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Morte de Giovani motivada por "jovens desintegrados socialmente", não racismo

17 de janeiro de 2020 às 16:41
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Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Orlando Rodrigues, descarta a possibilidade de uma motivação racista por detrás da morte do estudante cabo-verdiano de 21 anos.

O presidente do Instituto Politécnico de Bragança afastou esta sexta-feira, na Praia, motivações racistas na morte do estudante cabo-verdiano Luís Giovani e considerou que o caso foi inicialmente desvalorizado pelas autoridades.

"Não foi isso que aconteceu. Isso não existe de forma nenhuma", afirmou Orlando Rodrigues, em entrevista à Lusa, na cidade da Praia, sobre a tese de possibilidade de as agressões que se revelaram fatais terem tido uma motivação racista.

O dirigente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) está em Cabo Verde para o funeral do estudante, de 21 anos, que morreu em 31 de dezembro, 10 dias após agressões à saída de um bar, naquela cidade.

"Foi um dos nossos a quem aconteceu esta tragédia e, portanto, não podia deixar de vir para dizer um último adeus ao Giovani e para me associar a esta dor coletiva que partilhamos com o povo cabo-verdiano e com a família", afirmou Orlando Rodrigues.

Giovani morreu por "motivos fúteis", depois de desavença dentro de bar

Depois de anunciada a detenção de cinco suspeitos de matar o jovem cabo-verdiano Luís Giovani Rodrigues, a Polícia Judiciária (PJ) garantiu que, ao contrário de "algumas notícias veículas sem consistência", a situação teve como base "motivos fúteis", ou seja, "uma desavença que aconteceu no interior do espaço lúdico e que se desenvolveu no exterior."

Depois de anunciada a detenção de cinco suspeitos de matar o jovem cabo-verdiano Luís Giovani Rodrigues, a Polícia Judiciária (PJ) garantiu que, ao contrário de "algumas notícias veículas sem consistência", a situação teve como base "motivos fúteis", ou seja, "uma desavença que aconteceu no interior do espaço lúdico e que se desenvolveu no exterior."

As alegadas agressões aconteceram na noite de 21 de dezembro, tendo o estudante, natural da ilha do Fogo - onde no sábado decorrem as cerimónias fúnebres -- sido transportado de Bragança para um hospital do Porto, onde acabaria por morrer.

A Polícia Judiciária só foi chamada ao caso após a morte do estudante e hoje anunciou a detenção de cinco suspeitos das agressões que se revelaram fatais.

"É verdade que houve algumas falhas. Inicialmente desvalorizou-se, não houve a perceção da gravidade da situação num primeiro momento", observou Orlando Rodrigues, garantindo que a situação foi depois ultrapassada: "A partir do momento que as autoridades se inteiraram da gravidade foi de imediato posta uma equipa de investigação da Polícia Judiciaria a trabalhar sobre o caso".

Assegura que Bragança continua a ser "um exemplo de segurança" e que o que aconteceu na noite de 21 de dezembro não passou de uma "rixa seguida de agressão", cujas "consequências trágicas" foram acidentais.

"Ninguém acredita que os envolvidos esperassem este fim, mas na verdade aconteceu e foi absolutamente excecional, nunca tínhamos tido uma situação deste tipo em Bragança, e nessa medida deixou-nos a todos muito surpreendidos e em choque", contou.

Garante que o que aconteceu "foi claramente" motivado por "jovens desintegrados socialmente". "Provavelmente alguns deles [agressores] habituados a pequenos furtos, numa noite de mais copos e numa situação de rixa veio a ter esta consequências", disse.

No último sábado realizaram-se manifestações pacíficas e vigílias em memória de Luís Giovani, estudante desde outubro no polo de Mirandela do IPB, e a pedir justiça para este caso, incluindo uma que em Bragança juntou mais de 3.000 pessoas. Na Praia, uma manifestação com várias centenas de cabo-verdianos levou à mobilização da polícia para travar protestos à porta da Embaixada de Portugal e da residência oficial da embaixadora portuguesa, por entre acusações de racismo e dúvidas sobre a atuação da polícia portuguesa.

"Descarto por completo essa possibilidade [crime de ódio]", insistiu Orlando Rodrigues.

"Obviamente há pessoas boas e más em todos os sítios. Mas em Bragança temos a certeza absoluta que não há qualquer tipo de movimento sustentado em base ideológica racista ou de ódio racial. Isso não existe", acrescentou o dirigente do IPB, instituição que conta com 9.000 alunos, dos quais 1.200 são cabo-verdianos.

Orlando Rodrigues diz estar convicto que os responsáveis pela morte do estudante cabo-verdiano serão "condenados" e assegura que Bragança continua a ser "uma cidade muito segura", apesar deste caso, "que ninguém imaginaria que pudesse acontecer".

"As pessoas ficaram muito surpreendidas, muito alertas. É impossível que isto volte a acontecer. Há um profundo afeto da população pelos nossos estudantes cabo-verdianos", assume o dirigente.

Segundo Orlando Rodrigues, o IPB vai manter o luto institucional até à realização do funeral de Luís Giovani, previsto para sábado, no município de Mosteiros, ilha do Fogo. Está ainda prevista uma homenagem ao estudante cabo-verdiano no dia 28 de janeiro, durante as comemorações do dia do politécnico.

"Vim cá sobretudo para manifestar a nossa solidariedade com a dor da família e do povo cabo-verdiano, porque entendemos que esta dor é partilhada por todos. Por nós, que o considerávamos como filho nosso, nosso aluno, embora há pouco tempo", concluiu.

Cabo-verdianos estão "perfeitamente integrados" em Bragança

Orlando Rodrigues, afirma também que a comunidade cabo-verdiana está "perfeitamente integrada" localmente e que só em 2019 receberam 2.400 candidaturas de estudantes de Cabo Verde. Os dados foram avançados em entrevista à Lusa pelo dirigente, que está em Cabo Verde para participar no funeral do estudante cabo-verdiano do IPB Luís Giovani, que morreu em 31 de dezembro após agressões à saída de um bar em Bragança, ocorridas dez dias antes.

No total de 9.000 alunos do IPB, nos polos de Bragança e de Mirandela, um terço são estrangeiros, de 70 nacionalidades diferentes, sobretudo de países de língua portuguesa. Só de Cabo Verde são atualmente 1.200 a frequentar os cursos da instituição.

"A comunidade cabo-verdiana é profundamente bem acolhida pela população. Perfeitamente integrados e bem acolhidos, em profundo afeto com a população local", assegurou Orlando Rodrigues.

A relação do IPB com Cabo Verde tem quase duas décadas, mas foi intensificada nos últimos dez anos, com acordos entre a instituição e vários municípios cabo-verdianos, permitindo o acesso de alunos através de concursos locais para estudantes internacionais.

No caso de Cabo Verde, só no último ano letivo, iniciado em setembro, foram abertas vagas para 600 estudantes cabo-verdianos no IPB, tendo a instituição recebido quatro candidaturas por cada vaga (2.400 no total).

"Para cada vaga tivemos quatro candidatos. Foi um processo de seleção baseado nos resultados do ensino secundário desses alunos. São alunos muito bons, na maioria, muito bem formados e que têm bons resultados académicos", enfatizou o presidente do IPB.

Em Bragança, os alunos cabo-verdianos, fruto desses acordos com os municípios, beneficiam de uma "bolsa de redução da propina", que na prática reduz o valor pago por um aluno internacional para o equivalente à do aluno nacional.

"Portanto, os estudantes cabo-verdianos que têm ido ao abrigo desses acordos pagam a mesma propina que os alunos portugueses (...) auferem dos mesmos benefícios, inclusivamente terem uma bolsa para fazer Eramus em qualquer país europeu", apontou ainda Orlando Rodrigues.

Em 2019, o contingente de 600 vagas para cabo-verdianos no IPB foi "o maior de sempre" e só não foi ainda totalmente concretizado por atrasos na emissão de vistos para os alunos selecionados.

"Porque vimos construindo uma parceria com Cabo Verde sustentada com acordos com as Câmaras Municipais e outras instituições", justificou, a propóstio destes números.

O presidente do politécnico de Bragança garante que a existência de "várias culturas, várias religiões, várias origens geográficas é claramente uma grande mais-valia na formação" dos alunos que procuram a instituição e algo "a preservar".

Acrescenta que o caso do estudante cabo-verdiano que morreu na sequência de agressões no noite de 21 de dezembro à saída de um bar em Bragança - tendo a Polícia Judiciária anunciado hoje a detenção de cinco suspeitos -, "não belisca" esta relação com Cabo Verde.

"Antes pelo contrário. Continuamos chocados e em dor, mas só fortaleceu estes laços", garante, destacando que a comunidade estudantil cabo-verdiana é conhecida em Bragança por ser "muito ativa", desde logo em termos culturais e desportivos.

"O que suscita mais afeto ainda pela comunidade, por serem tão envolvidos", explica.

Segundo Orlando Rodrigues, o IPB formou, sobretudo nos últimos 10 anos, "milhares de cabo-verdianos" e "de forma alguma" os contornos envolvendo a morte de Luís Giovani afetaram a segurança dos restantes estudantes de Cabo Verde em Bragança.

"Ainda assim uma mensagem de tranquilidade para Cabo Verde, para os pais: Os vossos meninos, as vossas meninas estão perfeitamente seguros na nossa cidade. Não há qualquer tipo de insegurança que tenha aumentado por este facto e infelizmente esta tragédia serviu para nos por alerta para fenómenos marginais que não imaginávamos que existiam", concluiu.

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