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António Filipe. As polémicas do deputado histórico que se candidata a Belém

Diogo Barreto
Diogo Barreto 30 de junho de 2025 às 19:54
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O comunista foi deputado em 11 legislaturas e é uma das figuras mais consensuais do partido. Mas as suas posições valeram-lhe algumas críticas ao longo dos anos.

O PCP anunciou este domingo, 29 de junho, que vai apoiar o ex-deputado António Filipe na sua candidatura à Presidência da República. O apoio ao antigo vice-presidente da Assembleia da República foi feito Paulo Raimundo em conferência de imprensa, no final da reunião do Comité Central do PCP. 

António Filipe é um dos portugueses que mais tempo serviu como deputado, sempre pelo PCP. Nos últimos anos tornou-se uma das principais figuras do partido e uma das mais consensuais, juntamente com Jerónimo de Sousa. Mas mesmo assim, há algumas polémicas no percurso de António Filipe, sendo que as mais recentes dizem respeito à guerra na Ucrânia. 

A opinião sobre Cuba e Fidel

Em 2016, numa entrevista ao Observador, António Filipe afirmou que era "profundamente injusto classificar como ditador uma personalidade como Fidel Castro". Lembrava depois o passado de "combatente revolucionário pelo seu povo, que liderou uma revolução triunfante, com uma legitimidade revolucionária indiscutível" do líder de Cuba que se manteve no poder por 50 anos.

Rejeitou mesmo que Cuba vivesse num regime ditatorial. "Se conhecer a realidade cubana sabe existe em Cuba uma enorme participação cívica e popular e de discussão da vida política e que muito daquilo que se escreve e diz designadamente em Portugal sobre Cuba não resiste ao conhecimento da realidade", afirmou.

A guerra na Ucrânia

A invasão da Ucrânia por parte da Rússia foi condenada pelo PCP, apelando constantemente à paz e a uma solução diplomática para o conflito, mas a forma como foi feita levou a que muitos considerassem que os comunistas estariam do lado da Rússia no confronto. O PCP optou por não estar na sessão solene com Volodymyr Zelensky na Assembleia da República, afirmou que o presidente ucraniano "personifica o poder xenófobo e belicista" e que o discurso no Parlamento foi uma "instrumentalização para o aumento da escalada da guerra". E António Filipe foi uma das vozes que mais vezes surgiu na televisão a criticar a forma como o ocidente lidava com a guerra na Ucrânia.

Em vários espaços, o comunista criticou o envio de armamento à Ucrânia. Chegou mesmo a comparar a comparar a invasão russa à Ucrânia com a anexação de Goa, Damão e Diu por parte da Índia.

António Filipe chegou mesmo a escrever, quando já tinha passado um ano do início da guerra, que "Zelensky não passa de um peão no xadrez norte-americano, que usa a Ucrânia como carne para canhão para enfraquecer a Rússia e que será sacrificado quando deixar de ser útil, e que usa a União Europeia e os países europeus da NATO como bispos e cavalos do mesmo jogo, fazendo com que os seus governantes sacrifiquem as respetivas populações num apoio à continuação da guerra "pelo tempo que for necessário"".

O anúncio do apoio

António Filipe é uma das figuras da democracia que mais tempo serviu enquanto deputado. Serviu em 11 legislaturas e chegou a ser vice-presidente da Assembleia da República (e até Presidente da Assembleia da República interino).

Na declaração em que justificou a escolha de António Filipe, Raimundo sustentou que o comunista vai ser o candidato dos "democratas, dos trabalhadores, do povo e da juventude". "Urge uma candidatura que assente a sua matriz programática no cumprimento dos direitos inscritos na Constituição – a igualdade e a justiça, a soberania e independência nacionais, a paz e a cooperação, a liberdade e a democracia", acrescentou.

António Filipe pode até mesmo vir a ser o candidato que une a esquerda à esquerda do PS numa altura em que se perfilam como candidatos à Presidência o antigo presidente do PSD, Luís Marques Mendes, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, e antigo secretário-geral do PS António José Seguro, além de outras candidaturas como a de Tim Vieira, André Pestana ou Joana Amaral Dias. Augusto Santos Silva, do PS, anuncia esta quarta-feira se será candidato.

Nas eleições presidenciais de 2021, o PCP apoiou a candidatura do dirigente comunista João Ferreira, que ficou em quarto lugar.

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