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Morreu Alípio de Freitas, "homem de grande firmeza"

13 de junho de 2017 às 12:09

Alípio de Freitas, que morreu aos 88 anos, foi jornalista, professor universitário, padre em Portugal, revolucionário no Brasil e tema de uma canção de Zeca Afonso

O jornalista Alípio de Freitas, que se destacou na luta pela liberdade e apoio aos movimentos camponeses no Brasil, morreu esta terça-feira, em Lisboa, aos 88 anos, disse à agência Lusa fonte próxima da família.

Alípio de Freitas, que nasceu em Bragança, foi jornalista da RTP, professor universitário, padre em Portugal e revolucionário no Brasil.

Em 1952 foi ordenado padre e enviado para a Serra de Montesinho. Em 1957 aceita um convite para ir viver no Brasil onde dava aulas na universidade de Maranhão. Foi no subúrbio pobre de São Luís do Maranhão que a sua actividade social se começou a desenvolver mais, tendo fundado uma paróquia, uma escola e até um posto médico. Poucas missas celebrava, mas quando o fazia, dizia-as em português, numa época em que todas as missas eram ditas em latim. Antecipou-se ao Concílio do Vaticano II, que decidiu que a missa devia passar a ser dita na língua de cada país.

Viajou pelo mundo, estando presente no Congresso Mundial da Paz de Moscovo em 1962. Conheceu Pablo Neruda e Nikita Kruchtchev. De volta ao Brasil abandona o sacerdócio e funda a Liga das Camponesas, um movimento radical de esquerda que entre as iniciativas organizava ocupações de terras.

Foi membro e mentor da Acção Popular e acusado de ter sido o mentor do Atentado Terrorista de Guararapes. Negou sempre o seu envolvimento com o ataque ao Aeroporto Internacional do Recife que vitimou mortalmente duas pessoas

Enquanto dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, foi preso e sujeito a várias torturas, incluindo a tortura do sono durante cerca de 30 dias. Os relatos da prisão foram compilados no livro Resistir é Preciso, sobre o tempo que passou na prisão, entre 1970 e 1979.

Em 1981 foi viver para Moçambique e criou um novo projecto de camponeses.

Entrou para a RTP em 1980, regressado a Portugal e permaneceu no serviço público até 1994. Passou depois a dar aulas de Economia Política.

Alípio de Freitas foi co-fundador da Casa do Brasil em Lisboa e da Associação José Afonso. O músico português, no seu disco Com as Minhas Tamanquinhas, de 1976, editou uma canção onde elogiava a coragem de Alípio de Freitas, numa canção homónima.

As letras da canção fazem referência a um episódio da vida de Alípio de Freitas que se passou no Brasil, enquanto esteve preso: Baía de Guanabara/ Santa Cruz na fortaleza/ Está preso Alípio de Freitas/ Homem de grande firmeza // Em Maio de mil setenta/ Numa casa clandestina/ Com a companheira e a filha/ Caiu nas garras da CIA// Diz Alípio à nossa gente:/ "Quero que saibam aí/ Que no Brasil já morreram/ Na tortura mais de mil/ Ao lado dos explorados/ No combate à opressão/ Não me importa que me matem/ Outros amigos virão"

Em 2010 ingressou no Conselho Editorial do Jornal A Nova Democracia.

O corpo de Alípio de Freitas estará em câmara ardente a partir das 17h na Basílica da Estrela, em Lisboa.

O funeral irá realizar-se na quarta-feira, às 12h, no Alvito, no Alentejo.

Alípio de Freitas ia ser homenageado no dia 17 de Junho, num espectáculo com a participação de diversos artistas, entre os quais a filha Luanda Cozetti, a que se associou o Sindicato dos Jornalistas.

O sindicato pretendia, assim, manifestar admiração "pelo percurso de lutador do seu associado", conforme se pode ler nosite da estrutura sindical.

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