Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
14 de outubro de 2024 às 07:00

Afinal não é para todos

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Edição de 5 a 11 de agosto

Este orçamento de 2025, apresentado pelo PSD, é para quem mesmo? Não é um bom orçamento para a esquerda porque não ataca os principais problemas identificados no país: a habitação, a precariedade laboral, os baixos salários, o SNS e a educação. Não é para a direita porque não propulsiona o crescimento económico do país e falha em não cortar impostos para as grandes empresas com capacidade de investimento estrangeiro.

"Afinal não é para todos", talvez seja a expressão mais usada nos últimos meses. Todas as políticas apresentadas afinal não são para todos. O IRS Jovem proposto inicialmente não contemplava os jovens sem curso superior, o passe ferroviário não servirá as áreas metropolitanas de Porto e Lisboa, o bónus do governo para os bombeiros que combateram os fogos de Setembro, afinal será só para os que estariam escalados. Através da presidente da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior soube-se ainda que a maioria dos estudantes do ensino superior afinal não terá acesso aos cheques-psicólogo devido aos critérios de exclusão. E muitos outros exemplos parecem mostrar que há sempre um truque ou um detalhe que não é comunicado mas que é essencial para fazer parecer uma política pública melhor do que efetivamente é.

Este orçamento de 2025, apresentado pelo PSD, é para quem mesmo? Sabemos por todas as declarações públicas que não serve para nenhuma classe (e partido). Até o próprio PSD Madeira o caracteriza como um "balde de água fria". Não é um bom orçamento para a esquerda porque não ataca os principais problemas identificados no país: a habitação, a precariedade laboral, os baixos salários, o SNS e a educação. Não é para a direita porque não propulsiona o crescimento económico do país e falha em não cortar impostos para as grandes empresas com capacidade de investimento estrangeiro. Não serve os agentes e profissionais culturais que pedem o 1%. Não é para os professores que continuam sem plano para combater a falta de docentes nem para valorizar a sua carreira. Não é para os profissionais de saúde que continuam a não ver as suas pretensões aceites. Não é para os bombeiros sapadores que continuam em luta. Não é para as forças de segurança que estão em negociações com o governo. Não é para a Ciência e Tecnologia, que não resolve o problema da precariedade laboral do sector, nem a falta de aposta na nossa academia. Também não é para o sistema prisional, para gestão florestal ou para o sector agrário e produtivo do país. Não é para a RTP segundo o Conselho de Opinião da RTP, onde apontam a retirada de publicidade como preocupante. Nem para a SIC e canais privados segundo Francisco Balsemão, porque se devia ter ido mais além. Não é para o desporto, porque mais uma vez as verbas iam ser reduzidas. Não é para empresários, porque a asfixia fiscal continua para as pequenas e médias empresas. Não é um orçamento que privilegia a subida de salários, sobretudo os mais inferiores. Quem sobra? Parece que é um bom orçamento para os deputados do PSD, alguns pelo menos.

Mas sabemos algo: segundo o governo, este orçamento é para os jovens, famílias e empresas. Para os jovens que têm salários mais elevados, criando até uma falha fiscal entre os 35 e os 36 anos para o qual ainda não se arranjou resposta. Para o mercado imobiliário continuar a aumentar preços e impossibilitar às pessoas de ter o acesso a habitações dignas a preços justos. Para as famílias, com actualização dos escalões de IRS. E para as empresas, onde se reduz o IRC em 1%, para possibilitar maior competitividade face a outros países da zona Euro. Perante todos os problemas do país, perante todas as reivindicações públicas, como se pode ousar esperar passar um orçamento sem respostas? Como é que este é o documento "irrecusável" que o PSD tem para oferecer ao país?

Quando se tenta agradar a todos, o resultado acaba por ser este. Achamos que no meio é onde está a virtude. O centro democrático, cada vez mais deslocado à sua direita, oferece-nos isto. É tempo de exigir melhor, porque, afinal, este país deve mesmo ser para todos.

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