Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
06 de janeiro de 2025 às 12:33

Tirem-me deste filme

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Edição de 5 a 11 de agosto

Com eleições autárquicas em 2025, o entretenimento parece mais focado nas eleições presidenciais de 2026 do que qualquer outro assunto governativo ou eleitoral.

O meu desejo para este ano é que o filme passe a ser diferente daquele que temos assistido por terras lusitanas. Com eleições autárquicas em 2025, o entretenimento parece mais focado nas eleições presidenciais de 2026 do que qualquer outro assunto governativo ou eleitoral. Perante a permanente crise e falhas governativas, desvia-se o assunto, chutando para a dança eleitoral de 2026. Lançaram-se candidatos todos os dias, atira-se o isco para todo o lado, toda a gente deve avançar. Não se entende nem se encontra razões para nenhuma dessas pessoas ser uma mulher, mas acaba por ser mais um sintoma da falta de pessoas progressistas na nossa comunicação social. Por outro lado, também parece haver a intenção de colocar o Almirante Gouveia e Melo como um dos principais candidatos sem que haja qualquer substrato a sustentar tais afirmações, apenas uma sondagem.

Uma figura militar, sem conhecermos qualquer teor político, galvanizou com o sucesso do processo de vacinação, processo este feito num dos países com a maior taxa de vacinação do mundo, a um povo que na sua grande maioria acredita na ciência e nas vacinas. Mais, o Almirante não acompanhou todo o processo, ficando numa segunda fase da vacinação a chefia da organização a cargo de outro oficial militar, que continuou a ter os bons resultados do seu antecessor. É este o sucesso de um super-candidato? Mal podemos esperar pelo agora civil Gouveia e Melo para começarmos a conhecer o seu pensamento, o seu discurso e a sua visão para Portugal enquanto Chefe de Estado. Das poucas mensagens que comunicou, nomeadamente sobre a guerra e o papel dos portugueses na mesma, a única consequência foi antagonizar sobretudo os jovens: não só pela questão de participar em guerras armadas, ideia desprezada pela maioria dos jovens, mas também pela forma como quer pagar aos jovens, através de desafios e superação. Isto tudo, enquanto atravessamos uma das maiores crises habitacionais do passado recente, com uma grande taxa de emigração entre as idades mais jovens. Mais uma vez, quem viu um perfil presidenciável neste civil? A quem interessa que ele seja presidenciável? Certamente iremos perceber melhor nos próximos meses quando forem conhecidos alguns pensamentos de Gouveia e Melo.

Apesar de 2026 ainda ser uma miragem, os vários candidatos anunciados ou quase anunciados acabam por ser os mesmos com as mesmas mensagens, com a excepção do almirante. Todos com a característica de representar partidos com figuras unipessoais, repetindo o candidato sucessivamente eleição após eleição. Na passada semana assistimos ao primeiro debate entre candidatos à presidência, apesar de alguns destes ainda estarem em reflexão. Joana Amaral Dias, André Pestana e Tim Vieira. 3 nomes improváveis de se encontrarem para discutir o país. O debate correu da forma como se previa, sem qualquer novidade acerca do pensamento destes 3 candidatos, e a certeza que qualquer um destes 3 não irão ter sucesso perante os seus objetivos.

E se os debates são sobre 2026, há um grande desafio ainda este ano que não podemos deixar que seja secundário: as eleições autárquicas. E aqui, a esquerda volta a falhar o timing da partida, não apresentando ainda candidatas/os em Lisboa e Porto a 8 meses das eleições, não dando a essa pessoa qualquer tempo para inverter o ciclo político nacional e apresentar as suas ideias. Se em Lisboa Carlos Moedas acaba por ser uma desilusão, a luta pela câmara não é de todo a mais fácil fruto do seu investimento em comunicação e imagem (e unicórnios). Já no Porto, havia e há espaço para uma candidatura ganhar fulgor até ao final do ano e mostrar que a cidade pode ser pensada e organizada de outra maneira ao não haver aproveitando o facto de, até agora, não haver uma candidatura forte e óbvia que assalte a Invicta.

Aquilo que espero ver este ano é um filme novo, que se arrisque no guião e alimenta as esperanças de quem assiste. Para filmes repetidos já temos Hollywood.

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