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Arábia Saudita acusada de modificar texto oficial das negociações da COP29

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 23 de novembro de 2024 às 16:54
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Em causa está um documento distribuídos pela presidência do Azerbaijão sobre o programa de trabalho para uma transição justa (JTWP) que terá sido alterado por Basel Alsubaity, membro do Ministério da Energia saudita.

Um delegado da Arábia Saudita foi acusado de fazer alterações diretas a um texto oficial antes das negociações durante a COP29.

Por norma a presidência da COP, que é ocupada por diferentes países tendo em conta a edição, faz circular os documentos necessários para as negociações por todos os países através de documentos PDF não editáveis antes de serem discutidos.

No entanto este sábado foi distribuído um documento pela presidência do Azerbaijão sobre o programa de trabalho para uma transição justa (JTWP), que pretende ditar a forma como os países podem desenvolver um futuro mais limpo ao mesmo tempo que reduzem as desigualdades, com algumas diferenças quando comparado com a primeira versão enviada.

Rafiq Maqbool/AP

Em dois casos o documento mostra que as edições foram feitas diretamente por Basel Alsubaity, membro do Ministério da Energia saudita, quanto os outros países referiram ao The Guardian que não tiveram acesso a uma versão editável.

A Arábia Saudita é um país conhecido por ser rico em petróleo e considerado por muitos ativistas como um estado que pretende moldar as negociações e limitar os avanços alcançados nas cúpulas climáticas da ONU para reduzir a utilização de combustíveis fósseis.

Uma das mudanças realizadas foi a exclusão de uma secção que onde era expresso o objetivo de "incentivar as partes a considerarem caminhos de transição justos no desenvolvimento e implementação de NDCs, NAPs e LT-LEDs que estejam alinhados com o resultado do primeiro balanço global e disposições relevantes do acordo do país". NDCs são contribuições nacionalmente determinadas, NAPs são planos nacionais de adaptação e as LT-LEDs são estratégias de desenvolvimento de baixa emissão de longo prazo.

Catherine Abreu, diretora do International Climate Politics Hub, considerou que "dar a uma parte acesso de edição, e uma parte conhecida pelo seu objetivo de reverter o acordo global histórico feito no ano passado para a transição de combustíveis fósseis para energia renovável e eficiência energética, sugere uma preocupante falta de independência e objetividade, e claramente contraria tanto o espírito quanto as regras deste processo".

Em 2023 um relatório da Climate Social Science Network já tinha concluído: "Uma nação teve um papel descomunal em influenciar o progresso nas negociações climáticas globais, ano após ano: a Arábia Saudita. A gigante dos combustíveis fósseis tem um histórico de 30 anos de obstrução e atraso, protegendo o seu setor nacional de petróleo e gás e procurado garantir que as negociações climáticas da ONU alcancem o mínimo possível, o mais lentamente possível".

Esta é mais uma polémica que marca a COP29 depois de esta manhã a Aliança dos Pequenos Estados Insulares e os Países Menos Desenvolvidos terem abandonado uma reunião por considerarem que não estavam a ser ouvidos ou considerados pela presidência.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, defendeu que está a decorrer "um jogo de poder geopolítico por alguns estados produtores de combustíveis fósseis". A ministra garantiu ainda: "Não permitiremos que os mais vulneráveis, especialmente os pequenos estados insulares, sejam enganados pelos poucos ricos emissores de combustíveis fósseis que têm apoio, infelizmente, do presidente [da COP29]".

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