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As boas-vinda de Basileia a uma Eurovisão com tensões

A cidade suíça que promove inclusão e diversidade terá de competir com as hostilidades sentidas desde a edição do ano passado, criadas pela participação de Israel no festival.

Gabriela Ângelo 11 de maio de 2025 às 17:56
basileia eurovisão Georgios Kefalas/Keystone via AP

A Basileia entrou em modo de festa durante este fim de semana para o Festival da Eurovisão que tem início na próxima terça-feira (13). Passaram-se 36 anos desde que a Suíça acolheu o concurso pela última vez, depois de Celine Dion ter vencido em 1988. No ano passado o artista Nemo venceu com "The Code". 

No entanto, este ano, tal como no ano passado, o festival tem sido acolhido com críticas e manifestações de desagrado pela participação de Israel, representado pela cantora Yuval Raphael, devido ao bombardeamento e invasão de Gaza por parte de Televive desde o ataque de 7 de outubro. A Rússia foi expulsa da competição pela sua invasão da Ucrânia em 2022. 

Citado pelo canal televisivo britânico, BBC, o chefe do governo de Basileia, Conradin Cramer, acredita que a sua cidade, que conta com apenas 175 mil habitantes, será casa para o meio milhão de visitantes da Eurovisão. Devido às suas fronteiras com a França e a Alemanha, Basileia é "o coração da Europa", afirma. 

Além disso, Cramer sublinha que a cidade tem uma longa tradição humanista, relembrando que enquanto outras cidades da Europa medieval estavam a reprimir os pensadores livres, Basileia acolheu-os. Assim sendo, esta cidade, pela sua localização, inclusão e diversidade é "a combinação perfeita".

Contudo, organizar um evento com a magnitude da Eurovisão tem as suas dificuldades. A escolha da cidade anfitriã apenas foi finalizada em agosto, deixando pouco mais de sete meses para organizar tudo. 

As organizações de grupos cristãos evangélicos tentaram impedir a sua realização, alegando que o festival estava a minar os valores tradicionais da família e que alguns artistas cantavam abertamente sobre satanismo, uma referência à atuação de Bambie Thug da Irlanda com "Doomsday Blue", que contou com a presença de um pentagrama no palco. 

Foram ainda reunidas assinaturas suficientes para forçar a realização de um referendo com o objetivo de proibir o financiamento público do evento. Mas, a 24 de novembro, os eleitores votaram "sim", com 66,6% a aprovarem o orçamento de Basileia de quase 35 milhões de euros. 

Cramer está também consciente de que o debate sobre a diversidade e a inclusão mudou desde que o cantor suíço Nemo se tornou a primeira pessoa não-binária a ganhar a Eurovisão, sendo a mensagem principal de Basileia que "toda a gente é bem-vinda".

Contudo, no palco e nos camarins, a conversa é outra. A União Europeia de Radiodifusão (UER) que gere o festival mantém as mesmas regras do ano passado, que os artistas só podem levar as suas próprias bandeiras nacionais para o palco ou para os camarins. Ou seja, os artistas e as suas equipas não poderão hastear a bandeira pride ou de qualquer outra identidade de género. No ano passado, o vencedor suíço Nemo acenou uma bandeira não binária durante a atuação, mas disse que teve de a "contrabandear". 

Quanto à participação de Israel, no concurso do ano passado em Malmo, foram realizadas várias manifestações pró-palestinianas às portas do festival. Este ano a primeira deu-se no domingo durante a cerimónia de inauguração, mas são esperadas mais. Apesar da polícia local ainda não ter divulgado planos para gerir a situação, já afirmou que toda a gente tem o direito de expressar a sua opinião, desde que se mantenha dentro da lei e não ponha em risco a segurança dos outros.

Recentemente, mais de 70 ex-participantes do Festival da Canção divulgaram uma carta aberta apelando à UER para excluir a participação de Israel e da emissora israelita KAN no concurso. Entre os subscritores, encontram-se os portugueses António Calvário, Fernando Tordo, Lena D’Água, Rita Reis e o vencedor da edição de 2017, Salvador Sobral. No apelo consideram que a KAN é "cumplice do genocídio contra os palestinianos em Gaza e do regime de décadas de ‘apartheid’ e ocupação militar". 

Ainda, uma notícia divulgada pelo Correio da Manhã dá conta de que alguns sindicatos e vários trabalhadores da RTP apelam à exclusão de Israel do festival, pressionando o Conselho da Administração da RTP a posicionar-se publicamente contra a participação do país no evento.

Durante o concurso, 1.300 agentes estarão de serviço, havendo uma operação de segurança para garantir que os visitantes possam desfrutar do concurso em segurança. São prometidas "equipas móveis de sensibilização", retiros seguros para as vítimas de violência ou assédio e uma linha de apoio 24 horas por dia com o objetivo de prevenir a violência, a agressão ou o assédio sexual, bem como as agressões e os insultos racistas.

Portugal estará na primeira semifinal do festival, com os NAPA a atuar já na terça-feira.

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