A medida governamental, tomada de maneira súbita durante o encontro dos 20 países mais industrializados e emergentes (G20) que decorreu na semana passada na cidade alemã de Hamburgo, gerou a indignação dos principais sindicatos dos jornalistas alemães, que exigem explicações e admitem avançar com medidas legais.
O principal sindicato dos 'media' (DJV) divulgou que relatou a situação à comissão do parlamento alemão responsável pela área da protecção de dados e liberdade de imprensa e que exigiu explicações sobre tal medida que qualificou como "escandalosa e ilegal".
Um outro sindicato dos jornalistas (DJU) ameaçou avançar com "medidas legais" de forma a clarificar os contornos deste caso.
Durante os trabalhos da cimeira do G20, que decorreram entre sexta-feira e sábado da semana passada, o gabinete de imprensa do governo alemão decidiu retirar as acreditações a 32 jornalistas, alegando na altura razões de segurança, sem dar mais pormenores.
Deste grupo, nove jornalistas chegaram a ser impedidos de entrar no recinto da cimeira e os restantes acabaram por não comparecer.
"Os jornalistas foram informados na sexta-feira em Hamburgo que as suas acreditações já não eram válidas e que não teriam acesso a áreas seguras (...) foram de tal forma surpreendidos que alguns nem conseguiram recuperar as suas mochilas que estavam no centro de imprensa", relatou o diário alemão Süddeutsche Zeitung.
O jornal referiu que os profissionais visados pela medida do governo alemão tinham um aspecto em comum: todos tinham trabalhado no passado em zonas curdas da Turquia. A maior parte são repórteres fotográficos que colaboram com vários 'media' alemães, como a revista Der Spiegel.
A imprensa e a oposição alemãs estão a questionar sobre uma eventual intervenção de serviços de segurança de países estrangeiros, nomeadamente da Turquia, que também integra o G20.
"Quero que o governo alemão nos diga se o processo de admissão dos jornalistas foi objecto de uma qualquer forma de cooperação com a Turquia e a Rússia", declarou o deputado do Partido Verde alemão, Cem Özdemir.
"Entendo que tal situação levante questões", reconheceram o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, e o director do serviço de imprensa do governo, Steffen Seibert, que negou qualquer intervenção estrangeira.
"Para o processo de acreditação, nenhuma autoridade estrangeira exerceu qualquer papel", disse Steffen Seibert, precisando que a elaboração da lista de jornalistas teve em conta informações dos serviços de segurança alemães.