"No mundo ocidental deixámos de comer insectos em certa altura da história e o que está em jogo neste momento é voltarmos a comer", diz fundador da Nutrix.
Empresas portuguesas estão a criar larvas de insectos que transformam em farinhas para incorporar em bolachas, pão, patés, barras proteicas, tornando ricos em proteína animal alimentos que apenas aguardam autorização europeia para entrarem no mercado da alimentação humana.
"Há muitos anos que os humanos comem insectos. No mundo ocidental deixámos de comer em certa altura da história e o que está em jogo neste momento é voltarmos a comer", disse à Lusa José Gonçalves, fundador da Nutrix, empresa de Leiria que produz framboesas biológicas e que tem em fase experimental a produção de larvas de grilo para alimentação humana.
A posição recente da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, alertando para a necessidade de se encontrarem alternativas sustentáveis para produzir proteína animal, tendo em conta os "impactos brutais" das fontes actualmente utilizadas (essencialmente as carnes de vaca, de porco e de frango), veio dar um impulso a esta área.
"Do ponto de vista nutricional, os insectos são riquíssimos e, sendo, simultaneamente, sustentáveis do ponto de vista ambiental, é um dois em um que raramente se consegue com outros alimentos", frisou.
As vantagens são apontadas igualmente por Guilherme Pereira, um dos fundadores da Portugal Bugs, empresa de Matosinhos que cria larvas de besouros pretos (bicho da farinha ou tenébrio) para alimentação humana e animal.
"Há insectos que conseguem ter a quantidade máxima de aminoácidos essenciais que precisamos e não conseguimos sintetizar. O ser humano precisa de proteína para conseguir sobreviver. Uns vão buscar à carne e outros aos vegetais, mas essas fontes proteicas são insustentáveis se pensarmos nos recursos hídricos que gastamos, no espaço que precisamos, nos gases com efeito de estufa que se libertam", afirmou.
Para Daniel Murta, um dos fundadores da EntoGreen, empresa de Santarém que está a desenvolver um projeto com investigadores da Estação Zootécnica Nacional (EZN), polo de Santarém do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e que envolve um entreposto agrícola e produtores de rações animais, a utilização de insetos permite "fechar um ciclo", constituindo um "selo de sustentabilidade e de economia circular".
"Estamos a produzir animais que vão converter subprodutos alimentares. Estamos a utilizar o que não é utilizado nas cadeias de distribuição, a focar 100% em produtos vegetais que são gerados nas fábricas de produção alimentar e que estão completamente em condições de ser utilizados na alimentação animal (...), mas que acabam em aterro ou compostagem", disse.
A EntoGreen -- https://www.entogreen.org/ - aproveita esses nutrientes, que de outra forma seriam desperdiçados, e reintegra-os na cadeia de valor, transformando-os em fertilizantes agrícolas com recurso aos insectos -- neste caso a larva da mosca soldado negra --, ao mesmo tempo que produz "duas fontes nutricionais alternativas: a proteína de insecto e o óleo de insecto, altamente valorizadas, comparadas com farinha de peixe e que começam a ser bastante apetecíveis, por exemplo na indústria de produção de aquacultura", acrescentou.
Daniel Murta sublinhou o apoio do INIAV, onde as empresas puderam contar com a vertente de investigação e desenvolvimento e a possibilidade de submissão de candidaturas a fundos comunitários.
Os resultados preliminares deste projecto (EntoValor) "foram bastante animadores", pois "demonstraram que é possível substituir totalmente a soja por farinha de insectos e produzir de forma eficiente os animais", bem como mostraram que os fertilizantes gerados "são úteis no solo", quer na produção de milho, quer na de batata ou de tomate, estando a ser testados laboratorialmente em alfaces.
A expectativa é que durante este ano e o próximo possa ser construída "uma unidade de escala total e entrar no mercado", adiantou.
Enquanto decorrem os processos de aprovação para alimentação humana, a Portugal Bugs está já a produzir, tanto as larvas como o produto final (onde se incluem barras proteicas, recentemente premiadas, mas também pães, massas, bases para pizas), para quando puder entrar no mercado o fazer "sem depender de terceiros", sendo "mais competitivos" e garantindo a forma como os insectos são produzidos.
Por seu turno, a Nutrix está "em fase experimental", a "arrancar com a unidade piloto de produção de insectos" que, tal como a Portugal Bugs, vai incorporar, em forma de farinha, "em alimentos que já conhecemos, como, por exemplo, para enriquecer uma bolacha, uma barra proteica, um pão, um paté", já que acredita que "o consumo de insectos no mundo ocidental vai entrar por essa via" e não pelo consumo do animal inteiro, como acontece em outros pontos do mundo.
Portugueses desenvolvem alimentos que usam insectos como proteína
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