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"Em nome de todo o Portugal, obrigado", Marcelo Rebelo de Sousa

10 de janeiro de 2017 às 14:57

Presidente da República falou na cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos. "Mais do que os respeitosos Paços do poder, em Belém ou em São Bento, este lugar é aquele que Mário Soares merecia", disse

O Presidente da República recordou hoje Mário Soares como um "singular humanista e construtor de portugalidade" e considerou que, como "um homem que fez história", merecia ser homenageado num lugar como o Mosteiro dos Jerónimos.

"Inspirador lugar este em que nos encontramos, gentes de várias raízes e destinos, unidas pelo essencial: evocar e homenagear um homem que fez história, sabendo que a fazia, mesmo quando tantos de nós nos recusávamos a reconhecê-lo", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado, que falava no final de uma cerimónia evocativa de homenagem a Mário Soares, no Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, referiu que "aqui se fizeram mais de quinhentos anos de história" e que "cada pedra" fala das aventuras portuguesas, provações, sonhos e guerras.

"Mais do que os respeitosos Paços do poder, em Belém ou em São Bento, este lugar é aquele que Mário Soares merecia para o nosso inesquecível encontro", considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "nestes Jerónimos se convocam a história que estudou, antes de a fazer, a cultura que criou com talento e com deleite, e o ecumenismo que foi o corolário inevitável da sua inteligência e da sua liberdade", bem como "o humanismo e a portugalidade" de Mário Soares.

"Humanismo e portugalidade, luminosos traços deste lugar, que tão bem se quadram ao homem e à vida que viemos assinalar", acrescentou.

Segundo o Presidente da República, Mário Soares definiu-se por "um humanismo em que o iluminismo racionalista avulta, mas caldeado pelo conhecimento dos tempos que o antecederam, abrazado ao calor do liberalismo, enriquecido pelos socialismos variados, dos marxistas aos personalistas".

"E, depois, vivido com a premência dos existencialismos, dos neorrealismos, fundindo letras e artes plásticas. Tudo ao serviço de uma intervenção política e social incessantes e galvanizadora, porque de um humanismo situado, combatente, militante se tratava, no afã de refazer Portugal", completou.

Quanto à "portugalidade" do fundador do PS, o chefe de Estado disse que Portugal foi "princípio e fim de um percurso que, para Mário Soares, era um desígnio".

Mas "um desígnio aberto" à Europa - "seu sonho e sua conquista, aqui conjurada a contribuir para um mundo melhor, neste mesmo Claustro, em 1985" - e ao mundo.

"Ao melhor jeito da nossa portugalidade. Uma portugalidade ambiciosa, generosa, fraternal, franqueada a tudo e a todos. É certo que diversa da portugalidade de outros, que, sendo igualmente ecuménicos, teriam esperado um Império imorredouro. Antes, portugalidade lida à luz do realismo dos novos contextos e da liberdade dos povos. Foi assim Mário Soares. À sua maneira, no seu tempo e no seu modo, um singular humanista e construtor de portugalidade. Por isso, aqui viemos e aqui estamos hoje. Com uma saudade feita futuro", acrescentou.

No final do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa louvou a "telúrica resistência", a "indómita vontade" e a "ilimitada coragem e liberdade" de Mário Soares, e lembrou também Maria de Jesus Barroso, "sua companheira de vida, inspiradora".

O chefe de Estado terminou o seu discurso com uma citação que, disse, "Mário Soares acabou por converter em lema de vida", de Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa: "Para ser grande, sê inteiro: Nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes".

"Assim foi Mário Soares. Assim o recordaremos para sempre. Em nome de Portugal, mas de todo Portugal. Obrigado, Mário Soares", concluiu.

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