Sábado – Pense por si

Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
11 de agosto de 2024 às 10:55

Nova ambição geracional

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Edição de 5 a 11 de agosto

Nos últimos anos, celebrar a juventude tem sido refletir sobre as formas de ultrapassar as circunstâncias de vida de sucessivas gerações que têm enfrentado sucessivas crises. Não será isto um contrassenso?   

A efeméride de 12 de agosto, que assinala o Dia Internacional da Juventude, faz parte do calendário desde o ano 2000, depois da Assembleia Geral das Nações Unidas endossar a recomendação da Conferência Mundial de Ministros responsáveis pela juventude, que ocorreu em Lisboa, em 1998. Porém, a data tem proporcionado poucos festejos. Nos últimos anos, celebrar a juventude tem sido refletir sobre as formas de ultrapassar as circunstâncias de vida de sucessivas gerações que têm enfrentado sucessivas crises. Não será isto um contrassenso?   

Os jovens são dos grupos mais vulneráveis da população e, não raras vezes, dos mais fustigados pelas crises, sejam elas de ordem financeira, de saúde pública ou as guerras. Não esqueço os jovens ucranianos e russos, obrigados a combater num conflito que não queriam que fosse seu, deixando os lares e esmagando os projetos de vida pela dimensão da violência e da instabilidade, nem os jovens que sentem que não têm mais nada a fazer na Venezuela, porque o seu berço hipotecou o seu futuro.  

Ainda há pouco tempo, milhares de jovens viram as suas vidas aprisionadas pela pandemia de covid-19, com consequências nefastas que persistem na sua emancipação. No momento em que escrevo, em Portugal, trabalhamos para estancar a sangria de talento para o exterior. Lutamos por um novo direito – o direito das novas gerações a ficarem no País que as viu nascer, crescer e formar –, fazendo a Europa na vida comum de cada dia, dando aos filhos de Portugal as condições de vida dos congéneres europeus.   

As instituições têm vindo a reconhecer tais fenómenos sociais, económicos e políticos depressivos, lançando objetivos de desenvolvimento sustentável para o milénio, declarando anos europeus ou organizando jornadas mundiais para os jovens. Iniciativas como estas não podem ser meramente simbólicas ou promessas que se assumem como retórica, têm que ser consequentes e tangíveis, e representar uma oportunidade para fazer mais e melhor, num perpétuo voto de esperança.   

A juventude não pode ser resumida a exercícios de entretenimento político que simulam a auscultação das novas gerações. Os jovens estão estafados da politiquice e da chicana política, mas não da política com elevação democrática e do serviço à causa pública. É nesta diferença, e com os jovens no centro da ação política, que vale a pena a defesa de novas ideias, de novas agendas e de novas liberdades.  

Os jovens não aceitam a resignação como regra, o conformismo como padrão e a preservação das conquistas passadas como meta aceitável. Queremos abrir portas a um futuro de possibilidades e de igualdade de oportunidades. Sonhamos com a liberdade que liberta – a liberdade para ambicionar, para viver e para tomar o futuro nas mãos. Ao nosso estilo, com o nosso sentido de futuro e espelhando uma nova ambição geracional, mais empenhada e sustentada.  

Há sentimentos – o desassossego e a insatisfação – que tomam conta de nós, ganham vida própria, crescem e se alimentam da vontade de protagonizar a mudança. Que sejam sentimentos da juventude que contratualizamos para toda a vida e que nos apelem à inquietação que, algumas vezes, se explica pela idade, mas tantas vezes tem razão de ser pela identidade. 

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