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Morreu Celeste Caeiro, que tornou o cravo o símbolo de Abril

Diogo Barreto 15 de novembro de 2024 às 15:03

Celeste tinha 40 anos no dia da revolução que ajudou a nomear. Foi ela que deu o primeiro cravo a um soldado naquela quinta-feira de 1974.

Celeste Caeiro, a mulher que começou a distribuir cravos pelos militares no 25 de Abril de 1974, morreu esta sexta-feira, aos 91 anos de idade. 

Celeste recria um dos momentos mais famosos do 25 de Abril e volta a dar cravos às espingardas

A história de Celeste Caeiro ficou para sempre ligada à da Revolução dos Cravos por acidente. Quando saiu à rua naquela quinta-feira, Celeste achava que ia para o seu trabalho de todos os dias, como empregada de mesa no restaurante Sir, na Rua Braancamp, junto ao Marquês de Pombal, em Lisboa. Era o primeiro aniversário do estabelecimento e o proprietário tinha decidido comprar molhos de cravos para oferecer aos clientes.

Chegada à Rua Braancamp, Celeste encontrou o restaurante fechado e o patrão ordenou aos trabalhadores que fossem para casa, já que estava a decorrer uma revolução. No entanto pediu aos funcionários que levassem as flores para casa para que não murchassem, até porque não sabia quando voltaria a abrir o restaurante. Celeste pegou num molho de cravos e começou a dirigir-se para casa. Desceu até ao Rossio e ia a caminho do Chiado - onde morava -, passando pela Rua do Carmo. Aí encontrou um grupo de soldados em cima de um tanque, sendo que um dos militares lhe cravou um cigarro. Mas Celeste não fumava e a tabacaria estava fechada. A única coisa que tinha para dar eram as flores vermelhas que trouxera do restaurante.

O soldado agradeceu a flor e colocou-a no cano da espingarda. Os colegas, divertidos com aquela situação, imitaram-no. A imagem espalhou-se e as floristas da Baixa começaram a distribuir cravos por todos os soldados. A maioria vermelha, alguns brancos. A revolução ficou conhecida como a Revolução dos Cravos e Celeste como "a Celeste dos Cravos". 

Em 1988, Celeste perdeu a casa no incêndio dos armazéns do Chiado. Atualmente vivia em casa da filha e da neta, em Alcobaça, Leiria, com uma reforma insuficiente para comprar um aparelho auditivo ou uma cadeira de rodas. Antes do 25 de Abril deste ano a neta confessava à Lusa que a avó estava debilitada, mas que queria descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para celebrar os 50 anos da revolução. E no dia esteve lá. 

Celeste morreu nos ano em que se comemoram 50 anos da revolução que ajudou a eternizar com um simples gesto: levar as flores para não murcharem. 

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