Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
12 de março de 2025 às 08:21

Os políticos de bancada

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Edição de 5 a 11 de agosto

Quando achamos que já assistimos ao pior, a realidade nos últimos meses prova-nos que conseguimos ainda baixar mais o nível.

No dramático dia de 11 de Março, o país está de volta a uma crise política, gerada pelo próprio Primeiro-Ministro, que arrastou para a lama todo o seu governo e partido. Este governo não cai, ele atira-se mesmo sem paraquedas. Para além das questões óbvias que levam à rejeição da moção de censura (confesso que ainda não entendo bem quem defende Luís Montenegro nesta situação), choca o teatro e o tacticismo político pelo melhor spin para que fique claro quem é que efectivamente tomou a decisão do país voltar a ter eleições. Entre PSD e PS, sem não esquecer a IL, dão sucessivas cambalhotas à retaguarda para ter a certeza que os portugueses sabem que foram todos os outros a provocar estas eleições.

Pois bem, isso não interessa para rigorosamente nada se efetivamente apresentarem e cumprirem com as propostas que tocam nos problemas das pessoas. Algo que ficou pelo caminho e é reconhecido pelas pessoas. As tristes figuras que assistimos na Assembleia da República acerca da moção de confiança proposta pelo governo são lamentáveis para todos aqueles que gostam de seguir a política nacional, e ainda mais para o resto da população. Quando achamos que já assistimos ao pior, a realidade nos últimos meses prova-nos que conseguimos ainda baixar mais o nível.

A nossa classe política é capaz de nos surpreender e na maior partes dos casos não é pela positiva. Não nos trata com o respeito que merecemos. Quando tudo na política se transformou em forma e nas táticas eleitorais, atira-se para o lado os problemas que assombram o dia-a-dia das pessoas. E perde-se objectivamente a razão de estar a realizar serviço público. Pelo bem comum. Pelo nosso país. Quando a ética é secundária, quando a integridade é opcional, quando a responsabilidade das decisões é evitada, temos o resultado visível no dia de ontem. A esperança do eleitorado diminuí, as críticas começam a surgir, mas acima de tudo o desinteresse e a apatia aumentam. Quando temos um Primeiro-Ministro que usa e abusa dos jogos políticos sobre percepções só tem de ser denunciado pelas demais forças políticas.

Montenegro não quer o escrutínio que a sua posição exige e recusou-se esclarecer ou dar informações sobre as suas ações e a sua empresa. Ainda tem a lata de propor alterar uma comissão parlamentar de inquérito em que o visado em questão era ele próprio para não correr riscos reputacionais. Para quem diz não ter nada a esconder, dá-se a muito trabalho, inclusive demitir-se, para não se explicar em relação ao assunto em questão.

O que tudo isto nos mostra é a necessidade urgente de reforçar a transparência e escrutínio da nossa classe política. Infelizmente também coloca a nu toda a falta de ética e de valores presentes nos partidos políticos portugueses. Esta sucessão de crises e escândalos contribuem para a erosão da confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, afastando cada vez mais possível talento para a esfera pública. Se os salários já são baixos, a comunidade também não é melhor.

À incerteza geopolítica mundial, junta-se mais uma incerteza enquanto aguardamos por um novo Parlamento com uma composição que se espera ser em tudo semelhante à do presente. Para além das reformas e renovações necessárias, é preciso também que os futuros eleitos priorizem a reconstrução da confiança pública, focando-se na proteção da democracia no próximo mandato. A resposta está na transparência, na responsabilidade e no projecto político que vá para além da sobrevivência eleitoral. Alguém que consiga restaurar a confiança dos portugueses nas instituições democráticas enquanto tem respostas práticas para os seus problemas.

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