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O exílio açoriano de Gungunhana, o mítico régulo de Moçambique

Tiago Carrasco 01 de novembro de 2018 às 12:00

Capturado por Mouzinho de Albuquerque, exibido como troféu, baptizado e “ocidentalizado”, viveu em Angra do Heroísmo até ao final da vida. O “leão de Gaza” tem uma história tão inacreditável que vai ser contada num documentário inglês. A trasladação para Moçambique foi decidida há 35 anos.

Nunca os moçambicanos tinham visto um caixão tão belo como aquele que aterrou em Maputo a 15 de Junho de 1985 com os restos mortais de Gungunhana: dois metros de comprimento, 75 centímetros de altura, 225 quilos e baixos relevos do escultor Paulo Cosme. Uma obra de arte que desfilou num cortejo pela cidade, seguida por milhares de pessoas, até ao Salão Nobre do Conselho Executivo, de onde sairia mais tarde para a sua morada final, a Fortaleza de Maputo, com lápide de herói nacional. O que os moçambicanos não podiam ver era que dentro da urna não estavam os ossos de Gungunhana, o último imperador de Gaza – um vasto território que resistiu à expansão colonial portuguesa durante 75 anos. Havia apenas um punhado de terra do cemitério da Conceição, em Angra do Heroísmo, onde quase 90 anos antes o régulo fora discretamente enterrado, sem direito a lágrimas nem a tiros de canhão. Tinha morrido no exílio a 23 de Dezembro de 1906, 11 anos após ter sido capturado por um regimento português liderado por Mouzinho de Albuquerque, em Chaimite, o último reduto da resistência vátua (ou angune, etnia dos líderes de Gaza). A trasladação encerrava um dos episódios mais caricatos da diplomacia portuguesa.

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