Secções
Entrar

Marques Mendes desafia Parlamento a criar comissão de ética

10 de janeiro de 2019 às 12:48

O ex-líder do PSD defendeu ainda escrutínio parlamentar antes de os membros escolhidos para o Governo entrarem em funções.

O ex-líder do PSD Marques Mendes defendeu hoje a criação de uma nova comissão de ética na Assembleia da República, composta por 'senadores', e um escrutínio parlamentar antes de os membros escolhidos para o Governo entrarem em funções.

Numa intervenção na Convenção Europa e Liberdade, num painel dedicado ao sistema político, Marques Mendes propôs quatro medidas para combater o chamou de "degradação da qualidade política e parlamentar".

"O nosso parlamento carece de reformas que lhe deem maior dinâmica, credibilidade e transparência para terminar com alçapões, alcavalas, habilidades administrativas e financeiras que só servem para gerar suspeitas", defendeu Marques Mendes.

Como primeira medida, o antigo líder do PSD defendeu a criação de uma nova comissão de ética parlamentar, considerando que a atual que existe, composta por deputados e sem aplicação de sanções, configura "uma lacuna" na Assembleia da República.

"Criar uma comissão de ética é urgente, mas não chega criá-la é preciso que tenha uma composição diferente das restantes, menos partidária e mais senatorial. Por exemplo, pode ser composta por ex-presidentes ou e ex-'vices' do parlamento ou ex-provedores de justiça", defendeu.

Por outro lado, Marques Mendes defendeu "uma solução completamente nova" para aumentar o escrutínio parlamentar de governantes.

"Os membros do Governo, antes de assumirem plenitude de funções, deveriam passar a submeter-se a um escrutínio parlamentar para averiguar incompatibilidades, impedimentos ou conflito de interesses", afirmou, explicando que seria o parlamento a fazer 'a priori' o que faz hoje a imprensa 'a posteriori', que é investigar o passado de quem quer assumir funções executivas.

Melhorar as remunerações dos titulares de cargos políticos, "sem vencimentos milionários", e uma reforma eleitoral que introduza círculos uninominais para que os partidos escolham os seus candidatos em função da qualidade e não da fidelidade partidária foram as outras duas medidas defendidas.

"Só um choque vindo de fora para dentro obrigará os partidos a mudar, sendo mais exigentes na escolha do seu pessoal político", defendeu, considerando que "o pior será nada fazer".

Marques Mendes elogiou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por, na sua mensagem de Ano Novo, ter colocado na agenda a questão da regeneração e reforma do sistema político, considerando que esta reforma "nunca foi tão necessária".

"Tudo o que se tem passado ultimamente na Assembleia da República é assustadoramente deprimente, mancha a imagem do parlamento, fragiliza a democracia, alimenta populismos", criticou.

O antigo líder social-democrata apontou ainda "uma perda acentuada de valores éticos na política", salientando que falsificar currículos ou fazer licenciaturas com "alcavalas" podem não ser ilegais mas deveriam ser censuráveis eticamente.

O antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro, que prometeu falar muito "em breve" sobre o futuro do PSD, esteve presente na sessão de abertura da Convenção -- na qual será orador na sexta-feira -, mas escusou-se a prestar declarações aos jornalistas à entrada e saiu quando começou o primeiro painel.

Também Mendes se escusou a falar aos jornalistas no final sobre a situação interna do PSD, depois de notícias que dão conta de movimentações de algumas distritais para convocar um Conselho Nacional extraordinário para destituir a direção de Rui Rio.

A reforma do sistema eleitoral foi também defendida por outros dos oradores da Convenção como o ex-ministro de um Governo PS Luís Campos e Cunha ou o antigo líder do CDS-PP José Ribeiro e Castro.

Campos e Cunha preferia círculos mais pequenos a uninominais e sugeriu que os votos em branco também deveriam 'eleger', traduzindo-se em cadeiras vazias no parlamento.

Para o ex-ministro, o regresso de um financiamento essencialmente público aos partidos e a melhoria dos incentivos aos políticos são outros aspetos essenciais: "Se aceitamos que o treinador do Benfica ganhe dois milhões de euros, porque é que devemos achar bem que o primeiro-ministro ganhe o que ganha?".

O antigo presidente do CDS-PP José Ribeiro e Castro, que entregará em breve no parlamento uma petição que defende a introdução de círculos uninominais, considerou que esta reforma poderia reduzir a abstenção "para níveis abaixo dos 30%".

Pedro Lomba, que foi secretário de Estado no anterior Governo PSD/CDS-PP, foi o mais crítico quanto à disponibilidade dos partidos de introduzir reformas profundas no sistema político e sugeriu que as mudanças podem passar por medidas de reforço da credibilidade da classe política, como um novo estatuto dos titulares de cargos políticos e mecanismos de controlo dos currículos.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela