Síria. Confrontos entre forças do governo e apoiantes de Assad fazem mais de mil mortos
Violência começou na quinta-feira, sobretudo na zona costeira do país. Há milhares de pessoas sem acesso a água e eletricidade.
São já mais de mil as vítimas mortais resultantes dos últimos dias de confrontos entre as forças de segurança sírias, do novo governo, e as milícias apoiantes do presidente deposto Bashar Al-Assad, avançou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
As tensões começaram a aumentar depois do ataque de quinta-feira, perto da cidade portuária de Jableh, ter reaberto as feridas deixadas por 13 anos de guerra civil e trazido de volta a violência, que parecia estar adormecida desde dezembro, altura em que o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) derrubou o regime de Assad.
Nestes últimos dias os confrontos multiplicaram-se, sobretudo na zona costeira do país, e atingiram os mil mortos, deixando também milhares de pessoas sem acesso a água e eletricidade. A grande maioria das vítimas são civis mortos no meio dos tiroteios. Há ainda o registo de 125 mortos entre os membros das forças do governo e 148 entre os militantes de Al-Assad.
A Campanha Síria e a Rede Síria pelos Direitos Humanos denunciaram também que tanto as forças de segurança quanto as milícias pró-Assad estão a "realizar execuções em massa e assassinatos sistemáticos", "por vingança". O governo de Ahamd Al-Sharra referiu que a violência generalizada é resultado de "ações individuais" e defendeu que as forças de segurança estão apenas a responder aos homens armados leais ao antigo governo.
Na realidade, apesar de o regime de 50 anos da dinastia Assad ter caído em dezembro, e da aparente vontade de democratização do país por parte dos novos líderes que referiram que o futuro político deve incluir e representar todas as comunidades sírias, os ataques continuaram de forma mais discreta e numa emboscada os alauitas pró-Assad conseguiram tomar Qardaha, a cidade natal de Assad.
No domingo, o porta-voz do Ministério da Defesa, Coronel Hassan Abdel-Ghani, afirmou que as forças de segurança conseguiram restaurar o controlo da região e vão continuar a perseguir os líderes da insurreição.
De acordo com o jornal sírio Al Watan, as forças de segurança prenderam várias pessoas, incluindo os responsáveis pela execução de um homem idoso.
O atual governo interino é liderado pelos sunitas, no entanto o presidente Ahamd Al-Sharra, antigo líder da HTS, tem garantido que o país fará a transição para um sistema que tenha eleições justas e inclua todos os grupos religiosos. Até ao momento poucos têm sido os desenvolvimentos para que tal aconteça e são cada vez mais os críticos que questionam se realmente haverá uma transição para a democracia.
Al-Sharra tem tentado convencer os Estados Unidos e a Europa a suspender as sanções económicas para que o país possa iniciar a sua recuperação e tirar milhões de sírios da pobreza. Porém, tem encontrado alguma resistência porque o bloco ocidental teme que se a aproximação ocorrer antes da transição de sistema podem estar a abrir as portas a um novo capítulo autocrático.
Também pouco se sabe sobre as capacidades da insurreição alauita, que além de contar com as redes de milícias e de inteligência de Assad, tem na Rússia e no Irão importantes aliados.
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