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Trabalhadores de recolha do lixo rejeitam interesses "político-partidários" e criticam Moedas

Lusa 06 de janeiro de 2025 às 14:51

Sindicato diz que o presidente da CML tem optado por "iludir os lisboetas e os trabalhadores do município" em vez de assumir responsabilidades perante os problemas na higiene urbana.

O Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) acusou hoje o presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), de erguer "argumentos artificiais" quanto à greve na higiene urbana ao associar motivações político-partidárias e ao distanciar-se das reivindicações dos trabalhadores.

MIGUEL A. LOPES/LUSA

"Verifica-se um distanciamento profundo face às reivindicações dos trabalhadores da higiene urbana, o que é bastante preocupante", afirmou o STML, em comunicado, referindo-se às declarações de Carlos Moedas numa conferência de imprensa na sexta-feira para balanço da greve daqueles trabalhadores, que ocorreu entre o Natal e o Ano Novo.

Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) associou a greve a "interesses partidários" pela recusa dos sindicados em negociar e pelo aproximar de eleições autárquicas, que irão ocorrer entre setembro e outubro deste ano, e reiterou que o executivo camarário está a cumprir o acordo de 2023 relativo às reivindicações dos trabalhadores da higiene urbana, referindo que está executado em 80%.

"Quando se procura erguer argumentos artificiais (ex. motivações político-partidárias) para ignorar os profundos problemas que se vivem neste setor de atividade, [...] percebemos que a prioridade do presidente da CML é, acima de tudo, projetar uma imagem artificial que o beneficie em termos de opinião pública, quem sabe, apenas preocupado com as futuras eleições autárquicas de 2025", expôs o STML.

Pretendendo "repor a verdade", o STML disse que o que move os sindicatos é a defesa dos trabalhadores e do serviço público que estes prestam e garantem diariamente à cidade de Lisboa, o que "exige respostas sérias e urgentes por parte do executivo".

"Caso contrário, a greve voltará a ser tema para uma futura conferência de imprensa, na expectativa que desta vez a verdade seja a tónica e não o que infelizmente se tem assistido", avisou o sindicato, sublinhando que cabe "em exclusivo" ao executivo municipal resolver os problemas no serviço público da higiene urbana, respondendo às reivindicações dos trabalhadores.

Segundo o STML, o presidente da CML tem optado por "iludir os lisboetas e os trabalhadores do município" em vez de assumir responsabilidades perante os problemas na higiene urbana e que motivaram a greve geral nos dias 26 e 27 de dezembro.

Entre as reivindicações destes trabalhadores está o cumprimento do acordo celebrado em junho de 2023, em que o sindicato diz que a CML "apenas respeitou em 35,8%", menos de metade do que afirma Carlos Moedas, que aponta para 80%.

O sindicato refere que, dos 14 pontos essenciais do acordo, nove não foram cumpridos até agora, seja em termos de conteúdos, prazos ou ambos, que incluem obras e intervenções nas instalações, assim como o reequilíbrio dos circuitos de remoção de lixo.

O STML destaca ainda o memorando reivindicativo entregue em maio de 2024, com cerca de 800 assinaturas, que pretendia relembrar a urgência em cumprir o acordo de 2023 e que acrescentava "duas matérias de importância maior", nomeadamente que o executivo municipal interviesse junto do Governo para atualizar o suplemento de insalubridade e penosidade e que avançasse com a identificação e regulamentação das profissões de desgaste rápido.

"Até esta data, não se conhece nenhuma iniciativa da CML neste sentido", critica o sindicato.

Segundo dados do STML, 45,2% das viaturas essenciais à remoção encontram-se inoperacionais, 22,6% da força de trabalho está diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho e existe um défice de 208 trabalhadores face ao mapa de pessoal.

Ainda relativamente à recente greve, entre o Natal e o Ano Novo, o sindicato indica que nos dois dias de greve geral houve "uma adesão global na ordem dos 60%", enquanto os dados da CML apontam para 48,1% e 44,6% nos dias 26 e 27 de dezembro, respetivamente.

A este propósito, o sindicato acusa a CML de "censura" à comunicação interna do STML, de imposição de "trabalho obrigatório a cerca de 20% da força de trabalho disponível" para cumprir com os serviços mínimos decretados e de "intimidação geral (ameaças veladas ou mais diretas)" junto dos trabalhadores.

"Muitos dos trabalhadores que entraram para a CML nestes últimos meses, foram 'persuadidos' a trabalhar de forma a não perderem o seu posto de trabalho", afirma o STML.

A greve foi geral nos dias 26 e 27 de dezembro e contou com serviços mínimos entre 26 e 28 de dezembro, com a realização de 71 circuitos diários de recolha de lixo, envolvendo 167 trabalhadores.

Paralelamente, houve também greve ao trabalho extraordinário, que se iniciou em 25 dezembro e se prolongou até terça-feira (dia 31 de dezembro), e uma paralisação no dia de Ano Novo, prevista apenas no período noturno, ao trabalho normal e suplementar, entre as 22:00 de quarta-feira e as 06:00 de quinta-feira.

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