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Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
25 de fevereiro de 2024 às 10:00

Decidir o futuro

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Edição de 5 a 11 de agosto

O processo de escolha individual deve ser informado, ponderado e em consciência. As pessoas precisam de distinguir, do seu ponto de vista, o que é relevante e significativo do que é acessório.

Se nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, a afluência às urnas foi de 92%, em 2022, apenas 51% dos portugueses votaram, um sinal inquietante do alastramento de uma crise cívica grave. Como tal, a importância de reverter a erosão da participação eleitoral não pode resumir-se a um discurso de circunstância para entreter os crentes ao longo do dia das eleições.

O voto é um direito e não um privilégio, que nos torna cidadãos de corpo inteiro, com sentido de comunidade e de pertença ao País. O voto é, também, um dever que se impõe à consciência de cada um, enquanto membros de uma sociedade que não vira as costas às escolhas que determinam o nosso futuro comum. O voto permite aos eleitores responsabilizar os seus representantes e criticar com legitimidade as opções por eles tomadas. Para os mais jovens, a participação eleitoral é a ferramenta mais eficaz para devolver alguma justiça intergeracional em países cada vez mais envelhecidos como é Portugal. Para os já nascidos em democracia, o voto é um ato de respeito para com quem lutou muito para vivermos em liberdade. A democracia para continuar a ser defendida tem que ser exercida, por isso, ir às urnas no próximo dia 10 de março é celebrar convictamente os 50 anos do 25 de abril e projetar o seu futuro.

Depois do intenso período de debates televisivos e da imensidão de conteúdos que estes geraram para as redes sociais, inicia-se a campanha eleitoral oficial. Esta será uma parte essencial para convencer os indecisos, que tendem a ter menos orientações ideológicas e partidárias e que procuram, nesta fase, mais informação e propostas concretas para resolver problemas fundamentais. Um estudo realizado depois das eleições legislativas de 2022 revelou que, nos últimos 20 anos, 14% dos inquiridos admitiram que só decidiram o seu voto no dia das eleições e cerca de 25% decidiram em quem votar no mês anterior às eleições.

À medida que o tempo passa, a ansiedade de muitos concidadãos que ainda não têm uma intenção de voto definida aumenta. Nestes tempos, a informação é tanta, tão diversa e tão dispersa que as pessoas passam do perigo de acreditarem em tudo o que é publicado para o risco de não acreditarem em nada do que leem ou veem. Ao suspeitarem de opiniões e conclusões complexas, muitas vezes não sendo claras nem isentas, vão protelando a sua decisão.

O processo de escolha individual deve ser informado, ponderado e em consciência. As pessoas precisam de distinguir, do seu ponto de vista, o que é relevante e significativo do que é acessório. Devem questionar-se sobre os programas eleitorais e as diferentes visões para o País, sobre a liderança, a equipa e os candidatos, sobre a credibilidade, a confiança e a consistência do que é apresentado e, claro, avaliar o estado a que Portugal chegou.

Se estamos bem distantes do Portugal bloqueado que éramos em ditadura, certo é que o País que somos hoje está muito longe do Portugal que desejamos ser amanhã. Vivemos em emergências no acesso aos cuidados de saúde, no direito à habitação digna, na garantia da qualidade da escola pública, no combate ao desemprego jovem, na ambição de crescimento económico. Vemos hipotecado o contrato social de progresso geracional que assegurava que as gerações seguintes viveriam melhor que as gerações que lhes antecederam. Mas não podemos permitir que a resignação e o desalento se apoderem de nós e sei que os jovens recusam que lhes seja traçada a impossibilidade de melhoria das condições de vida.

O futuro depende do dia de hoje e de cada um de nós. O futuro não tem de ser o destino e podemos antecipar muito do que ele nos reserva. Decidir o futuro é confrontarmo-nos com as opções do presente e avaliar os caminhos possíveis. Está em causa uma das eleições mais decisivas em meio século de regime democrático. Não votar é viver da circunstância, padecer do acaso e depositar a confiança no destino de quem se encontra à deriva. Eu recuso que assim seja.

Ana Gabriela Cabilhas é candidata às eleições legislativas pela Aliança Democrática

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