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Arco do Cego é o primeiro bairro dedicado ao peão

28 de junho de 2017 às 15:04

A requalificação do bairro do Arco do Cego deixou os moradores apreensivos

A requalificação do bairro do Arco do Cego, em Lisboa, permitiu ali criar a primeira zona de coexistência da cidade com esta dimensão, estipulando uma velocidade de 20 quilómetros/hora para dar prioridade ao peão, mas os moradores estão apreensivos.

"A grande inovação é que o carro deixa de ser o elemento dominante e são os utilizadores vulneráveis, como peão e o utilizar de bicicleta, que passam a ser os utilizadores principais, tendo direito de passagem em qualquer momento, [...] devendo o carro abrandar ou mesmo parar para dar passagem", explicou João Marrano, um dos responsáveis pelo projecto de requalificação.

Falando à agência Lusa no final de uma visita ao bairro, o arquitecto indicou que, para tal, foram adoptadas medidas como a "circulação máxima de velocidade limitada a 20 quilómetros/hora", a alteração dos perfis dos passeios e a eliminação de lancis e ainda a colocação de raios de curvatura que obrigam os carros a abrandar.

Ao mesmo tempo, a autarquia tentou "minimizar a informação", apostando nas marcas rodoviárias em detrimento dos sinais verticais, que passaram de 396 para 183.

"Infelizmente, continuamos a ter de insistir nalgumas zonas com pilaretes", confessou.

Outro dos aspectos que se manteve foi a existência de passadeiras, mas é um elemento temporário, "para criar um momento de habituação, em que os automóveis começam a baixar a velocidade e a circular com mais cuidado".

"Depois privilegiamos o atravessamento das pessoas [...] em qualquer momento", assinalou João Marrano.

Retirados foram 70 lugares de estacionamento, que passaram de 763 para 693, porque estavam em cima de zonas de passadeira ou dificultavam a passagem de veículos de emergência.

De acordo com João Marrano, existem outras zonas de coexistência na cidade, mas a diferença é que dizem apenas respeito a troços, não ao bairro.

Também presente na visita, a directora municipal de Mobilidade e Transporte, Fátima Madureira, acrescentou que a intervenção permitiu criar dois sentidos em ruas onde anteriormente só existia um, como as ruas Xavier Cordeiro e Brito Aranha.

"São as zonas limites, o que possibilita atravessar o bairro sem entrar", precisou, lembrando que o Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre leva muitos carros àquela parte da freguesia do Areeiro.

Inicialmente, esta era para ser só uma obra de repavimentação, que duraria seis meses e custaria 450 mil euros.

Contudo, os trabalhos, iniciados em Outubro de 2015 e que só terminaram no final do ano passado, acabaram por custar 1,6 milhões de euros.

"Chegámos à conclusão que era uma pena fazer uma intervenção num bairro desta ordem sem actuar a outros níveis, precisamente porque tínhamos muitas reclamações [dos moradores] por causa [...] das viaturas que às vezes colocavam em perigo a circulação, nomeadamente de crianças", justificou.

Ainda assim, os moradores estão preocupados, de acordo com o movimento cívico Vizinhos do Areeiro.

Rui Martins, um dos representantes do movimento, disse à Lusa que a intervenção originou "problemas que não eram esperados", como o "afluxo súbito de veículos" devido à alteração de sentidos de trânsito, a "confusão" gerada pela falta de comunicação e a "sinalética [horizontal] excessiva".

O responsável adiantou que "as velocidades continuam a ser excessivas" devido à inexistência de lombas, sendo "comum ver carros a mais de 50 quilómetros/hora e até a 70 quilómetros/hora às vezes".

Neste bairro, foi ainda implementado um projecto piloto do Regimento de Sapadores Bombeiros para sensibilizar, através de linhas vermelhas e de pictogramas com carros de emergência pintados no piso, os condutores para não estacionarem em locais onde podem pôr o socorro em causa.

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