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PSD: Há um "assalto ao poder" em Lisboa?

Margarida Davim 24 de março de 2021 às 19:51

No PSD Lisboa a participação de Paulo Ribeiro, João Montenegro e Hugo Carvalho na candidatura de Carlos Moedas é vista como “uma invasão de elementos estratégicos” ao serviço de Rio para “implodir a concelhia e a distrital” antes das próximas diretas. Tese é contrariada pelo líder da distrital e pela campanha de Moedas.

Há um mal-estar latente no PSD Lisboa em torno da candidatura de Carlos Moedas. "Começa a parecer evidente que há uma tentativa de assalto ao poder em Lisboa. Sistematicamente têm sido colocadas pessoas na campanha que são sinais hostis", diz à SÁBADO uma fonte social-democrata. Na raiz desta tese está a presença de três elementos que estão a trabalhar com Moedas nesta fase inicial: Paulo Ribeiro e João Montenegro, que têm estado nas negociações da coligação com o CDS, e Hugo Carvalho, que tem dado um apoio na comunicação do candidato.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

"Paulo Ribeiro é apresentado em todo o lado como líder das negociações em Lisboa, mas com o mínimo de bom senso não se ia colocar o candidato derrotado à concelhia a liderar o processo", nota a mesma fonte, lembrando que o atual líder concelhio, Luís Newton, ganhou a estrutura com 71% dos votos contra Ribeiro.

A presença do secretário-geral adjunto do PSD, João Montenegro, à mesa das conversas com o CDS também causa perplexidade ao nível local. "Antigamente o partido delegava na concelhia e na distrital estas negociações", comenta-se, ao mesmo tempo que se recorda que Montenegro é próximo de Rio e estará a "passar por cima" de estruturas que não o são.

"Está a ser uma entrada a pés juntos", diz um dirigente de Lisboa, que também registou a presença de Hugo Carvalho, ex-apoiante de Sofia Matos "a candidata à JSD apoiada por Rio que perdeu contra Alexandre Poço" e deputado na Assembleia da República, eleito pelo Porto.

"O sentimento que isto gera é o de que há uma invasão de elementos estratégicos, na candidatura, muito provavelmente a preparar as diretas, que serão três ou quatro meses depois das autárquicas", especula-se no PSD Lisboa, onde se fala numa "intromissão nunca antes vista" por parte da direção nacional e numa tentativa de "implodir a concelhia e a distrital".

Outra fonte do PSD Lisboa fala mesmo na candidatura de Carlos Moedas como "um cavalo de Tróia" ao serviço de Rui Rio. Mas, nas estruturas locais, lembra-se o que está nos estatutos do partido, para vincar que a história pode não ficar por aqui. "No final do dia, coligações e listas têm de ser aprovadas na concelhia e distrital".

Os amigos de Moedas

Se no PSD Lisboa há quem veja na presença de Paulo Ribeiro o dedo de Rui Rio, essa é uma tese desmentida na candidatura de Carlos Moedas. "A participação de Paulo Ribeiro decorre única e exclusivamente da vontade de Moedas. Não há aqui ninguém a excluir a concelhia e a distrital", afiança à SÁBADO fonte da candidatura.

Paulo Ribeiro e Carlos Moedas são amigos desde os tempos da faculdade – estudaram ambos engenharia no Instituto Superior Técnico – e o candidato chamou-o para ajudar desde a primeira hora.

De resto, várias fontes próximas de Moedas justificam também com a amizade pessoal o apoio dado por Hugo Carvalho nesta fase da candidatura. "O Hugo Carvalho vive em Lisboa e disponibilizou-se para ajudar. Não tem nenhum cargo", assegura uma fonte, que diz que se trata de "trabalho voluntário" num momento em que a equipa de Carlos Moedas ainda não está completamente fechada, porque "o anúncio da candidatura foi antecipado e ainda não há uma estrutura montada".

A presença de João Montenegro também é explicada pela amizade a Carlos Moedas. Mas a justificação que é dada para a sua presença enquanto representante da direção nacional do PSD nas negociações da coligação esbarra na versão da direção do CDS.

Uma fonte próxima de Moedas assegura à SÁBADO que foi "Francisco Rodrigues dos Santos que não quis que as negociações fossem feitas pelas concelhias nem pela distrital de Lisboa". Segundo essa fonte, o facto de a direção do CDS estar a conduzir o processo seria justificação para que não houvesse em nenhum dos lados da mesa de negociações líderes das concelhias e distritais de Lisboa.

A mesma fonte frisa que as estruturas locais sociais-democratas estão a ser envolvidas em tudo: "Há reuniões periódicas com Luís Newton e Ângelo Pereira e não há uma reunião com o CDS sem que haja antes uma reunião preparatória com a concelhia e com a distrital do PSD e outra reunião logo a seguir às reuniões com o CDS para dar conta do que lá se passou".

CDS desmente ter escolhido interlocutores no PSD

"É absolutamente mentira que tenha sido uma imposição do CDS que as negociações fossem feitas sem a concelhia e a distrital do PSD de Lisboa", assegura à SÁBADO fonte da direção centrista.

"É falso que o CDS não queira o líder da concelhia e da distrital", confirma outro dirigente centrista, explicando que o partido de Francisco Rodrigues dos Santos fala com quem apareceu nas reuniões em representação da candidatura de Carlos Moedas.

"A ligação tem sido a candidatura do Moedas", nota um centrista que tem acompanhado as negociações e que vê como "natural" que "num momento inicial" as conversas decorram sem a presença de estruturas locais, mas recusa a ideia de que essa tenha sido uma imposição do CDS.

"Lisboa sempre teve um cariz nacional. Faz sentido que pelo menos o início das negociações seja tratado ao nível nacional", justifica a mesma fonte, vincando também não estarem a ser excluídos os "contributos" da concelhia e da distrital do CDS. "Não estamos a levar esta negociação a nível nacional sem dar contas às estruturas", insiste.

 

Distrital do PSD Lisboa desvaloriza "tensões normais" 

À SÁBADO, o líder da distrital do PSD Lisboa reconhece o nervosismo nas estruturas locais, mas desvaloriza-o. "São tensões normais num processo autárquico", afirma Ângelo Pereira, que assegura que "todas as sensibilidades" estão representadas na estrutura montada em torno da candidatura de Carlos Moedas.

"Há um envolvimento grande da nacional, que é positivo, há o envolvimento da distrital e a concelhia está integrada na campanha", resume Pereira, sublinhando a "colaboração" que tem existido entre todos. "Estamos todos a trabalhar em conjunto, estamos todos na mesma sede".

Para Ângelo Pereira, a própria presença de Hugo Carvalho na campanha é um sinal da mobilização em torno de Carlos Moedas e não de uma interferência. "Hugo Carvalho é deputado e foi presidente do conselho nacional de juventude, tem uma rede de contactos que é importante e deve ser usada. Está disponível para ajudar, é uma mais-valia", afirma o líder da distrital social-democrata.

Contactado pela SÁBADO, Luís Newton não esteve disponível para fazer qualquer comentário.

De resto, na campanha de Carlos Moedas o mal-estar em torno de quem está com o candidato também é desvalorizado. "As coisas estão a funcionar", assegura-se, dando nota da forma como Ângelo Pereira e Luís Newton se têm mostrado disponíveis para ajudar. Mas não se põe de parte a hipótese de uma bomba atómica: "Se for preciso, a direção nacional avoca as listas e está feito".

Segundo os estatutos do PSD, caberá à concelhia e à distrital aprovar as listas das candidaturas às autárquicas, mas entre os próximos de Moedas há a convicção de que não há sequer a hipótese de isso levar a uma impugnação das listas caso elas sejam feitas à margem destas estruturas. "Quem tem o poder de entregar as listas é a presidência do partido. Só há um NIF, que é o do PSD. O PSD Lisboa não existe em termos legais. Por isso é que as dívidas caem na sede, só há um número de contribuinte".

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