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Ministro quer combater "prática fascizante" das praxes

12 de julho de 2016 às 20:51

Manuel Heitor anunciou que vai escrever uma carta, a tempo do arranque do próximo ano lectivo, a dirigentes estudantis, reitores das universidades e presidentes dos politécnicos a apelar à "máxima vigilância e o total repúdio das praxes"

O ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, assumiu ser "manifestamente contra as praxes", que apelidou de "prática fascizante" que nada tem a ver com tradição académica e que deve ser alvo de um "combate cerrado". "Considero que não há praxes boas e praxes más. Sou manifestamente contras as praxes e é isso que vou escrever a todos os dirigentes estudantis. E é essa a única posição que devemos tomar. Hoje é de facto o combate a esses movimentos que tem que ser considerado do ponto de vista político, mas sobretudo da comunicação do que deve ser o ensino superior", disse o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, no Parlamento.


Durante a audição regimental pelos deputados da comissão parlamentar de Educação e Ciência, o ministro anunciou que vai escrever uma carta na primeira semana de Setembro, a tempo do arranque do próximo ano lectivo, a dirigentes estudantis, reitores das universidades e presidentes dos politécnicos a apelar à "máxima vigilância e o total repúdio das praxes". "É uma prática que temos que vigiar, é uma luta que não está ganha na sociedade portuguesa", disse o ministro, que defendeu ser necessário um "combate cerrado a esta praga".

Na sua intervenção inicial, a deputada do PSD Nilza Sena invocou a tradição académica "muito arreigada" em cidades como Coimbra para defender uma ponderação na tomada de posição sobre as praxes e na defesa da sua erradicação, lembrando que inclusivamente o Partido Socialista já tinha anteriormente expressado opiniões mais moderadas, pedindo uma moralização em torno do tema. "Praga é uma expressão muito, muito forte", sublinhou a deputada.

Manuel Heitor contrapôs que as praxes nada têm a ver com "tradição académica". "Com todo o respeito pela vida académica, a prática, diria mesmo fascizante, das praxes, não tem nada a ver com tradição académica".

Ainda sobre as praxes, o deputado do Bloco de Esquerda Luís Monteiro defendeu que "há uma mistificação da tradição que é preciso desmontar". "O que interessa é discutir que tipo de integração queremos dos nossos estudantes", afirmando que a prática de praxes se encaixa em comportamentos de violência e coação.

Luís Monteiro foi o promotor de uma carta aberta a todas as instituições de ensino superior, subscrita por 100 personalidades, denominada "Integração no ensino superior: a democracia faz-se de alternativas", e divulgada no início do mês. O objectivo da missiva é pedir a criação de alternativas à praxe e a apelar às instituições do ensino superior para que "informem atempada e eficazmente" os novos alunos que "as actividades de praxe não constituem qualquer espécie de obrigação e que não podem ser prejudicados de nenhuma forma ou ameaçados de qualquer maneira por recusarem participar". 

Entre os subscritores contam-se, entre outros, o professor universitário José Adelino Maltez ou o militar de Abril Vasco Lourenço, escritores como Luísa Costa Gomes e Miguel Sousa Tavares, os deputados Paula Teixeira da Cruz (PSD), Alexandre Quintanilha (PS), Teresa Caeiro (CDS-PP), André Silva (PAN), o antigo ministro da Saúde e advogado António Arnaut, o sociólogo André Freire, ou viúva do escritor José Saramago, Pilar del Rio.

"É preciso um envolvimento mais forte por parte das universidades que não podem dizer que não têm responsabilidade. As responsabilidades das instituições de ensino não se resumem ao que se passa depois do aluno entrar na sala de aulas", disse Isabel Moreira em declarações à SÁBADO, na altura. 

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