Manuel Valls quer ganhar o PS francês com a "refundação" da Europa
O ex-primeiro-ministro francês e candidato às primárias socialistas apresentou esta terça-feira o seu programa político, com o foco posto no controlo das suas fronteiras
O ex-primeiro-ministro francês e candidato às primárias socialistas, Manuel Valls, apresentou hoje o seu programa político, com o foco posto numa Europa "refundada" que assuma o total controlo das suas fronteiras e ponha fim à sua crise de identidade.
"Chegou a hora de virar a página da inocência", afirmou, de acordo com a agência EFE, o candidato à liderança do PS francês na disputa das próximas presidenciais em França, previstas para Abril e maio próximos.
A União Europeia (UE) deve enfrentar as suas responsabilidades em matéria de segurança e de imigração e "recuperar o pleno controlo do espaço Schengen e das suas fronteiras exteriores", acrescentou o ex-primeiro-ministro, que abandonou o Governo francês no passado dia 5 de Dezembro para se centrar nas suas ambições presidenciais.
Também Vicent Peillon, outro dos sete candidatos à liderança do PS francês nas primárias de 22 e 29 deste mês, apresentou hoje a sua plataforma política, assente na vontade de dar uma nova vida à Europa.
Peillon, ex-deputado ao Parlamento Europeu e ex-ministro da Educação, listou a Europa como a segunda de seis grandes estratégias de campanha, defendendo o estabelecimento de um salário mínimo europeu, políticas fiscais comuns e a criação de um novo "instrumento financeiro" para ajudar o bloco europeu a enfrentar uma política de imigração partilhada pela União Europeia.
"O ano 2017 coloca-nos perante uma escolha clara: desmantelar a Europa ou reconstruí-la", afirma Peillon no seu manifesto. "E, se a Europa se desfizer, também a França irá desfazer-se", remata o texto, citado pela agência Associated Press.
Se a Europa é a tábua de salvação a que se agarram os candidatos socialistas às primárias do PS francês, ela pode não garantir a sustentação suficiente para levar um candidato da esquerda à segunda volta das presidenciais, comprometida que está a própria ideia da Europa com o 'Brexit', com a forma desastrosa como tem sido enfrentado pelos 27 o problema da imigração e com a escalada do terrorismo.
A herança pesada da François Hollande enquanto inquilino do Eliseu parece, finalmente, comprometer em definitivo as esperanças dos candidatos socialistas, que se vêm perante a tarefa hercúlea de reunir um eleitorado desbaratado pelo actual Presidente francês.
Todas as sondagens dão como certo o fracasso do candidato da esquerda francesa, seja ele qual for, na primeira ronda do plebiscito da próxima primavera, apontado para uma disputa na segunda volta entre o candidato da direita, o ex-primeiro-ministro, François Fillon, e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, protagonistas, um e outra, de um discurso muito crítico em relação à União Europeia.
Entre aplausos, Manuel Valls não renegou hoje o seu passado enquanto chefe do Governo de Hollande, mas reivindicou o seu direito a traçar um novo caminho, e reafirmou a sua convicção de que, apesar dos prognósticos das sondagens, a esquerda "deve ganhar" as presidenciais de abril e maio, porque a "França precisa de progresso e de justiça social".
Valls, nascido em Espanha, considera no programa hoje apresentado indispensável travar a ampliação da Europa até que seja reformada, acrescentando que a Turquia, apesar de ser um parceiro essencial, "não deve nem pode integrar a União Europeia".
O ex-primeiro-ministro pretende dar uma resposta à "crise de identidade" que, no seu entender, a Europa atravessa, através de uma "conferência de refundação" que deverá criar as condições que permitam um consenso "indispensável" para a sobrevivência do projecto europeu.
No caso de esta "refundação" não ser apoiada pelos seus 27 membros, a UE avançará com aqueles que estiverem dispostos, insistiu o ex-chefe do Governo socialista, confessando-se como "profundamente europeu".
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