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Papa pede investigação sobre genocídio em Gaza no seu novo livro

Lusa 17 de novembro de 2024 às 11:21

"Penso sobretudo em quem deixa Gaza no meio da fome que atingiu os irmãos palestinianos perante a dificuldade de fazer chegar comida e ajuda ao seu território", escreve Francisco.

O Papa Francisco considera que se deve investigar se Israel está a cometer atos de genocídio em Gaza, segundo refere no seu novo livro "A esperança nunca desilude" e cujos primeiros excertos foram este domingo publicados no diário La Stampa.

EPA/GIUSEPPE LAMI

"Segundo alguns especialistas, o que está a acontecer em Gaza tem características de genocídio. Deveria ser cuidadosamente investigado para determinar se se encaixa na definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais", assinala o Papa no livro. "Penso sobretudo em quem deixa Gaza no meio da fome que atingiu os irmãos palestinianos perante a dificuldade de fazer chegar comida e ajuda ao seu território", acrescenta Francisco.

No seu entender, no Médio Oriente, há "portas abertas de nações como a Jordânia ou o Líbano, que continuam a ser a salvação para milhões de pessoas que fogem dos conflitos naquela zona".

O novo livro, intitulado "A esperança nunca desilude", foi editado pelo jornalista Hernan Reyes Alcaide e irá ser publicado na terça-feira em Itália, Espanha e América Latina, e, posteriormente, noutros países. A obra é publicada antes da celebração do Jubileu, que começa a 24 de dezembro e decorre durante 2025, e quando se estima que cerca de 30 milhões de fiéis católicos vão em peregrinação a Roma.

No livro, o líder da Igreja Católica reflete ainda sobre a geopolítica, família, clima, educação, realidade social, economia mundial e migração. Para Francisco, há "uma globalização da indiferença" à qual se deve responder "com a globalização da caridade e cooperação", sobretudo em questões como os atuais fenómenos de migração.

"Perante este desafio, nenhum país pode ficar sozinho e ninguém pode pensar em enfrentar a questão de forma isolada através de leis mais restritivas e repressivas, às vezes aprovadas sob a pressão do medo ou para obter vantagens eleitorais", defende o Papa, que insta a que "se humanizem as condições dos imigrantes".

Para Francisco, "os países com os maiores fluxos migratórios devem ser envolvidos num novo círculo virtuoso de crescimento económico e de paz que inclua todo o planeta". "Para que a imigração seja uma decisão verdadeiramente livre é necessário fazer os possíveis para assegurar a participação igualitária no bem comum a todos, bem como o respeito pelos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral", considera.

Nesse sentido, "só se garantida esta plataforma básica em todas as nações do mundo poderemos decidir que os que imigram o fazem livremente e poderemos pensar numa solução verdadeiramente global para o problema". "Para alcançar este cenário devemos dar o passo preliminar fundamental de pôr fim às condições comerciais desiguais entre os diferentes países do mundo", apela Francisco.

Segundo denuncia o Papa, há "uma realidade que só consiste numa transação entre filiais que pilham os territórios dos países mais pobres e enviam os seus produtos e receitas" para os países desenvolvidos. "Vêm-me à mente, por exemplo, os setores ligados à exploração dos recursos naturais subterrâneos. São as veias abertas destes territórios", afirmou Francisco, numa referência a Eduardo Galeano, autor da obra "As veias abertas da América Latina".

O Papa reitera ainda o seu apelo ao acolhimento dos migrantes. "Ao pedir que lhes abram as portas, exorto também a que se favoreça o seu desenvolvimento integral, que se lhes dê a oportunidade de se realizarem como pessoas em todas as dimensões que compõe a humanidade prevista pelo criador", acrescenta.

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