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Assassino de Charlie Kirk ligado à esquerda... ou aos videojogos?

Pedro Henrique Miranda 16 de setembro de 2025 às 07:00

Inicialmente ligado a ideais revolucionários, o homicídio atribuído ao suspeito Tyler Robinson terá conotações da subcultura dos videojogos.

Quando os investigadores do homicídio de Charlie Kirk anunciaram o conteúdo das mensagens inscritas nas balas encontradas no local, o seu teor parecia ir ao encontro da índole do assassinato de um ativista ultraconservador: o crime teria sido politicamente motivado, e o suspeito estaria envolvido com algum tipo de movimento ou ideologia de esquerda.
FBI busca suspeito do assassinato de Charlie Kirk na Universidade de Utah FBI /Rede social X
"Oh bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao", lia-se numa mensagem, uma referência clara à antiga canção antifascista italiana, enquanto que, em outra, se escrevia "Ei, fascista, apanha!", seguido de uma série de setas em sucessão. Ainda que as restantes mensagens não sejam tão politicamente sugestivas, estas últimas - combinadas com a identificação do suspeito como o jovem Tyler Robinson, de 22 anos, cujo DNA foi encontrado no local do crime - pareceram suficientes para enquadrar o homicídio como um crime de ódio da esquerda. Depoimentos de especialistas em videojogos, no entanto, vieram dar novo contexto às mensagens atribuídas a Robinson, que poderão estar mais ligadas à subcultura do gaming - mesmo as consideradas inambiguamente políticas, que poderão estar a ser vistas sob uma nova luz. "Repara um inchaço , OwO, o que é isto?", outra das mensagens encontradas pela polícia, é um insulto popularmente usado em fóruns de mensagens digitais ligados a jogos para ridicularizar o adversário - uma piada derivada de um meme da internet em que "OwO" é suposto representar a cara do visado - tal como "Se estás a ler isto, és gay lmao [risos]", o último fragmento de texto revelado pela polícia, cujo humor infantil é típico do conteúdo destas comunidades digitais. A ligação é suportada pelo que já se sabe sobre o principal suspeito, Tyler Robinson. Em entrevista na passada sexta-feira, Adrian Rivera, de 22 anos, ex-colega de Robinson, descreveu-o como interessado em "coisas nerdy aleatórias" e "um tipo do Halo", um popular jogo de tiros na primeira pessoa, e vizinhos notaram que era uma pessoa "reclusiva, que saía pouco de casa".  Já a mensagem "Ei, fascista, apanha" (que o governador republicano do Utah, Spencer Cox, disse "falar por si mesma" quanto à ligação do suspeito à esquerda) é acompanhada dos símbolos seta para cima, seta para a direita e três setas para baixo identificados como uma referência ao popular jogo de tiros Helldivers, uma sequência de  botões no comando da consola para fazer detonar uma bomba. "É uma piada na comunidade de Helldivers que se pode anular qualquer argumento com que se discorda a digitar [este controlo]", disse ao jornal New York Times um especialista no jogo.  E mesmo a referência a Bella Ciao, uma canção universalmente reconhecida como de resistência antifascista, pode também ter conotações ainda mais à direita de Charlie Kirk: o tema foi incluído numa playlist de seguidores do movimento Groypers - grupo de extrema-direita ligado a ideais de supremacia branca, misoginia, homofobia e antissemitismo -, liderado por Nick Fuentes, opositor político de Kirk à sua direita.  Para já, pouco se sabe sobre a orientação política de Tyler Robinson à exceção do facto de que discordava de Charlie Kirk - de acordo com entrevistas conduzidas com familiares e colegas de Robinson, o jovem teria recentemente criticado o ativista político da direita ultraconservadora, que propagou teorias da conspiração em relação à imigração e ao COVID e fazia parte do círculo íntimo de Donald Trump. Robinson era um votante registado no estado do Utah, onde vivia, mas não estava afiliado a nenhum partido político e nunca votou numa eleição. Rivera, o seu colega de escola, não lhe conhecia nenhuma inclinação política. E embora os investigadores tenham aferido, através de entrevistas a pessoas próximas, que se tinha tornado "mais político nos últimos anos", não é claro em que direção se movia. Para especialistas como Lindsay Hahn, investigadora de extremismo ideológico na Universidade de Buffalo, ou Emerson Brooking, do think tank de assuntos internacionais Atlantic Council, a identidade política de Robinson não é óbvia. "É muito difícil mapear uma ideologia política a esta mistura de referências a videojogos e subculturas da internet", disse Brooking ao New York Times. Para Hahn, o que é óbvio é que as mensagens indicam que o perpetrador "queria passar uma mensagem e ser falado na Internet" e que "estas mensagens foram escolhidas porque ele sabia que seriam discutidas", disse à NBC. A opinião de Brooking vai no mesmo sentido: "O espetáculo tem de ter sido o objetivo".
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