André Ventura e José António Seguro à solta definiram-se. Num frente a frente sem controlo, ambos marcaram terreno. Seguro surpreendeu mais e conseguiu trazer (pouca mas alguma) agenda de campanha na área da saúde.
Dois homens com demasiada sede de provar aos seus eleitorados quem são e ao que vêm ignoraram o árbitro e praticaram luta livre. O debate inaugural das Presidenciais 2026, nesta segunda-feira à noite na TVI, entre António José Seguro e André Ventura foi essencialmente sobre postura. E nesse aspeto os dois se afirmaram: Seguro moderado, calmo, professoral; Ventura caótico, disruptivo e indignado. Cada um foi como cada qual.
António José Seguro e André Ventura protagonizaram o primeiro debate televisivo das Presidenciais 2026 Sábado
O candidato do sistema (Seguro) conseguiu, todavia, marcar uns pontos extra. Primeiro: pela surpresa. Enfrentar o candidato antissistema, traquejado (oito eleições em seis anos) não seria tarefa fácil para alguém que deixou estas andanças há uma década e que não pisava estes palcos desde a disputa interna do PS contra António Costa, em 2014. Ainda assim, Seguro conseguiu defender-se das tentativas de Ventura em colá-lo ao PS e trouxe uma nova faceta: conseguiu desferir golpes imprevisíveis.
Em vez de se sobrepor a Ventura, sobrepôs-se ao moderador, o jornalista José Alberto Carvalho, que foi incapaz de ir além de três perguntas em meia hora. "Fale, fale, esteja à vontade, senhor deputado", repetia Seguro, antes de se lançar em respostas prontas a Ventura. Contrapôs ponto por ponto, impedindo que André Ventura ficasse a falar sozinho. Fê-lo sobre imigração, sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobre os temas de que se foram lembrado à medida que a discussão ia evoluindo, porque o debate seguiu a ordem que os dois candidatos quiseram e como quiseram. Como Ventura levou a conversa para temas habituais, Seguro vinha documentado com dados para refutar e conseguiu surpreender ao entregar a Ventura um guião com ideias chave para o debate sobre o SNS, impondo assim a sua agenda presidencial.
André Ventura não perdeu o balanço. Indignado, conseguiu tocar nas causas que lhe são queridas (imigração, saúde, segurança), nunca perdendo de vista o seu eleitorado. Reafirmou que não seria o Presidente de todos os portugueses, só "dos de bem", prometeu lutar para refundar as funções do Chefe de Estado. "Não quero ser uma jarra de enfeitar. Quero dar um murro na mesa".
Destaques do debate:
KO
António José Seguro marcou pontos na primeira parte do confronto, depois de
Ventura enumerar uma série de problemas de governação, o candidato apoiado pelo PS atira: “O senhor
deputado, está na eleição errada”. E ainda provocou sugerindo que não podia perder o pé neste debate visto que "daqui a quatro meses vou estar a recebê-lo em Belém, eu como Presidente e o senhor deputado como líder do Chega".
Pinóquio
André Ventura advogou que os estrangeiros que não residem em Portugal e são tratados no SNS não pagavam. No entanto, por lei, qualquer cidadão estrangeiro que se encontre de passagem ou que esteja num "registo transitório" recebe uma conta dos cuidados de saúde de acordo com a tabela em vigor. Os preços variam entre os 51 e os 112 euros por cada ida às urgências; 34 euros por uma consulta, segundo a Portaria n.º 207/2017.
Embaraço
Quando Ventura critica os imigrantes, Seguro lamenta que o líder do Chega tenha mudado de ideias em relação ao que escreveu na sua tese de doutoramento, em Berlim, onde defendia um acolhimento humanista dos refugiados. Agora, “o senhor está sempre a dividir, a meter umas pessoas contra as outras”.
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