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Putin: Ocidente está errado se pensa que Rússia não usará armas nucleares

Luana Augusto 05 de junho de 2024 às 22:40

Em entrevista, o presidente russo garantiu ainda que o sistema judicial norte-americano está a tentar prejudicar as chances eleitorais de Donald Trump, sem surtir efeito.

O presidente russo Vladimir Putin disse esta quarta-feira (5) que o Ocidente está errado em assumir que a Rússia nunca vai usar armas nucleares, tendo em conta que a doutrina nuclear do país o permite caso a sua integridade ou soberania territorial sejam ameaçadas. 

Sputnik/Valentina Pevtsova/Pool via REUTERS

"Por alguma razão, o Ocidente acredita que a Rússia nunca as vai usar", afirmou, recordando a doutrina nuclear. "Isto não devia ser encarado de forma leve, superficial", afirmou durante um evento com editores de várias agências noticiosas mundiais. 

Sobre o uso pela Ucrânia de mísseis fornecidos pelos EUA em alvos militares dentro da Rússia, Putin respondeu: "Vamos melhorar os nossos sistemas de defesa aérea e destruí-los." Considerou ainda que o recurso aos mísseis era um caminho para "problemas sérios", mas negou que a Rússia queira atacar um país da NATO - o que forçaria a uma resposta conjunta da Aliança Atlântica e, segundo Putin e Biden, à III Guerra Mundial. 

"Pensam que a Rússia queria atacar a NATO. Enlouqueceram?", afirmou o presidente russo. 

Putin garantiu ainda que à Rússia não importa quem será o próximo presidente dos Estados Unidos, já que provavelmente as eleições não irão alterar nada para o seu país. Durante a entrevista dada no âmbito de um fórum económico que ocorreu em São Petersburgo, garantiu que o sistema judicial norte-americano está claramente a tentar prejudicar as hipóteses eleitorais de Donald Trump, e que a estratégia não estará a funcionar.

"Basicamente, não nos importamos [com quem ganha]. Não acreditamos que o resultado final tenha muito significado. Trabalharemos com qualquer presidente eleito pelo povo americano", disse Vladimir Putin quando questionado pela agência de notícias Reuters sobre se acreditava que o resultado das eleições nos EUA faria diferença a Moscovo. "Eles estão a queimar-se por dentro, o seu estado, o seu sistema político. É óbvio que a acusação de Trump, especialmente em tribunal, por acusações que foram formadas com base em eventos que aconteceram há anos, sem prova direta, está simplesmente a ser usada pelo sistema judicial numa luta política interna."

Apesar de ter chamado o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de político previsível da velha escola, garantiu que não se iria intrometer na política interna norte-americana – algo de que já havia sido acusado anteriormente pelos serviços de inteligência dos EUA. Ainda assim, não deixou de acusar a administração Biden – o maior fornecedor individual de equipamento militar à Ucrânia –  de cometer erros após erros, e de estar a "queimar" o sistema político dos EUA, assim como a liderança global.

Ao mesmo tempo confessou também que a presidência anterior de Donald Trump conseguiu prejudicar ainda mais as relações entre os Estados Unidos e a Rússia. Admite agora que não sabe seria diferente caso o candidato à Casa Branca vença as eleições norte-americanas de novembro.

"Nunca tivemos quaisquer laços especiais com o senhor Trump, mas permanece o facto de que, quando presidente,começou a impor sanções massivas à Rússia, retirou-se do tratado sobre mísseis intermédios e de curto alcance", afirmou Vladimir Putin. "Isto para dizer que [não] acreditamos que depois das eleições algo mudará em relação à Rússia, na política americana. Pensamos que não. Achamos que nada realmente sério irá acontecer."

Mas não descartou uma mudança política, caso Washington começasse a olhar para os seus próprios interesses nacionais. "Ninguém nos Estados Unidos está interessado na Ucrânia. Eles estão interessados na grandeza dos Estados Unidos, que lutam, não pela Ucrânia e pelo povo ucraniano, mas pela sua própria grandeza. Mas se a futura administração mudar o seu vetor de definição de objetivos e perceber o significado da sua existência, do seu trabalho no fortalecimento dos Estados Unidos a partir de dentro, no fortalecimento da economia, das finanças, na construção de boas relações no mundo, então algo pode mudar."

A invasão em grande escala na Ucrânia, que ocorreu a fevereiro de 2022, fez com que os laços entre Moscovo e Washington se tornassem as piores de sempre desde a Crise dos Mísseis de Cuba.

Em 1962, este confronto de apenas 13 dias entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética foi considerado a mais grave tensão entre as duas superpotências, que se enfrentavam durante a Guerra Fria – e o momento quase que ocasionou uma guerra nuclear. 

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