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Desertor russo quer testemunhar contra o grupo Wagner

Diogo Barreto 23 de janeiro de 2023 às 17:43

O ex-comandante do grupo mercenário fugiu na semana passada para a Noruega e quer agora testemunhar contra o grupo e contra o seu fundador, um dos principais aliados de Putin.

Um ex-comandante do grupo Wagner fugiu para a Noruega, tendo sido detido pela polícia local por suspeita de ter entrado ilegalmente no país. 

Reuters

O grupo de direitos humanos russo Gulagu revelou que a Noruega pretende deportar Andrei Medvedev para a Rússia, depois de ter divulgado uma chamada telefónica com o mercenário que aconteceu esta segunda-feira. "Ele está sob custódia policial", referiu o grupo que informou ainda que o russo tem intenções de testemunhar contra o grupo Wagner, que tem estado na linha da frente da guerra da Ucrânia, lutando do lado dos interesses de Moscovo. O mercenário diz ter sido ameaçado com deportação. 

Reuters, citando um porta-voz da polícia norueguesa, diz que não há indicações de deportar o mercenário. O advogado de Medvedev disse também à agência noticiosa que o risco de transferirem o mercenário é perto de "zero" e que o mesmo estava detido por ainda estarem à procura da melhor forma de manter o soldado seguro. "Ele está sob medidas de proteção muito estritas e nós estamos contra este nível de detenção", afirmouBrynjulf Risnes.

Andrei Medvedev  terá fugido da Rússia por temer pela sua própria vida, depois de ter testemunhado o assassinato de vários combatentes russos. Fugiu a pé. "O meu objetivo em vir para aqui [Noruega] foi, em primeiro lugar, para salvar a minha vida e, em segundo, para contar ao mundo a verdade" sobre o grupo Wagner, explicou ao Gulagu, acrescentando ainda a vontade de castigar Yevgeny Prigozhin, o fundador do grupo mercenário e aliado próximo de Vladimir Putin, o presidente russo. Medvedev responsabiliza estes dois homens pela morte de milhares de jovens russos na guerra da Ucrânia. O mercenário contou que foi detido este domingo, enquanto estava hospedado num hotel, e levado para um centro de detenção.

Segundo o grupo de direitos humanos russos, se for deportado para a Rússia, o mercenário será "assassinado de forma brutal" por ter criticado abertamente o grupo Wagner e o regime russo. No entanto, o Gulagu assume que não pretende branquear Medvedev - "ele fez coisas muito más na sua vida" -, mas dar-lhe uma hipótese de se redimir. "Ele viu a luz e apercebeu-se disso e está pronto a cooperar com o mundo, com as investigações internacionais e com as autoridades norueguesas. Ele quer viver e testemunhar", explicou o Gulagu.

Medvedev pediu, entretanto, asilo político e proteção internacional, tendo entretanto sido alojado num centro para infratores de leis migratórias.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.031 civis mortos e 11.327 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

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