Estes anos exigem grandes transformações para acelerar a transição energética, repensar a mobilidade e reinventar os métodos de produção.
Depois de todo o alvoroço eleitoral, surgem finalmente os nomes que irão encabeçar os ministérios do novo governo. Desde a saúde à defesa, passando pela habitação e ambiente, novos rostos ganham destaque na esperança de conseguirem aguentar uma legislatura que se avizinha bastante turbulenta.
Para além de todos os conflitos ativos que nos rodeiam além fonteiras, a crise de habitação sem precedentes e a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde, a década 2020-2030 é considerada crucial para o combate às alterações climáticas ao nível europeu. Estes anos exigem grandes transformações para acelerar a transição energética, repensar a mobilidade e reinventar os métodos de produção. Caso os países europeus não assumam essa responsabilidade climática, será muito difícil garantir que o planeta se mantenha abaixo do aumento da temperatura média global de 1.5º Celsius até 2050, tal como previsto no Acordo de Paris. Esta meta torna-se ainda mais ambiciosa ao considerarmos que, neste momento, a temperatura já aumentou cerca de 1.2º Celsius, após 2023 ter sido o ano mais quente da história.
Ao mesmo tempo que lutamos para cumprir estes objetivos, é igualmente necessário criar condições para que o país tenha uma resposta resiliente às múltiplas crises que se avizinham, tal como a seca, quebras de produção na agricultura, subida do nível médio das águas do mar e eventos extremos imprevisíveis que já estão a pôr à prova este jardim à beira-mar plantado. Assim, parece-me quase irónico que no mesmo dia em que a capital do país é asolada por um tornado repentino e cheias intensas, a Ação Climática desapareça do novo Ministério do Ambiente e Energia.
A mudança de nome pode ser considerada por muitos pormenor insignificante, mas demonstra as prioridades governativas que existem. O tornado e as cheias ilustram perfeitamente a necessidade de vermos a ação climática como prioritária para o país, pois a gestão eficaz do meio ambiente e da própria energia, decorrerá da capacidade de sermos resilientes perante a crise climática e não o contrário. A crise climática deveria ser a prioridade central do ministério, sendo a preservação do ambiente e a transição energética apenas duas das múltiplas frentes são necessárias de atacar.
A liderar este ministério temos a professora Maria da Graça Carvalho, eurodeputada e ex-ministra da Ciência e do Ensino Superior. Apesar de saber da sua proximidade com os temas da energia, surpreende-me que alguém com o seu currículo e que está tão próxima das políticas dos restantes países europeus permita que a Ação Climática deixe de estar no nome da sua pasta ministerial. Até porque, olhando para outros países da Europa, vemos que muitos deles, têm a indícios da palavra clima em pelo menos um dos seus ministérios. Tal é o caso da Alemanha (Assuntos Económicos e Ação Climática), dos Países Baixos (Assuntos Económicos e Política Climática), da Dinamarca (Clima, Energia e Serviços Públicos), do Luxemburgo (Ambiente, Clima e Biodiversidade) e da Bélgica (Clima, Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Pacto Verde).
Mais importante que o nome do ministério será a ação que este será capaz de alavancar. Há uma Lei de Bases do Clima por cumprir, com planos de mitigação e adaptação às alterações climáticas por implementar. Há diretivas europeias para serem transcritas e metas para serem alcançadas. Há um distanciamento da sociedade civil que precisa de ser encurtado e uma necessidade gritante de aumentar a literacia climática na população. Há eventos extremos imprevisíveis que precisam de soluções rápidas e eficazes.
Acima de tudo, há um país que precisa urgentemente de respostas para uma crise que tem o potencial de agravar todas as outras e, portanto, deve ser vista como prioritária. O Ministério do Ambiente e Energia terá de ser o principal responsável por trazer este tópico para o centro da agenda política, caso contrário corre o risco de ficar conhecido como ministério sem ação climática.
Depois do verão mais quente de sempre e dos mais recentes tsunamis geopolíticos, que têm comprometido a estabilidade global e os compromissos internacionais para o combate às alterações climáticas, esta organização traz consigo uma vontade redobrada de fazer cumprir os compromissos portugueses quer ao nível nacional e internacional.
Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos.
As imagens apocalípticas dos incêndios parecem, assim, uma premonição do caos que se avizinha, especialmente tendo em conta que acontecem mesmo antes da tomada de posse de Donald Trump, um dos mais notórios promotores do negacionismo climático a nível internacional.
As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo.
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No feudalismo medieval, o feudo era a unidade básica: uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo, em troca de lealdade e serviço. A terra determinava o poder.
E essa gente está carregada de ódio, rancor e desejos de vingança, e não esquecem nem perdoam o medo e a humilhação que aqueles seus familiares (e, em alguns casos, eles próprios, apesar de serem, nessa altura, ainda muito jovens).
A evolução das políticas públicas de energia e ambiente, desde a década de 70, tem sido positiva, especialmente no domínio da agenda e formulação de políticas, atravessando governos diversos, embora muito por efeito da nossa integração europeia.
Cenas de mau-gosto como equiparar fascismo e comunismo, sistemas ditatoriais aspirando a dominação totalitária, «não se faziam em jantares de esquerda»