Secções
Entrar

Síria. Confrontos entre forças do governo e apoiantes de Assad fazem mais de mil mortos

Débora Calheiros Lourenço 10 de março de 2025 às 16:24

Violência começou na quinta-feira, sobretudo na zona costeira do país. Há milhares de pessoas sem acesso a água e eletricidade.

São já mais de mil as vítimas mortais resultantes dos últimos dias de confrontos entre as forças de segurança sírias, do novo governo, e as milícias apoiantes do presidente deposto Bashar Al-Assad, avançou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.  

As tensões começaram a aumentar depois do ataque de quinta-feira, perto da cidade portuária de Jableh, ter reaberto as feridas deixadas por 13 anos de guerra civil e trazido de volta a violência, que parecia estar adormecida desde dezembro, altura em que o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) derrubou o regime de Assad. 

Nestes últimos dias os confrontos multiplicaram-se, sobretudo na zona costeira do país, e atingiram os mil mortos, deixando também milhares de pessoas sem acesso a água e eletricidade. A grande maioria das vítimas são civis mortos no meio dos tiroteios. Há ainda o registo de 125 mortos entre os membros das forças do governo e 148 entre os militantes de Al-Assad. 

A Campanha Síria e a Rede Síria pelos Direitos Humanos denunciaram também que tanto as forças de segurança quanto as milícias pró-Assad estão a "realizar execuções em massa e assassinatos sistemáticos", "por vingança". O governo de Ahamd Al-Sharra referiu que a violência generalizada é resultado de "ações individuais" e defendeu que as forças de segurança estão apenas a responder aos homens armados leais ao antigo governo.

Na realidade, apesar de o regime de 50 anos da dinastia Assad ter caído em dezembro, e da aparente vontade de democratização do país por parte dos novos líderes que referiram que o futuro político deve incluir e representar todas as comunidades sírias, os ataques continuaram de forma mais discreta e numa emboscada os alauitas pró-Assad conseguiram tomar Qardaha, a cidade natal de Assad.  

No domingo, o porta-voz do Ministério da Defesa, Coronel Hassan Abdel-Ghani, afirmou que as forças de segurança conseguiram restaurar o controlo da região e vão continuar a perseguir os líderes da insurreição. 

De acordo com o jornal sírio Al Watan, as forças de segurança prenderam várias pessoas, incluindo os responsáveis pela execução de um homem idoso.

O atual governo interino é liderado pelos sunitas, no entanto o presidente Ahamd Al-Sharra, antigo líder da HTS, tem garantido que o país fará a transição para um sistema que tenha eleições justas e inclua todos os grupos religiosos. Até ao momento poucos têm sido os desenvolvimentos para que tal aconteça e são cada vez mais os críticos que questionam se realmente haverá uma transição para a democracia.

Al-Sharra tem tentado convencer os Estados Unidos e a Europa a suspender as sanções económicas para que o país possa iniciar a sua recuperação e tirar milhões de sírios da pobreza. Porém, tem encontrado alguma resistência porque o bloco ocidental teme que se a aproximação ocorrer antes da transição de sistema podem estar a abrir as portas a um novo capítulo autocrático.

Também pouco se sabe sobre as capacidades da insurreição alauita, que além de contar com as redes de milícias e de inteligência de Assad, tem na Rússia e no Irão importantes aliados.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela