De investidor génio a burlão. Começa hoje o julgamento de Bankman-Fried
O fundador da FTX arrisca-se a uma pena de prisão até 100 anos pelas acusações de fraude, lavagem de dinheiro e conspiração. Antigos sócios vão testemunhar contra Bankman-Fried.
Começa esta terça-feira o julgamento de Sam Bankman-Fried (SBF), fundador da plataforma de criptomoedas FTX, que colapsou há um ano. O cripto-investidor que chegou a ser considerado um dos mais importantes players do setor financeiro norte-americano é acusado de mais de uma dezena de crimes e pode vir a cumprir uma pena de cadeia para o resto da vida.
O fundador da FTX é alvo de 13 acusações, das quais sete irão a julgamento nesta primeira fase. Haverá uma segunda que está marcada para março de 2024 e a estas juntam-se ainda processos civis.
No início do ano, Sam Bankman-Fried declarou-se inocente de sete acusações de que foi alvo por parte dos procuradores, que envolvem suborno de autoridades chinesas para desbloquearem as contas da Alameda Research, novos crimes de fraude e violação das normas que regem as doações a partidos políticos nos EUA, fraude bancária ou lavagem de dinheiro. O colapso da FTX e do seu fundo de investimento Alameda Research deixou um buraco de 30 mil milhões de dólares.
Caso seja condenado, Bankman-Fried pode enfrentar décadas na prisão (arrisca até 100 anos de cadeia, pelas acusações de fraude, lavagem de dinheiro e conspiração). E aquele que chegou a ser aclamado como um dos mais inteligentes investidores modernos começou a ser comparado a Bernie Madoff, um dos mais famosos burlões recentes.
O princípio do fim
A queda do império Bankam-Fried/FTX tem um momento pioneiro quando a CoinDesk, publicação especializada em temas financeiros, colocou em causa a saúde financeira da Alameda Research, o braço de análise da FTX.
Questionava a publicação se a Alameda Research teria fundos suficientes para as operações que estava a realizar. E chegou à conclusão que a garantia da empresa era composta por FTT, a criptomoeda da própria. Esta notícia originou uma corrida ao capital e a plataforma não teve liquidez para dar resposta aos pedidos dos clientes porque tinha usado depósitos dos clientes para financiar a Alameda Research. Esta é a tese do Departamento da Justiça norte-americano.
A Binance chegou a ponderar salvar a empresa, mas o CEO, Changpeng Zhao, não só recuou no negócio como anunciou que se iria livrar de todas as FTT que detinha, oq ue afundou ainda mais a empresa. A 11 de novembro de 2022, a FTX – que chegou a ser responsável pela gestão de 32 mil milhões de dólares em criptoativos – declarava falência.
Mas isto foi apenas a ponta do novelo para o buraco negro em que a FTX estava envolvida. Depois da declaração de falência, o Departamento de Justiça dos EUA, a Securities and Exchange Commission (SEC) e a Commodities and Futures Trading Commission (CFTC) lançaram investigações à FTX e ao seu fundador. Em dezembro, Bankman-Fried foi detido nas Bahamas, onde estava sedeada a empresa, e extraditado para os EUA.
As acusações
Ao contrário do líder da FTX, tanto o cofundador da FTX, Gary Wang, como a ex-CEO da Alameda Research e ex-namorada de Bankman-Fried, Caroline Ellison, declararam-se culpados dos factos imputados e ofereceram-se para cooperar com os procuradores. Da mesma forma, o diretor de operações de engenharia, Nishad Singh, declarou-se culpado de seis acusações. Serão também das principais testemunhas contra SBF neste processo.
Barbara Fried e Joseph Bankman – os pais de Sam – são suspeitos de terem recebido transferências de milhões de dólares desviados de forma fraudulenta, uma acusação que rejeitam. "Trata-se de uma tentativa perigosa de intimidar Joe e Barbara e de prejudicar o processo do júri a poucos dias do início do julgamento do seu filho", escreveram os advogados do casal.
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