Alisa agarrou em armas para se defender na Ucrânia. Rússia "já não é um país irmão"
A assessora de 38 anos começou a aprender o que fazer em combate há mais de um ano. Nunca teve tanto medo de pôr em prática essas lições.
Alisa é uma mulher ucraniana de 38 anos e trabalha numa organização de segurança cibernética em Kiev, como assessora de media. Já visitou mais de 50 países e sempre gostou de desportos de tiro. Há mais de um ano, começou a aplicar o hóbi à vida real: pertence a uma unidade local de defesa do território da Ucrânia composta por civis e está a aprender a combater.
"As pessoas morrem, isso é horrível. Pior ainda é quando não se pensa apenas na própria vida, mas na vida de uma criança de 7 anos", disse Alisa à agência noticiosa Reuters, referindo-se ao filho, Timur.
"Percebo que ele se pode magoar devido a uma parvoíce do país vizinho. Já não é um país irmão", acrescentou Alisa.
Alisa nunca pensou ter que usar as capacidade de combate. Mas diz que a cada semana, se juntam dezenas de pessoas às sessões de treino. Em janeiro, o governo ucraniano anunciou que queria criar uma força de batalhões de reserva com 130 mil soldados.
Se alguém precisar de ajuda, a ucraniana sente que está preparada. "Eu sei o que fazer se estiver debaixo de fogo. Eu sei como ajudar o Timur, amigos, vizinhos se forem apanhados pelo fogo", sublinhou à Reuters. Os treinos ajudam-na também a desenvolver auto-confiança e coragem, contou.
Para Alisa, estes treinos simples já são um grande conforto e tenta sempre não faltar. "Se estivéssemos em tempo de paz, eu faltava ao treino se estivesse cansada, mas agora obrigo-me a acordar cedo para a sessão, porque agora é mais necessário do que nunca".
O fim-de-semana passado começou da mesma forma de sempre para Alisa: vestiu o camuflado, pegou nas armas de pequeno calibre e foi para um dos campos de treino, que se localizam num pinhal rodeado de dunas, num antigo caminho de ferro e noutros locais abandonados.
Com os outros voluntários - quase todos homens entre os 30 e os 40 anos - a ucraniana passa sete horas com a arma na mão ou em posição de vigilância, integrada numa patrulha encarregada de proteger um prédio concreto dos inimigos, adianta à Reuters. "Se, Deus nos livre, uma guerra começa... Sei como me mover de um local não seguro para um seguro."
Alisa já visitou mais de 50 países e gosta de motas, tal como o marido. "Sinto raiva, ódio e os meus planos foram cancelados. É tudo surreal para mim e eu não compreendo como coisas tão tontas possam acontecer num mundo civilizado no século XXI", lamenta.
A Rússia tem sido acusada pelos Estados Unidos e pelos países do Ocidente de estar a preparar uma invasão à Ucrânia, como aconteceu em 2014 com a anexação da Crimeia. Um dos motivos deste conflito é o desejo manifestado pela Ucrânia de se tornar parte da NATO.
Portugal foi um dos países que recomendou, nos últimos dias, que os cidadãos portugueses residentes na Ucrânia se retirassem do país, pelo perigo duma invasão.
O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência de duas zonas da Ucrânia, Lugansk e Donetsk, dominadas por separatistas pró-russos.
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