Associação doz que plano "parece ter feito pelos russos".
O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal considerou este sábado à Lusa que o plano de paz apresentado pelos Estados Unidos "é um plano de catástrofe para a Ucrânia" e "parece ter sido feito pelos russos".
Donald Trump deu um prazo a Zelensky para aceitar o acordoEPA
"Durante todo este período, Donald Trump diz que quer fazer a paz e parar a guerra, mas a única coisa que vemos é pressão sobre a Ucrânia e os ucranianos para se renderem", disse Pavlo Sadokha em declarações à Lusa à margem da marcha que assinalou hoje em Lisboa o Holodomor, o genocídio russo sobre os ucranianos, conhecido como 'A Grande Fome', na década de 1930.
"Isto que Trump propõe, ou não, parece que foram os russos a propor, e agora Trump quer obrigar Zelensky a assinar ou então render-se. Não é um plano de paz, é um plano de catástrofe para a Ucrânia, porque ninguém acredita nas garantias da Rússia", afirmou, acrescentando: "Já tivemos garantias da Rússia que foram quebradas e continuamos com esta guerra".
Cerca de 50 ucranianos juntaram-se este sábadpo perto do Campo Mártires da Pátria, no centro de Lisboa, para uma marcha até à igreja ortodoxa ucraniana, a poucos quilómetros, empunhando várias bandeiras e velas para assinalar mais um ano sobre o Holodomor, quando milhões de ucranianos morreram de fome, principalmente na região do Donbass.
"Há 20 anos que a comunidade ucraniana em Portugal e nos outros países do mundo se junta nesta altura para relembrar este período terrível", disse Pavlo Sadokha, explicando que o objetivo era mesmo aniquilar os ucranianos, nomeadamente na região mais próxima da Rússia.
"O objetivo da Grande Fome, como sabemos dos documentos revelados e dos testemunhos vivos recolhidos pelos investigadores, era matar de fome milhões de ucranianos, principalmente no Donbass", disse o representante dos ucranianos, acrescentando que a guerra atual é uma das consequências desse período.
"Os ucranianos morreram principalmente no Donbass, e depois, no lugar deles, Estaline transferiu russos e pessoas de outras nacionalidades para viverem lá; a guerra de agora é uma consequência da terrível Holodomor que aconteceu lá", lamentou.
Questionado sobre o apoio de Portugal à Ucrânia, Sadokha eologiou a "ajuda mesmo desde o primeiro dia" e acrescentou: "Portugal não é um país com uma grande economia, mas dentro das possibilidades, e pelo menos nas questões políticas, defende sempre a Ucrânia, e tenta reunir a Europa e outro países para ajudar, o que agradecemos".
Para Irene Romanya, uma das participantes, "o Holodomor foi um genocídio sobre os ucranianos, semelhante ao que está a acontecer agora através da guerra".
Acompanhada pelos três filhos pequenos, a manifestante considerou que a participação nestes eventos é "extremamente importante", porque "é assim que se passa a história do país de pais para filhos e se ensina como o Holodomor afetou as gerações que vieram a seguir à que sofreu".
A comunidade ucraniana é a segunda maior em Portugal, a seguir à brasileira, e reúne cerca de cem mil residentes, dos quais mais de metade são refugiados.
Portugal reconhece formalmente a existência de um genocídio na Ucrânia nos anos 30 do século passado desde março de 2017, quando a Assembleia da República aprovou um diploma nesse sentido.
O Holodomor, ou morte por fome, entre 1932 e 1933, é considerado uma das maiores campanhas de extermínio do século XX, frequentemente comparado ao Holocausto, quando o regime soviético de Josef Estaline executou um plano de retaliação aos camponeses ucranianos que recusavam a coletivização de terras e aos quais foram impostas quotas de produtividade, sob pena de ficarem sem comida, ou até sanções a regiões inteiras.
O objetivo era eliminar qualquer resistência, sobretudo nos 'kulaks', terras de proprietários agrícolas ou de gado, e também reprimir qualquer tentação de nacionalismo ucraniano, ambos perseguidos pela polícia política, que prendia, fuzilava ou enviava para 'gulags' as pessoas suspeitas.
"Estaline conhecia a fome que o país sofria no início dos anos 1930. No entanto, tomou a determinação premeditada em 1932 de endurecer as condições na Ucrânia, incluindo quintas coletivas e aldeias nas suas listas negras, bloqueando as fronteiras do país para que as pessoas não pudessem sair e criando brigadas que iam de casa a casa confiscar a comida dos camponeses", afirmou, em entrevista ao diário espanhol El Mundo Anne Applebaum, escritora e jornalista norte-americana naturalizada polaca, autora de "Fome Vermelha", uma das obras de referência sobre o Holodomor e editada em Portugal.
Esta não foi, portanto, uma fome provocada por circunstâncias meteorológicas ou por um desastre natural, mas que seguiu um padrão completamente diferente na Ucrânia, por comparação a outros territórios da antiga União Soviética, como a própria Rússia ou o Cazaquistão - também atingidos -, o que explica, segundo a autora e Prémio Pulitzer, a "repugnante mortalidade" planificada, uma vez que, do número mais aceite de quase cinco milhões de mortos estimados, pelo menos cerca de 3,9 milhões foram vítimas ucranianas, na maioria crianças malnutridas, embora outras fontes coloquem estes valores num patamar bastante superior.
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