Portugal precisa de sair mais vezes da ilha para refletir sobre si mesmo, e esse exercício deve ser aplicado em toda a política nacional.
Estando a mais de mil kilómetros de distância de Bruxelas, os portugueses são chamados novamente às urnas para decidir o futuro da Europa para os próximos cinco anos. Perante tempos de incerteza face às múltiplas crises que enfrentamos, cada um dos partidos tem a oportunidade de trazer a debate a sua própria narrativa dando uma resposta aos tempos de incerteza que pairam em Portugal, na Europa e no mundo.
Num cenário marcado pela crise de migração, a ameaça de guerra e a crise climática, vemos da direita à esquerda os candidatos a eurodeputados a posicionarem-se sobre estes temas, desfazendo-se de preconceitos ideológicos que anteriormente os faziam desviar destas questões. Muitas das vezes, refugiando-se em crises iminentes em território nacional, tal como a habitação, saúde ou educação, alguns dos temas iniciais acabavam por ficar inevitavelmente para segundo plano.
Simultaneamente, assistimos a uma elevação do debate político e a uma maior maturidade na troca de ideias sobre políticas públicas e sobre o funcionamento das instituições. Por mais distante que a legislação europeia possa parecer, vários exemplos ilustrativos foram dados acerca impacto real que estas podem ter na vida dos portugueses. Os ataques pessoais foram postos de lado quase como um pacto de não agressão e os argumentos de café ficaram fora da discussão.
Perante isto, e sendo conhecidos muitos dos protagonistas políticos que agora voltam a entrar em cena para se candidatarem a eurodeputados, questionamo-nos sobre esta mudança abrupta no estilo de debate quando falamos da Europa. De facto, o eleitorado torna-se mais exigente, dada a maior confiança que os portugueses depositam nas instituições europeias. Há temas fraturantes e complexos que necessitam de uma resposta coordenada ao nível de vários países e o escrutínio também é maior, pois os candidatos não só estão a representar os seus partidos políticos nacionais, como também os programas das suas famílias políticas europeias.
Neste contexto, podemos traçar um paralelismo com a obra de José Saramago, no Conto da Ilha Desconhecida. Com a premissa de que todo o homem é uma ilha, o autor narra a história de um homem determinado a encontrar uma nova ilha, desafiando as convicções de todos aqueles que lhe diziam que todas as ilhas já tinham sido exploradas. Assim, o autor demonstra a necessidade de olharmos para outras perspetivas para além daquelas que conhecemos para enriquecermos a compreensão que temos sobre nós mesmos. Mesmo que essa necessidade pareça pouco relevante à primeira vista, só explorando territórios desconhecidos e expandindo horizontes é que aumentamos a nossa autoconsciência.
"É necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós" e parece que foi exatamente este efeito que a Europa conseguiu ter nos candidatos portugueses nestas eleições. Ao confrontarem-se com as interdependências que existem dentro da política europeia, também eles foram obrigados a olhar para certos temas com uma perspetiva diferente, mais crítica e ampla do que daquela a que nos habituaram na política nacional e posicionando-se em temas como anteriormente nunca o tinham feito.
Fica assim a esperança que estes temas passem a fazer parte do nosso dia a dia e que o debate político continue com este nível mais elevado. Portugal precisa de sair mais vezes da ilha para refletir sobre si mesmo, e esse exercício deve ser aplicado em toda a política nacional.
Depois do verão mais quente de sempre e dos mais recentes tsunamis geopolíticos, que têm comprometido a estabilidade global e os compromissos internacionais para o combate às alterações climáticas, esta organização traz consigo uma vontade redobrada de fazer cumprir os compromissos portugueses quer ao nível nacional e internacional.
Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos.
As imagens apocalípticas dos incêndios parecem, assim, uma premonição do caos que se avizinha, especialmente tendo em conta que acontecem mesmo antes da tomada de posse de Donald Trump, um dos mais notórios promotores do negacionismo climático a nível internacional.
As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo.
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