Sábado – Pense por si

Instrutor de surf e aluno de oito anos salvam mulher e criança no mar da Figueira da Foz

04 de julho de 2019 às 07:41
As mais lidas

"Herói é o Santiago, que tem oito anos e mostrou um sangue frio que muitos adultos não têm", disse Miguel Guedes, 42 anos, treinador da iSurf Figueira da Foz.

Um instrutor de uma escola de surf da praia do Cabedelo,Figueira da Foz, e um seu aluno de oito anos, salvaram esta quarta-feira uma mulher e uma criança que foram arrastados pela corrente, contou o surfista.

Miguel Guedes, 42 anos, treinador da iSurf Figueira da Foz, disse à Lusa que estava na água, a meio da manhã, com uma turma de alunos entre os oito e os 13 anos, quando, do molhe sul do porto comercial, várias pessoas gritaram, avisando para uma mulher em dificuldades "e já a pedir socorro" numa zona adjacente à infraestrutura portuária.

"A senhora estava a ser arrastada pela corrente. Larguei a prancha, nadei ao encontro dela, segurei-a já debaixo de água, puxei-a para cima e tirei-a dali", afirmou Miguel Guedes, que ésurfistahá 30 anos e instrutor da escola da Associação de Desenvolvimento Mais Surf (ADMS).

Com a mulher já em cima de outra prancha, cedida por uma surfista que estava por perto, Miguel Guedes reparou então num rapaz "na mesma situação", a cerca de 15 metros de distância, também em perigo de afogamento.

Foi então que um dos seus alunos, Santiago Boia, de oito anos, remou em direção ao rapaz, "entregou-lhe a sua prancha para o miúdo se segurar e aguentou-se a nadar", relatou.

A mulher e a criança acabaram levadas por Miguel Guedes, as duas na mesma prancha, para a zona do banco de areia contíguo e ali entregues aos cuidados dos nadadores-salvadores em serviço na praia do Cabedelo, num dia em que a bandeira estava verde e se registava uma quase ausência de ondas, sublinhou.

"Aparentemente estavam bem mas em pânico, muito assustadas", revelou o instrutor de surf.

No local onde as duas pessoas estiveram em perigo, "existe um buraco [fundão] com cerca de dois metros de profundidade e a corrente é muito forte. Com a maré a encher os banhistas não se apercebem do perigo, vão a andar e, de repente, ficam sem pé e são arrastados para fora [para longe da praia]", alertou Miguel Guedes.

"Há quem tente nadar para terra e não sabe que se der três braçadas para o lado [oposto ao molhe] ficam no banco de areia e em segurança", adiantou.

Miguel Guedes diz já ter feito "muitos salvamentos" mas admite que se assustou: "Ao ver uma mulher a ir ao fundo e depois de a ir buscar, olhar para o lado e ver um miúdo a cair na mesma situação? assustei-me".

Por outro lado, recusa ser chamado de herói.

"Herói é o Santiago, que tem oito anos e mostrou um sangue frio que muitos adultos não têm", observou.

Já Eurico Gonçalves, proprietário da iSurf Figueira da Foz e dirigente da ADMS, também destaca o "à vontade" de Santiago Boia perante o incidente de hoje, revelando que a exemplo de vários alunos da escola, com oito e nove anos de idade, o rapaz faz treino específico de ambientação ao meio aquático.

"Já estão connosco há um ano. Treinaram no inverno e fazem parte de um projeto maior de literacia da rebentação e das correntes", argumentou.

Eurico Gonçalves disse ainda que o local onde o incidente aconteceu é conhecido pelos surfistas como "o canal" - uma zona de forte corrente junto ao molhe sul - que aqueles utilizam para regressar à zona de surf, mais longe da praia.

"Para os surfistas é ótima mas é má para os banhistas, especialmente os que a desconhecem. O Santiago sabe como fazer porque lhe ensinamos isso, quando acaba a onda vem pelo banco de areia e volta pelo canal para fora", enfatizou.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Editorial

Só sabemos que não sabemos

Esta ignorância velha e arrastada é o estado a que chegámos, mas agora encontrou um escape. É preciso que a concorrência comece a saber mais qualquer coisa, ou acabamos todos cidadãos perdidos num qualquer festival de hambúrgueres