A época mais crítica em incêndios florestais termina esta sexta-feira, tendo os fogos consumido uma área superior a 160 mil hectares, mais do dobro dos últimos oito anos
A época mais crítica em incêndios florestais termina esta sexta-feira, tendo os fogos consumido uma área superior a 160 mil hectares, mais do dobro dos últimos oito anos, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais.
Durante a fase "charlie", que começou a 1 de Julho, estiveram mobilizados um total de 9.708 operacionais, 2.235 equipas, 2.043 viaturas e 47 meios aéreos, além dos 236 postos de vigia da responsabilidade da GNR, segundo o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF).
A Polícia Judiciária deteve este ano 77 pessoas por crime de incêndio florestal, mais 25 do que em 2015, indicam dados da PJ enviados à agência Lusa. A PJ adianta que dos 77 detidos, 32 ficaram em prisão preventiva e seis em prisão domiciliária. Em Portugal Continental foram detidas 76 pessoas e na Madeira uma.
A maior parte das detenções ocorreram em Vila Real (19), região Norte (18), Braga (11) e Centro (10).
Num verão, em que a severidade meteorológica registou o quinto valor mais alto dos últimos 17 anos, os incêndios florestais consumiram uma vasta área, sobretudo no início de Agosto e Setembro.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais indicam que os fogos provocaram, este ano, uma área ardida superior a 160 mil hectares, mais do dobro da média dos últimos oito anos (2008-2015).
Em Portugal, as últimas estatísticas disponíveis do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) são referentes a 31 de Agosto e mostram que a área ardida este ano quase que duplicou em relação a 2015.
Em contrapartida, o número de ocorrências de fogo registadas, entre 01 de Janeiro e 31 de Agosto, desceu quase 25 por cento face ao mesmo período de 2015.
Segundo o ICNF, 10.334 ocorrências de fogo registaram-se até 31 de Agosto, menos 2.760 do que no mesmo período de 2015, quando já tinham ocorrido 13.094 incêndios.
Os 10.334 fogos provocaram, até ao fim de Agosto, 107.128 hectares de aérea ardida, enquanto no ano passado este valor se situava nos 58.601 hectares.
As últimas informações avançadas pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) destacavam que 45 por cento (47.954 hectares) do total da área ardida ocorreu em incêndios com início a 8 de Agosto.
Só no período de 06 a 15 de Agosto, dias em que esteve em vigor o Estado de Alerta Especial (EAE) laranja, devido à extrema severidade meteorológica, a ANPC registou 3.139 incêndios, que envolveram 74.006 operacionais, 20.010 viaturas, 1.215 missões com meios aéreos.
Portugal recebeu também ajuda internacional durante este período, de dois aviões de Marrocos, Espanha, Rússia e um de Itália.
Estes dados não incluem os incêndios que também ocorreram, na segunda semana de Agosto, na Madeira, que provocaram três mortos, um ferido grave e centenas de deslocados e desalojados, sobretudo no concelho do Funchal, onde a autarquia avalia os prejuízos em 61 milhões de euros, com cerca de 300 edifícios destruídos ou afectados.
No sábado começa a fase "delta" de combate a incêndios, que se prolonga até 30 de Outubro, em que vão estar operacionais 5.517 operacionais, 1.293 viaturas e 22 meios aéreos.
A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, já avançou com um reforçou de meios caso exista necessidade.
Na terça-feira, o Governo anunciou que foi prorrogado até 15 de Outubro o período crítico do Sistema de Defesa da Floresta contra incêndio.
Este prolongamento diz respeito às medidas especiais de prevenção contra incêndios, nomeadamente a interdição do acesso a zonas críticas, impossibilidade de realização de queimadas, proibição da realização de fogueiras, queima de sobrantes das explorações agrícolas e lançamento de quaisquer tipo de foguetes.
O sistema de combate "não está capacitado" para responder "com eficácia a grandes incêndios"
O especialista em fogos florestais Paulo Fernandes considera que o sistema de combate "não está capacitado" para responder "com eficácia a grandes incêndios", mas sim para "defender pessoas e casas".
"O sistema de combate a incêndios está preparado e vocacionado, uma vez que assenta muito no voluntariado e nas corporações locais de bombeiros, para as tarefas de defender pessoas e casas, mas não emprega técnicas e análises do comportamento do fogo. Tudo aquilo que é necessário para controlar incêndios maiores e evitar que se propaguem", disse o docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em declarações à agência Lusa, a propósito do fim da época crítica em fogos (fase Charlie).
Para o investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD o dispositivo de combate a incêndios respondeu este ano "como sempre". "O sistema português de combate a incêndios é essencialmente orientado para a protecção de casas e pessoas, não está capacitado para enfrentar com eficácia grandes incêndios", justificou.
Segundo o especialista que já realizou vários estudos sobre os incêndios florestais, Portugal e Grécia são os únicos países da Europa com incêndios de grandes dimensões e que não conseguiram reduziram a área ardida. No entanto, sustentou, em Portugal nota-se mais a deficiência no sistema de combate aos grandes fogos devido às condições naturais mais favoráveis à propagação de incêndios.
Paulo Fernandes considerou também que os políticos e decisores deviam questionar-se sobre os motivos de Portugal continuar a ser o único país a não conseguir reduzir a área ardida."A Espanha, Itália e França reduziram a área ardida por volta dos anos 90.
Houve algo que mudou mais no combate. Portugal nunca fez essa evolução", disse, sublinhando que "houve iniciativas muito positivas entre 2006 e 2008", mas que "foram entretanto perdidas", como foi o caso dos grupos de análise e uso do fogo.
"Houve uma tentativa de injectar conhecimento técnico. Não existe já esse conhecimento da análise do comportamento do fogo que era essencial para identificar oportunidades e impedir que os incêndios sejam tão grandes e durem tanto tempo", afirmou.
Nesse sentido, o docente da UTAD defendeu a criação de bombeiros florestais, que são aqueles que têm o conhecimento e a formação para enfrentar os incêndios no seu ambiente florestal."Não temos bombeiros florestais, ou temos muito poucos, deveria ser feita uma aposta muito importante na formação e na criação de bombeiros florestais, que integrariam, tal como em Espanha, as brigadas de combate de incêndios, que são sempre dirigidas por um engenheiro florestal", disse.
Paulo Fernandes destacou as competências da Força Especial de Bombeiros e do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR, que "atacam com eficácia os incêndios no início", e os sapadores florestais, usados para o rescaldo.
"Temos pessoas formadas e alguma massa critica para o início e fim dos incêndios, mas não temos uma força substancial de bombeiros com competências necessárias para os grandes fogos", sustentou.
Esta deficiência prejudica, segundo o especialista, a actuação dos meios aéreos, que dependem "basicamente das estratégias e conhecimento" de quem está no combate. "Os meios aéreos não apagam incêndios sozinhos, é sempre preciso o apoio terrestre. Os meios aéreos arrefecem o incêndio para que quem está no terreno conclua o trabalho", concluiu.
Época crítica de incêndios termina esta sexta-feira
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