"Vesti algo por cima do pijama e saí a correr para a rua. Já lá havia muita gente." Uma reportagem em Zagreb, cidade a braços com um sismo e uma pandemia.
A capital croata, Zagreb, amanheceu hoje com o pior sismo dos últimos 140 anos, de magnitude 5,4, e numa cidade entre as derrocadas e as paredes rachadas, os croatas ainda recuperam do susto, que chegou em tempos de pandemia.
À semelhança de muitos outros residentes em Zagreb, a croata Gordana Tintor acordou hoje pelas 06:20 com um "som horrível, muito intenso, ameaçador" e com "o candeeiro a mover-se de um lado para o outro". Era um sismo, de magnitude 5,4 na escala de Richter, só semelhante a outro que ocorreu em 1880.
"Vesti algo por cima do pijama e saí a correr para a rua. Já lá havia muita gente", conta à agência Lusa a antiga jornalista, que vive a cerca de 20 minutos a pé do centro de Zagreb, o local mais afetado pelo sismo.
E se Gordana Tintor teve sangue-frio para manter a calma nas três vezes que a terra tremeu na capital croata (pelas 07:01 e pelas 09:39), não foi o caso de alguns dos vizinhos que encontrou na rua, onde era notório o pânico.
"Havia muita gente assustada, algumas jovens mães com filhos pequenos. Uma delas até me abraçou, apesar de estarmos a atravessar um surto de coronavírus e de as autoridades recomendarem distanciamento social", comenta a croata.
Já habituados àquilo que Gordana Tintor chama "a vida nos tempos de coronavírus", numa alusão à obra "O amor nos tempos de cólera" do escritor Gabriel García Márquez, os croatas 'esqueceram' por momentos a pandemia mundial que já infetou centenas de milhares de pessoas em todo o mundo para tentarem perceber o que estava a acontecer.
"Em situações assim não se pensa em mais nada a não ser em nos protegermos o mais rápido possível", diz à Lusa Gordana Tintor, contando que, durante este tempo de reação, tentou alertar, por telefone, alguns amigos sobre o tremor de terra.
Até ao momento, há registo de cerca de 20 feridos, um dos quais em estado grave, e de danos materiais em edifícios e carros, ainda não contabilizados.
"Os edifícios do centro da cidade são um pouco antigos e, por isso, foram bastante afetados: alguns sofreram pequenas derrocadas, outros têm rachas enormes", observa a croata Gordana Tintor.
Entre os edifícios atingidos estão a sede do Governo croata, o parlamento e ainda a centenária catedral da Zagreb, da qual terá caído um pináculo, segundo imagens a circular nas redes sociais.
Dois hospitais foram também afetados, entre os quais uma maternidade, o que levou a que alguns bebes nascessem esta madrugada em sítios improvisados como automóveis, informaram as autoridades.
Gordana Tintor diz à Lusa que, mesmo numa altura de pandemia, os croatas "mostraram a sua solidariedade".
"Tenho uma amiga que tem muitos danos em sua casa e ela vai ficar a dormir na minha, mas também há pessoas a acolher estranhos em sua casa, apesar do Covid-19", indica.
A croata Marijana Mijatovic, natural de uma cidade no litoral do país e a viver em Zagreb, conta à Lusa que estava a dormir quando acordou com "um som como se fosse explosão e tudo começou a tremer".
"Ouvi vidros a cair no apartamento e, como sobrevivi à guerra, pensava que estava a recordar esses momentos em sonho, mas não", explica.
Também Marijana Mijatovic decidiu sair logo para a rua.
"Havia já lá muitas pessoas e fazia muito frio. Comecei a caminhar, completamente perdida, e com um medo que não sentia desde a guerra [da Jugoslávia]", diz a croata à Lusa.
Apesar de não ter tido muitos danos no seu apartamento, Marijana Mijatovic lamenta entre soluços: "A minha querida Zagreb ficou destruída e muitas pessoas não puderam voltar a casa".
O jovem 'designer' de moda Zoran Aragovic, baseado em Zagreb, conta à Lusa que nunca tinha "presenciado um terremoto tão forte".
"Estava a dormir quando começou e, depois de algumas repetições, decidi empacotar as minhas coisas e rumar à minha casa de fim de semana, nos subúrbios de Zagreb, onde me sinto mais seguro após o terramoto e isolado do vírus", precisa.
O português Hugo Cavaleiro vive na cidade croata de Varazdin, a cerca de 80 quilómetros de Zagreb, com a mulher, Amalija Koren Cavaleiro, e também aí o sismo foi sentido.
"Hoje acordei por volta das 06:20 com um abalo sísmico. Ouvi os móveis a abanar e foi esse barulho, juntamente com toda a estrutura da casa a mover-se, que me acordou", explica à Lusa.
A reação do jovem casal foi tentar proteger-se na ombreira de uma porta.
"Como vivemos a alguns quilómetros da capital, o abalo não teve as consequências que teve em Zagreb e arredores, mais próximo do epicentro", adianta.
Num país que, como todos os outros europeus, luta contra uma pandemia -- que já infetou 254 pessoas e causou uma morte na Croácia --, o sentimento é ainda de incredulidade, e de tentar à regressar à nova normalidade, de confinamento e distanciamento social, sem saber ainda muito bem como Zagreb vai amanhecer na segunda-feira, após os destroços.
Croatas ainda recuperam de susto causado pelo pior sismo dos últimos 140 anos
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