As polémicas mensagens privadas do ministro da Saúde britânico durante a pandemia
As mensagens de WhatsApp publicadas pelo The Telegraph indicam que Matt Hancock rejeitou o conselho de que todos os residentes de lares fizessem testes à covid-19 em abril de 2020 e que gozou com quem ficava confinado em hotéis.
Matt Hancock, atual membro do parlamento britânico e ex-secretário de Estado da Saúde, quebrou o silêncio face à publicação pela jornalista Isabel Oakeshott de mais de cem mil das suas mensagens privadas noThe Telegraph, numa investigação chamada The Lockdown Files.
Na madrugada de dia 1 de março, o ex-secretário de Estado da Saúde referiu que a jornalista teve acesso às mensagens do seu WhatsApp enquanto o par colaborava na escrita de um livro sobre a pandemia. Também na quarta-feira a jornalista tinha avançado que Matt Hancock lhe tinha enviado uma mensagem às 1h20: "Não foi uma mensagem agradável".
Matt Hancock negou o envio dessa mensagem e numa breve declaração feita através de um comunicado no dia 2, partilhou que se encontrava "extremamente desapontado" com a "traição maciça e quebra de confiança por parte de Isabel Oakeshott" de que tinha sido vítima.
Lamentou ainda o "impacto que a divulgação teve sobre muitas pessoas, desde colegas políticos, funcionários públicos e amigos" que defende que "trabalharam para superar a pandemia e salvar vidas".
"Não há absolutamente nenhum caso de interesse público para essa enorme violação. A Isabel e eu trabalhamos juntos há mais de um ano por causa do meu livro, sempre com base no sigilo profissional e num processo aprovado pelo Gabinete. A Isabel repetidamente reiterou a importância da confiança e depois quebrou essa confiança", pode ler-se no comunicado.
O ex-secretário de Estado da Saúde referiu ainda que não pretende "comentar novamente quaisquer histórias ou falsas alegações que Isabel fará". Deixando claro que a questão ficará esclarecida "no local adequado, no inquérito, para que possamos tirar devidamente todas as lições a partir de uma compreensão plena e objetiva do que aconteceu na pandemia e porquê".
Isabel Oakeshott, ex-editora de Política doSunday Times, tem sido questionada sobre se recebeu algum tipo de pagamento do The Telegraphpelas mensagens partilhadas. No entanto tem defendido: "Não me pagaram pelas mensagens. Tenho ajudado oThe Telegraphcom a investigação, é fácil de verificar que tenho escrito histórias para oThe Telegraph".
A jornalista quis esclarecer ainda que esta não se trata de uma questão de dinheiro mas sim de "milhões de pessoas": "Cada um de nós neste país, que foi afetado adversamente pelas decisões catastróficas de bloquear este país repetidamente, muitas vezes com provas frágeis e simplesmente por razões políticas".
As mensagens do WhatsApp publicadas pelo The Telegraphindicam que Matt Hancock rejeitou o conselho de que todos os residentes de lares fizessem testes à covid-19 em abril de 2020, por parte do diretor médico Chris Whitty.
Após rejeitar a indicação referiu numa mensagem a um assessor que esta seria uma medida apenas para "agitar as águas" e introduziu testes obrigatórios para os idosos que regressassem aos lares vindos de hospitais. O então secretário de Estado da Saúde terá ainda referido que o alargamento dos testes nas casas de repouso e lares poderia "atrapalhar" a meta de cem mil testes diários que pretendia atingir.
Nas mesmas mensagens, é revelado que o antigo governante gozou com os confinamentos em hotéis, obrigatórios para quem chegasse de 33 países considerado de risco elevado. "Estamos a dar às famílias grandes as suites e a meter estrelas pop nos quartos pequenos."
Um porta-voz do ex-secretário de Estado afirmou que as mensagens foram "manipuladas" e "criadas para se adequar a uma agenda antibloqueio".
A jornalista já admitiu que quebrou um acordo de não divulgação de informações, mas defende que agiu em nome do interesse público uma vez que pode demorar anos até que o inquérito oficial sobre a pandemia esteja concluído.
O primeiro-ministro Rishi Sunak considerou que o inquérito oficial é o caminho certo para investigar a forma como o governo liderou durante a pandemia e que não se deve trabalhar com "pedaços de informação fragmentados".
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