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Debate. O yin Seguro e o yang Marques Mendes

Marco Alves 03 de dezembro de 2025 às 22:41

Para melhorar o país propõem energicamente pactos e fóruns. Reconhecem que há muito mais que os une do que o que os separa.

Em momentos diferentes do debate, os candidatos e até o moderador concluíram que António José Seguro e Marques Mendes são muitos semelhantes. Mendes falou em “moderação, democracia e experiência” em comum. Seguro só foi um pouco mais longe porque disse que um é de centro-esquerda (ele) e outro é de centro-direita. Seguro acha que há demasiada direita no poder em todos os lados e é preciso que ele seja eleito para dar “equilíbrio” ao sistema. Mendes diz que quando Seguro fez parte de um governo do PS (Guterres) na mesma altura de um presidente do PS (Sampaio) não se queixou.
A marcarem o mesmo território e eleitorado, preocuparam-se em falar dos mesmos temas que o outro se lembrou de falar antes. Estão ambos energicamente contra a falta de explicações sobre a demora na Justiça (a propósito do do dia, as escutas a António Costa no processo Influencer, ainda que Seguro tenha marcado pontos porque lembrou também o caso do “cartel da banca que foi condenado em dois momentos a pagar 225 milhões de euros, mas não pagou, porque prescreveu”). Mendes falou em "pactos" para a Justiça, Seguro preferiu começar por “uma reforma na área administrativa e fiscal”. Estão de acordo em não dar posse a um Governo do Chega que tenha medidas inconstitucionais. Discordam ligeiramente sobre o pacote laboral. Pontualmente, um ataque ao adversário. Primeiro, o de Seguro: “A culpa não pode morrer solteira. Marques Mendes diz que é muito interventivo; é membro do Conselho de Estado há 15 anos, podia ter aconselhado os presidentes da República a fazerem esse pacto na justiça. Porque não o fez?”. Mendes, lembrou os socialistas a braços com a Justiça: “Acho que há escutas a mais, mas não caio na tentação de alguns de as reduzir dramaticamente. Se não houvesse escutas, José Sócrates não teria a investigação que teve e Armando Vara não teria a condenação que teve. As escutas são importantíssimas para o combate à corrupção.” Seguro, em modo yin, esteve genericamente sério e cerebral. O yang Mendes esteve enérgico e de olhos nervosos, constantemente prometendo ser muito "ativo". Destaques do debate KO: António José Seguro não tem jeito – nem feitio – para ataques. A dada altura, quando se falava de corrupção, disse que o país deveria ter avançado em algumas áreas e deu como exemplo “os processos de privatização”. Virando-se para Marques Mendes, disse-lhe, timidamente, que “o sotôr esteve como consultor nalgumas dessas empresas”. Não especificou ao que se estava a referir e Marques Mendes, naturalmente, não perguntou. Depois, deu o exemplo do processo de privatização da TAP, relembrando que na altura (governo de Passos Coelho e Seguro como líder do PS) defendeu que “devia haver um processo anticorrupção”, “mas o governo do doutor Marques Mendes fez ouvidos moucos”. Este não deixou passar: “Não consigo perceber. Não estive em nenhum governo que privatizasse a TAP, foi o de Passos Coelho”. Seguro teve de corrigir que era “o governo do seu partido”, uma resposta tão fraca como fora o ataque. “Fez bem em corrigir”, concluiu Marques Mendes. “Essa insinuação não lhe fica bem”. Embaraço: Depois de António José Seguro ter dito que é um candidato de centro-esquerda, associando isso a um pendor mais social, Marques Mendes quis responder dizendo que ia avançar forte nessa área, destacando “o combate à pobreza”. No seu estilo discursivo, que aprimorou no comentário televisivo, elencou “três pontos”. O primeiro é “um fórum anual” dedicado à pobreza, depois uma “recomendação” aos partidos para que alargassem os vistos gold a projetos sociais e finalmente a promessa de que terá mais assessores sociais do que assessores políticos. Os pobres de Portugal rejubilaram.
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