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Exames nacionais arrancam com falta de explicadores

Sónia Bento 17 de junho de 2025 às 19:09

A procura de explicações de preparação para as provas aumentou 8% em relação ao ano passado. A capacidade de resposta diminuiu devido à falta generalizada de professores. Apoios a Matemática, Física e Química, Biologia e Português são os mais pedidos.

A 1.ª fase dos exames nacionais arrancou esta terça-feira com Português e termina no dia 30, com Matemática. Nesta altura de maior investimento no apoio escolar, alunos e encarregados de educação enfrentam a dificuldade da cada vez maior da escassez de explicadores. Segundo uma análise da Fixando – plataforma de contratação de serviços em Portugal – 54% dos pedidos de explicações realizados no último mês não tiveram resposta, uma subida face aos 48% registados no mesmo período do ano passado.

João Miguel Rodrigues 

Este agravamento de oito pontos percentuais surge num contexto de falta generalizada de professores, com cerca de 24 mil alunos a terminarem o ano letivo sem docente em pelo menos uma disciplina, segundo a FENPROF. Embora a procura de explicações tenha aumentado ligeiramente (+0,5%), a capacidade de resposta diminuiu. A maioria dos explicadores são professores no ativo que acumulam estas funções com a atividade letiva e, perante a sobrecarga, acabam por recusar novos pedidos.

Preços das explicações a subir

A conclusão do ensino secundário implica a realização de três exames, que funcionam como provas de ingresso ao ensino superior, sendo que o de Português é obrigatório e os outros dois são opcionais, consoante o curso a que o aluno se pretenda candidatar. A maior procura de apoio é na preparação para os exames nacionais, seguida das disciplinas de Matemática, Português e Economia. As áreas com maior carência de explicadores são Desenho A, Alemão, Italiano, Francês, Ciências, Matemática do 1.º ciclo, de acordo com a Fixando.

O preço médio de explicação por hora é de 16€, valor que sofreu um aumento de €2 (14,29%) em relação ao ano anterior, reflexo da pressão sobre os explicadores disponíveis. Outro fator que pode ajudar a explicar a limitação da oferta é o elevado número de aposentações registadas no último ano letivo: 3.981 professores do ensino básico, secundário e de infância, o valor mais alto da última década.

Área da educação não é apelativa para os jovens

"No ensino secundário, as disciplinas mais procuradas são Matemática, Física e Química, Biologia e Português. A dificuldade no recrutamento de explicadores é maior pela exigência e por isso é mais difícil dar resposta. O problema é a falta de professores e a cada ano que passa a tendência é para piorar", diz José Carlos Ramos, fundador da Explicolândia, uma rede de explicadores com oito centros de estudos em todo o País, que apoiam mais de 450 alunos, em aulas individuais, desde o 1.º ano ao ensino superior. E acrescenta: "A procura tem aumentado porque os pais estão mais propensos a procurar apoio escolar para os filhos, mas a capacidade de resposta é cada vez menor. A área da educação tem-se tornado menos apelativa para os jovens". José Carlos Ramos diz ainda que "o novo modelo dos três exames obrigatórios vai piorar os resultados e baixar as médias".

Dora Garcia é explicadora de Matemática, desde o 9.º ano até ao ensino superior, aos cursos de engenharias ou gestão. Tem cerca de 30 alunos e diz que prefere a dinâmica das aulas de grupo presenciais. "A maioria dos meninos está comigo desde o início do ano letivo. Alguns tentam entrar nos meses seguintes, mas a partir de novembro já não consigo aceitar mais ninguém por falta de tempo", revela à SÁBADO. Cobra €115 mensais, por duas aulas, de hora e meia, semanais, o que dá cerca de €14 por aula. Dora é licenciada em Matemática e tem dado explicações a tempo inteiro, em Almada. Agora está a fazer um mestrado para seguir a via do ensino, mas pretende manter as explicações.

Os três passos fundamentais 

A falta de docentes revela a necessidade urgente de reforço estrutural no sistema educativo e da valorização dos profissionais de ensino. Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, há medidas fundamentais que têm de ser tomadas: "O primeiro passo é apoiar as estadias dos professores que são colocados a centenas de quilómetros da sua área. Além disso, é importante aumentar o vencimento dos docentes dos primeiros escalões, para que a carreira se torne atrativa para os jovens, e diminuir a burocracia nas escolas porque há muita papelada e muita plataforma. Se estes três pontos forem agilizados podemos começar a resolver o grave problema da escassez de professores".

Os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais serão conhecidos a 15 de julho e a 2.ª fase decorre entre 18 e 24 de julho.   

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