Filipe VI recorda "projecto em comum com 500 anos"
Filipe VI e Letizia de Espanha foram recebidos num almoço oferecido pela Câmara Municipal do Porto no Palácio da Bolsa. Cooperação entre os dois países foi o centro dos discursos, onde não faltaram elogios entre "vizinhos"
O Presidente da República afastou-se do protocolo para expressar o que lhe ia no coração, sublinhando ser o mesmo "que vai no coração de todos os portugueses, uma admiração e um carinho antigos" pelos reis de Espanha.
No discurso que proferiu no almoço oferecido aos reis de Espanha no Palácio da Bolsa, no Porto, o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, começou por dizer que "Espanha é um caso especial para Portugal".
"Por isso mesmo, o Presidente da República Portuguesa se afasta da regra geral do protocolo que impõe intervenções escritas para dizer o que lhe vai no coração. E o que vai no coração do Presidente da República Portuguesa é o que vai no coração de todos os portugueses, uma admiração e um carinho antigos por vossas majestades. Testemunhado uma vez mais desta feita no Porto e ontem [segunda-feira] à noite em Guimarães, mas ontem [segunda-feira] e hoje no Porto de uma forma tão calorosa que bem se pode dizer que foi acertada a escolha de iniciar por uma vez uma visita de Estado pelo Porto", afirmou o Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou que o país vizinho é o "principal investidor em Portugal e o principal destino" das exportações nacionais, o que frisou ser "uma interdependência e uma inter-relação económica únicas que a União Europeia reconhece como há pouco reconheceu o empenho no rigor financeiro e no crescimento económico".
"Como não dizer da gratidão dos dois chefes de Estado e em particular do Presidente da República Portuguesa para com as empresárias e os empresários portuguesas e espanholas, espanhóis e portugueses, que conjuntamente com os trabalhadores das suas empresas todos os dias constroem um futuro conjunto, um futuro de progresso e de justiça social", questionou o Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa declarou mais uma vez que é "possível ir mais longe" nas relações económicas, nas relações entre os dois Estados e entre os dois povos, realçando que os reis de Espanha, "com esta visita, contribuem de forma decisiva para esse desafio conjunto", algo que "Portugal não esquece e Portugal agradece".
Filipe VI destaca hipóteses de cooperação
O rei de Espanha, Filipe VI, aproveitou o discurso para destacar as possibilidades de cooperação empresarial entre companhias portuguesas e espanholas em novos mercados, ligados por línguas e culturas próximas. E elogiou o "esforço, a tenacidade e o sacrifício" feitos que permitem agora "começar a vislumbrar o fim da crise económica".
"Queria também referir as oportunidades que, num mundo globalizado, se abrem às empresas dos nossos países para cooperar em mercados terceiros. As nossas empresas devem aproveitar, como já fazem, todas as oportunidades que oferecem as regiões do mundo que nos são próximas pela língua e pela cultura e onde temos uma longa experiência. Evidentemente, sabemos que a Ibero-américa é assim e também países africanos de língua portuguesa, regiões nas quais as possibilidades de cooperar continuam a ser imensas", declarou Filipe VI.
O rei de Espanha, recebido com gritos de "viva o rei" e "viva a monarquia" por alguns populares que os esperavam à chegada ao Palácio da Bolsa, enalteceu o que viu na visita feita ao Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto e lembrou que há um horizonte comum "muito positivo no futuro, não isento de riscos, evidentemente".
"Mas há um símbolo de história nos próximos anos, que celebraremos conjuntamente, que são os 500 anos desse projecto em comum de [Fernão de] Magalhães e [Juan Sebastián] Elcano", em 2019, recordou o rei, perante um Salão Árabe onde se encontravam figuras como o bispo do Porto, o antigo chairman da Caixa Geral de Depósitos, Álvaro Nascimento, ou o eurodeputado Paulo Rangel.
"Resta muito para navegar"
Anfitrião do almoço, o presidente da Câmara do Porto destacou o "espaço económico, social e institucional" que Portugal e Espanha partilham, apelando ao "reforço do relacionamento" empresarial bilateral através da busca de "marcas comuns" e de uma "visão estratégica integrada".
Moreira, que lembrou o passado de velejadores de Portugal e Espanha e a diáspora de ambos ao "dar ao mundo novos mundo", apelou ainda que os dois países descubram juntos, "contra ventos e marés", o "mundo novo" que disse sempre existir.
"Temos um espaço económico, social e institucional cada vez mais integrado entre Portugal e Espanha. Temos, ainda assim, muitas oportunidades para reformar o nosso relacionamento bilateral no âmbito empresarial. Urge encontrar marcas comuns e uma visão estratégica integrada, que potencie a investigação e o desenvolvimento", afirmou o autarca.
Segundo explanou, "é indispensável intensificar" a "cooperação entre as empresas individuais", "através de fluxos de comércio, investimento e turismo, projectos conjuntos, parcerias de internacionalização", entre outras vertentes.
O autarca, que lembrou as relações económicas entre os dois países peninsulares, como o peso das trocas comerciais entre ambos, destacou ainda que entre os dois existe uma "base de cooperação impar". "Partilhamos os mesmos referenciais. Une-nos uma vocação universalista e humanista. Exploradora e inclusiva", disse.
"Hoje, pode não haver novos mares para descobrir, porque se houvesse trataríamos de o fazer. Mas resta muito para navegar, a nós povos que temos a irrequietude dos eternos navegantes. Há sempre um mundo novo. E não me levarão a mal se vos propuser que, contra ventos e marés, sejamos capazes de o descobrir a cada dia, e que tenhamos a clarividência de o fazer juntos", disse.
Os reis de Espanha iniciaram, na segunda-feira, no Porto uma visita a Portugal, que já os levou a Guimarães e vai levar a Lisboa esta tarde, onde Filipe VI discursará na Assembleia da República na quarta-feira.
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