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Eleições nos EUA: “Não há mérito dos democratas, mas uma reação ao trumpismo”
Os resultados das últimas eleições são uma reação clara ao trumpismo e ao shutdown que bloqueou o pagamento aos funcionários públicos, dizem os especialistas.
Além de ter sido eleito um jovem socialista muçulmano como mayor de Nova Iorque, o partido democrata venceu noutras eleições relevantes. As candidatas dos estados de Virgínia e Nova Jersey, Abigail Spanberger e Mikie Sherrill, foram eleitas governadoras. Ambas têm um perfil semelhante, pertencem à ala moderada, estrearam-se na política nas eleições de 2018 e têm um currículo profissional centrado na segurança nacional: Spanberger foi agente da CIA e Sherrill foi piloto de helicópteros da Marinha. As sondagens à boca da urna indicaram que a economia e o atual shutdown do governo norte-americano - que começou a 1 de outubro, que já é o mais longo de sempre e continua sem fim à vista - foram os grandes fatores que mobilizaram os votantes no Estado da Virgínia, que tem uma das maiores percentagens de funcionários públicos, que têm sido os mais afetados pela política de cortes da gestão republicana. Cerca de 700 mil funcionários
federais estão em licença não remunerada, e outros 700 mil estão a trabalhar sem receber salário durante a paralisação. Republicanos e democratas ainda não chegaram a acordo sobre o novo orçamento federal.
Mamdani, mayor de Nova Iorque, desafia Trump com ideias inovadoras
Reação ao trumpismo
O especialista explica que estas eleições mais do que uma vitória do partido democrata, que “está muito fragmentado”, assistimos a “uma derrota para o governo de Trump, que fez chantagem sobre os eleitores ao dizer que cortaria o orçamento a Nova Iorque. Mas ele sabe que os estados dispõem de uma grande autonomia financeira”. José Filipe Pinto lembra que se em Nova Iorque, o candidato é muçulmano, socialista assumido e da ala mais radical do partido democrata, por outro lado, as duas governadoras que venceram na Virgínia e em Nova Jersey são democratas da ala moderada. “Não há aqui um mérito essencialmente dos democratas nem há uma vaga de apoio a este partido. O que temos aqui é uma reação ao trumpismo, ao modelo de sistema que Donald Trump está a criar”. E acrescenta: “Trump conseguiu ser eleito, utilizando bandeiras com problemas que afligiam a América num todo, como a criminalidade ou a imigração. Agora, este candidatos que ganharam as eleições, voltaram o discurso para os problemas dos cidadãos, designadamente a habitação e a subida dos preços dos bens essenciais”. A um ano das eleições intercalares, José Filipe Pinto considera que Donald Trump poderá ver a sua situação piorar: “Nesta perspetiva, e sob pena de os Estados Unidos ficarem ingovernáveis, é natural que o Presidente tudo faça para pressionar alguns deputados democratas a viabilizar o orçamento e acabar com o shutdown. Ele, que já está a responsabilizar os democratas pelo bloqueio, vai negociar de forma a parecer que a cedência vem do da oposição e sairá disto como aquele que apela aos consensos, em nome do interesse coletivo”.Um candidato improvável
Zohran Mamdani, nascido no Uganda e filho de pais indianos, foi o grande vencedor das eleições autárquicas nova-iorquinas, na madrugada desta quarta-feira, com 50,4% dos votos, batendo o antigo governador Andrew Cuomo (41,6%), apoiado pelo Presidente Donald Trump – que cumpre agora um ano de mandato. Esta foi uma ascensão política improvável para alguém que há um ano era um completo desconhecido para os eleitores da maior cidade capitalista e o grande centro financeiro do mundo, com 8,8 milhões de eleitores e o maior orçamento dos Estados Unidos. Mamdani, de 34 anos, tinha tudo para ser um candidato caricato: muito jovem (será o autarca com menos idade desde 1889), inexperiente (foi eleito deputado da assembleia do Estado de Nova Iorque há apenas quatro anos), além de ser o primeiro muçulmano à frente da maior cidade norte-americana.Falta de respeito democrático
“Neste momento de escuridão política, Nova Iorque será luz”, declarou Zohran Mamdani perante uma multidão de apoiantes no bairro de Brooklyn, dirigindo-se também ao Presidente norte-americano: “Sei que me está a ver. Só tenho três palavras para si: suba o volume [do televisor]! Nova Iorque continuará a ser uma cidade de imigrantes, construída por imigrantes e impulsionada por imigrantes. E a partir de hoje, liderada por um imigrante”. Trump respondeu, de forma enigmática, através da sua rede social Truth Social: “E assim começa…”. Germano Almeida, analista de política internacional no canal Now, diz que além desta mensagem ser um claro sinal de uma “guerra” de Trump contra Mamdani “há também um dilema que se se abre no partido democrata, porque apesar de esta vitória ser importante, mostra que a via dos democratas para tentar voltar à Casa Branca, em 2028, não vai ser clara. Reforça-se a ideia de que uma boa parte do eleitorado democrata quer uma via mais radical, mais à esquerda, com propostas fora do sistema”. Sobre as medidas anunciadas por Mamdani, Germano Almeida considera-as “populistas” e difíceis de executar, como os transportes e as creches gratuitas. Quanto à sobrecarga fiscal para os mais ricos, afirma que “apesar de ser um tema bastante discutido há uns anos, nunca foi uma questão dominante no partido democrata, que tem uma posição mais moderada nesta matéria”. O analista diz ainda que “é de uma especial gravidade quando o Presidente dos Estados Unidos ameaça cortar fundos federais, na sequência de uma eleição. Isso mostra que não tem qualquer respeito democrático”. Se Trump poderá mesmo cortar o investimento, Germano Almeida considera que “não há resposta para isso”. E explica: “Trump já fez várias coisas que não pode fazer. Temos que perceber que o atualmente o poder dos Estados Unidos é antidemocrático, é alguém que não respeita as instituições, que ataca os outros poderes e insinua que vai para um terceiro mandato, quando é claríssimo que não o pode fazer. Neste caso concreto, ele não respeita a coesão federal e perante um resultado eleitoral que não lhe agrada, diz que vai cortar os fundos à cidade de Nova Iorque. E não pode”.Tik Tok e jovens voluntários
Mamdani - um seguidor do Islão que todas as manhãs reza numa mesquita, no Bronx – tem uma notável habilidade na utilização das redes sociais, sobretudo o Tik Tok, com uma imagem simpática, empática e com mensagens simples e diretas, conquistando desde logo o eleitorado mais jovem. Mobilizou um exército de mais de 75 mil voluntários, que andaram de porta em porta a fazer campanha pelo candidato socialista.Artigos Relacionados
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