aceitariam receber menos para serem mais felizes no trabalho

Débora Calheiros Lourenço 03 de novembro de 2025 às 07:00

Pedro Martins explica que os jovens procuram “significado” e flexibilidade no seu trabalho.

Mais de metade dos jovens profissionais estão dispostos a aceitar uma redução salarial de 10% em troca de maior felicidade no trabalho. Este é um dos resultados do mais recente inquérito global da The Global Alliance in Management Education, que junta 33 universidades e escolas de gestão internacionais, entre as quais a Nova School of Business and Economics (Nova SBE)
Getty Images
O estudo revela que 53% dos jovens inquiridos aceitariam ganhar menos para serem felizes no trabalho, enquanto 40% afirmam que podiam considerar essa hipótese dependendo da função e apenas 7% rejeitam totalmente esta opção. Pedro Martins, professor catedrático da Nova SBE, partilha com a SÁBADO que neste inquérito os jovens não foram questionados sobre o seu nível salarial, no entanto “outros estudos nesta linha indicam que a abertura para a troca de salário por felicidade aumenta com o salário que a pessoa recebe”. “Se se recebe o salário mínimo ou muito perto disso não há disponibilidade para a perda de rendimentos”, reforça.  Assim sendo, o investigador considera que “quando se têm as necessidades materiais garantidas surgem novas prioridades”. Segundo o inquérito, os jovens consideram que os pontos essenciais para a sua felicidade profissional são bons colegas de trabalho (31%), trabalho com significado (28%) e liberdade/ flexibilidade (27%), outro dos pontos que Pedro Martins considera fundamental são as “oportunidade de aquisição de novas competências”.
DR
Pedro Martins explica que os jovens procuram “significado” no seu trabalho e isto pode incluir coisas como “sentirmos que o nosso trabalho contribui para os objetivos sociais ou ambientais, combater desigualdades, participar em oportunidades de desenvolvimento internacional”. Esta é uma necessidade considerada fundamental para as gerações mais novas e o especialista considera que “tem ganhado relevância” uma vez que “as remunerações têm aumentado, assim como a concorrência do mercado de trabalho”: “Quando um trabalhador percebe que tem muitas alternativas deixa de se sentir dependente da empresa onde trabalha e surgem muitas opções, pelo que pode procurar aquela que lhe dá um melhor ambiente”, reforça. É no seguimento deste pensamento que a flexibilidade se torna fundamental. Pedro Martins reforça que os jovens “procuram equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional” ou seja, locais de trabalho onde “exista a capacidade de ir ao encontro de necessidades imprevisíveis”. “Trabalhamos para viver e não vivemos para o trabalhar, e esta é uma máxima muito clara para os jovens”, afirma Pedro Martins.

"É uma grande vantagem para as empresas poderem oferecer trabalho remoto"

Todos estes dados deixam claro que é necessário que as empresas “consigam tornar o local de trabalho um espaço agradável” e Pedro Martins reforça que “oferecer melhor condições pode ser mais económico [para o empregador] do que oferecer uma melhor remuneração”, o que cria “oportunidades interessantes de tornar as pessoas mais felizes e as empresas mais competitivas e lucrativas”. Ainda assim nem todas as empresas estão a conseguir adaptar-se às necessidades dos jovens e o investigador refere que tais mudanças criam “uma grande exigência junto das capacidades de gestão das empresas para desenvolver mecanismos que não criem entraves à produção e aumentem a felicidade” isto porque pode ser difícil estabelecer “sistemas de produção onde a flexibilidade mantenha a produção”.   Exemplo dessa dificuldade de gestão é o caso do trabalho remoto: “Houve um grande ganho de experiência devido à covid-19, mas essa experiência não soube ser aproveitada por todas as empresas”. Pedro Martins considera que “é uma grande vantagem para as empresas poderem oferecer trabalho remoto, conseguem menos despesas de remuneração e mais satisfação por parte dos colaboradores”: “Todos os estudos que procuram analisar o trabalho híbrido apontam para o sucesso, mas alguns gestores têm dificuldades”, partilha.  O professor alerta que “empresas sujeitas a grande concorrência ou com margens muito curtas têm mais dificuldades em implementar estas medidas, até porque não é uma prioridade”. Por outro lado, Pedro Martins refere que estas são questões sobretudo geracionais. E como “os mais novos são menos experientes e menos produtivos, não podem ser tão exigentes”: “Aqueles jovens que não tenham formações diferenciadas não vão ter condições de forçar as mudanças que desejam ver”.
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