Nestes dias cinzentos que vivemos, as memórias ainda são uma grande trincheira do equilíbrio
Já estamos há uns dias em estado de emergência sanitária, social e económica mas ela só foi decretada na quarta-feira, com efeitos jurídicos imediatos, e detalhada em grande parte da sua magnitude no conselho de ministros de quinta-feira e no de hoje. Para o que importa, porém, ela começou a sério no dia de hoje. Clarificadas as orientações para o comércio, serviços e tudo o mais que faz movimentar a economia e a vida em comunidade, só hoje se percebeu como reagiu a rua, digamos assim, metaforicamente. Antes de ir ver a rua possível, no meu bairro, em Alvalade, Lisboa, emocionei-me com gestos simbólicos de resistência a este diabólico vírus. Vi logo pela manhã, no site da SÁBADO, o vídeo do Coro dos Antigos Orfeonistas de Coimbra a cantar Zeca Afonso. Uma torrente de memórias tomou conta de mim. Zeca Afonso e os tempos de estudante de Coimbra, das Repúblicas e da música que resistiu à ditadura. Tempos de liberdade absoluta. De viver de forma estouvada mas também racional, na medida em que o trabalho e o estudo podiam ajudar. De beber na rua e de namorar em qualquer circunstância. Não existia o chamado ‘distanciamento social’. Nestes dias cinzentos que vivemos, as memórias ainda são uma grande trincheira do equilíbrio. Lembrei-me do funeral de Zeca, no dia 25 de Fevereiro de 1987, uma tarde chuvosa em Setúbal, a que fui com muitos amigos e colegas estudantes. Com a bandeira da Associação Académica de Coimbra (AAC) na mão. A Associação Académica de Coimbra desses anos, berço dos orfeonistas, dos homens do teatro, da música popular e erudita, da fotografia e dos Encontros organizados pelo grande Albano da Silva Pereira, do jornalismo e da rádio, de tudo o que fazia de nós um pouco mais homens e mulheres. Não sei como é hoje, mas naquele tempo a AAC ajudava-nos a resistir a tudo e a encarar a vida como uma verdadeira esperança.
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