Como Claudia Sheinbaum ganhou o respeito de Donald Trump?
Depois de reuniões com o presidente norte-americano, a presidente mexicana conseguiu, por duas vezes, suspender a aplicação de tarifas ao seu país.
Durante a campanha eleitoral, Trump fez do México um alvo para os seus inúmeros ataques, quer a nível da imigração com a situação dos migrantes na fronteira a sul, quer a nível do aumento da criminalidade, que ele atribuiu aos cartéis de droga mexicanos e à entrada de fentanil. Uma vez eleito, prometeu impor tarifas ao vizinho do sul até que esta droga deixasse de entrar nos Estados Unidos.
Mas desde a sua vitória em novembro, Claudia Sheinbaum, a primeira mulher presidente do México, tem surpreendido muitos mexicanos, não só por se ter defendido da panóplia de ameaças e acusações de Trump em relação ao país, mas também por ter ido mais longe e ter conseguido manter uma relação positiva com o homólogo americano. Quando o presidente norte-americano ameaçou que iria mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, Sheinbaum brincou com o facto de os Estados Unidos passarem a chamar-se "América Mexicana".
A nível dos cartéis de droga, Sheinbaum tem tomado medidas corajosas, nomeadamente contra cartéis que se vingam dos que os ameaçam, como o caso da transferência de 29 barões da droga para os Estados Unidos para enfrentarem acusações criminais no final de fevereiro. Ao mesmo tempo desta colaboração com Trump, Sheinbaum estimula um sentimento nacionalista no México, relembrando os mexicanos que o país "não é colónia de ninguém", e repetindo o mote "coordenação, sim; submissão, nunca".
Agora, no meio de uma guerra comercial, o México tem sido o único país que conseguiu dialogar e suspender ou adiar as tarifas dos EUA por duas vezes. Foi durante uma reunião de 45 minutos no início de fevereiro entre ambos os líderes que Sheinbaum conseguiu uma primeira suspensão.
"É preciso falar a língua de Trump", disse uma pessoa presente no momento do telefonema ao jornal norte-americano Wall Street Journal, apesar da ligação ter contado com momentos mais tensos. A mexicana contrariou Trump em relação ao comércio, às drogas e à imigração de uma forma que "chamou a atenção de Trump sem escalar a situação", disse a mesma fonte.
Recentemente, numa segunda reunião, Sheinbaum foi preparada e apresentou um gráfico baseado em dados do governo dos EUA ao seu homólogo norte-americano, que mostra como o contrabando de fentanil diminuiu nos últimos meses, a mesma droga citada por Trump como a principal razão para impor tarifas ao México. "Ele não tinha conhecimento deste gráfico até que lho enviámos", disse Sheinbaum no final aos meios de comunicação social. Mais tarde, o presidente dos EUA explicou que tinha tido uma conversa "muito boa" com a chefe de estado mexicana, explicando que suspendeu, por enquanto, as tarifas "por respeito à presidente Sheinbaum", "uma mulher maravilhosa".
Segundo relata o jornal norte-americano The New York Times, ela tem conseguido alcançar estas pequenas vitórias, chegando às conversas com Trump extremamente preparada, estudando os seus discursos para tentar compreender o seu estilo de comunicação. O seu tom com o presidente dos EUA tem sido calmo, revelam três funcionários dos EUA e do México ao jornal, sendo esta abordagem mais equilibrada do que a do presidente Trudeau do Canadá.
Sheinbaum, uma cientista, tinha pouca experiência com política externa antes de tomar posse, quando era a presidente da Câmara da Cidade do México. Ao contrário do seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, que manteve uma boa relação com Trump, uma vez que ambos partilhavam o gosto pela visibilidade, Sheinbaum acaba por ser mais reservada.
Num evento, a 9 de março, na Cidade do México, a presidente anunciou à multidão que "finalmente, o diálogo e o respeito prevaleceram", depois de Trump ter suspendido a maioria das tarifas de cerca de 25% sobre importações do México e do Canadá, até 2 de abril.
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