A história ensina-nos que os horrores da guerra fazem-nos procurar compromissos imperfeitos.
«É terça-feira e das cinzas talvez, amanhã que é quarta-feira haja fogo outra vez. O coração é incapaz de dizer tanto faz. Parte para a guerra com os olhos na paz.» É, curiosamente, na canção de Sérgio Godinho que encontramos uma bússola para os tempos correntes.
Se ainda havia dúvidas sobre a gravidade do realinhamento internacional que estamos a testemunhar, as últimas 24 horas foram especialmente reveladoras. Num impressionante volte-face, os Estados Unidos votaram contra uma resolução da ONU a defender a unidade territorial da Ucrânia. Já o vencedor das eleições alemãs, Friedrich Merz, declarou como prioridade política a "independência" da Europa face aos Estados Unidos, tendo expressado dúvidas se, em junho na cimeira da NATO, ainda falaremos da aliança atlântica como a conhecemos ou de uma capacidade independente de defesa europeia.
Em boa verdade, ambos os cenários de Merz parecem desfasados da realidade. Por muito que não seja bem a mesma coisa, a NATO continuará a existir nos seus atuais moldes por muitos anos. Não se desfaz 76 anos de aliança militar de um dia para o outro, ainda para mais atenta a cooperação entre as forças armadas dos vários países e a presença militar norte-americana em solo europeu. Já a Europa, à mercê dos impulsos egomaníacos de Macron, parece ter dificuldade em se reunir toda, quanto mais decidir em conjunto o que fazer. Mesmo que se consiga reforçar a cooperação estruturada permanente, encomendas de armamento demorarão anos a ser produzidas e um eventual posicionamento dessas capacidades defensivas no flanco leste da Europa será estrategicamente contido, até para não dispensar os Estados Unidos da tarefa que ainda aí desempenham.
A questão imediata não está, portanto, no novo desenho institucional da política de defesa e segurança europeia. Está, sim, concentrada na invasão russa da Ucrânia, que fez ontem 3 anos. Reunidos em Kyiv, os líderes europeus exigiram, nas palavras de António Costa, uma "paz justa, duradoura e compreensiva", negociada com tanto a Ucrânia como a Europa à mesa. Infelizmente, a reunião entre os chefes da diplomacia americana e russa na Arábia Saudita a semana passada, bem como a cedência publicamente assumida por Trump aos termos de Putin, não ajudam a que qualquer negociação tenha um desfecho equilibrado.
A história ensina-nos que os horrores da guerra fazem-nos procurar compromissos imperfeitos. Foi assim com o Tratado de Munique de 1938, também esse negociado sem a presença do país cuja integridade territorial se discutia. O primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, negociou permitir a Hitler invadir os Sudetos, a troco de preservar o resto da Checoslováquia. De pouco serviu, quando no espaço de um ano, as tropas alemãs marchavam sobre Praga e pouco depois, invadiam a Polónia dando início à Segunda Guerra Mundial. Não é preciso ir tão longe. Em 2015, um acordo semelhante em Minsk permitiu à Rússia consolidar a sua ocupação da Crimeia. Deu no que deu. Se agora cedermos, não sabemos se a próxima guerra de Putin será travada novamente por Kyiv ou antes por Tbilisi, Riga ou Tallinn.
Apenas uma vitória da Ucrânia porá cobro à revanche de Putin e garantirá condições duradouras de segurança não só à Ucrânia como a toda a Europa. O desafio maior é sermos consequentes com essa conclusão. A resposta não poderá ser só militar nem apenas limitada ao território da Ucrânia. Hoje as ameaças são híbridas, com novos teatros de operações a surgir no plano comercial, tecnológico, informativo e até demográfico. Veja-se o caso da eleição presidencial romena, anulada por suspeita de interferência russa. Muito além de aumentar os orçamentos de defesa, temos de soar o toque de caixa para defender a sua democracia e prosperidade de forma firme e urgente.
Por outro lado, a Europa não pode fechar-se sobre si mesma enquanto trata dos seus problemas. No plano diplomático, o realinhamento americano tanto pode potenciar a influência da China no Sul Global como pode, pelo separar de águas, abrir novas oportunidades de reaproximação estratégica a esses países. Em antítese às ameaças de Trump sobre o Panamá, Canadá ou Gronelândia, uma política externa verdadeiramente europeia conhecerá tanto maiores ganhos políticos e económicos quanto menos for assente na lei do mais forte e mais no respeito entre povos e no direito internacional.
Evocando Sérgio Godinho, a Europa tem de partir para a guerra com os olhos na paz. Na ordem mundial que sair desta crise, apenas conheceremos paz se a Europa for protagonista por direito próprio e dona do seu próprio futuro.
Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.
O problema começa logo no cenário macroeconómico que o Governo traça. Desde o crescimento do PIB ao défice, não é só o Governo da AD que desmente o otimista programa eleitoral da AD.
Até pode ser bom obrigar os políticos a fazerem reformas, ainda para mais com a instabilidade política em que vivemos. E as ideias vêm lá de fora, e como o que vem lá de fora costuma ter muita consideração, pode ser que tenha também muita razão.
Ventura pode ter tido a sua imagem em cartazes pelo país fora que não engana os eleitores. Os portugueses demonstraram distinguir bem os atos eleitorais.
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O espaço lusófono não se pode resignar a ver uma das suas democracias ser corroída perante a total desatenção da opinião pública e inação da classe política.
O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.