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Tancos: Ex-CEME responsabiliza dois tenentes-generais pela crise no Exército após o furto

06 de março de 2019 às 21:47
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Rovisco Duarte foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao furto nos paóis, esta quarta-feira.

O ex-chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) Rovisco Duarte atribuiu, esta quarta-feira, a crise no ramo após o furto nos paióis de Tancos aos dois tenentes-generais que se demitiram em junho de 2017 por questões de "gestão de carreiras".

"Noventa por cento, jogando com as probabilidades, são disputas pessoais de gestão de carreiras. Dez por cento foi a surpresa e o choque" com o que aconteceu nos paióis, afirmou Rovisco Duarte numa audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, na Assembleia da República, em Lisboa.

Esta foi a resposta do antigo CEME a uma pergunta do deputado do PS Santinho Pacheco que o questionou se Tancos abriu uma crise no Exército ou se tinha posto a nu "disputas antiga entre generais" por causas de gestão de carreiras.

"Se os tenentes-generais não tivessem saído, nada disto tinha acontecido", afirmou, referindo-se à demissão (passagem à reserva) dos comandantes das Forças Terrestres, Faria Meneses, e de Pessoal, Antunes Calçada, por discordarem da exoneração de cinco comandantes de unidades responsáveis pela segurança dos paióis, dias após o furto, em julho de 2017.

Rovisco Duarte relatou ainda que sofreu pressões para "dizer quem seria o vice-CEME", afirmou, deixando ainda outra afirmação: "Não é por acaso que havia uma postura critica relativamente à tutela por parte destes dois tenentes-generais."

Rovisco Duarte acusou o ex-CFT e o ex-comandante do Pessoal, Antunes Calçada, de terem atuado "lado a lado" contra o seu comando como Chefe do Estado-Maior do Exército.

Frisando que "nunca exoneraria" o tenente-general Antunes Calçada, com quem teve divergências ao longo de 40 anos, Rovisco Duarte disse que foi "perdendo a confiança" em Faria de Meneses, em primeiro lugar pela "atitude" que tomou após a morte de dois recrutas no curso de comandos.

"A posição do CFT era refugiar-se no processo de averiguações para ver o que se passava", uma posição que Rovisco Duarte disse ser "de conforto".

"Quando foi o curso de Comandos, ninguém sabia o que havia de fazer. Neste caso, também o Conselho Superior do Exército não apresentou propostas concretas, estive sozinho no problema dos Comandos e estive sozinho no problema de Tancos", disse.

O ex-CEME acusou Faria de Meneses de, enquanto CFT, desvalorizar problemas reais da 1.ª Força Nacional Destacada na República Centro Africana durante uma visita àquele teatro de operações e de ter "omitido alguns factos graves" que não revelou por questões de "segurança militar".

"O relatório [do Comandante das Forças Terrestres] que eu recebi referia uns problemazinhos resolúveis e depois eu recebo um mail do comandante [da força] que apontava problemas críticos no terreno", disse.

Rovisco Duarte contou que foi ao terreno aproveitando um voo de transporte de material num C-130 para verificar o que se passava, descobrindo que "o estado de inoperacionalidade das viaturas era de 40%".

"O Exército num mês colocou no teatro 36 toneladas de sobressalentes [para a reparação das viaturas]", disse.

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