Yuval Raphael é a representante de Israel na edição deste ano de Eurovisão. ÀBBC a cantora refere que nunca sonhou participar nesta competição até porque até ao dia 7 de outubro de 2023 não tinha qualquer carreira musical.
No dia do ataque dos Hamas a Israel estava no festival Nova com amigos e quando começou a ouvir disparos conseguiu fugir e refugiar-se num abrigo antiaéreo numa estrada perto do local do festival, onde cerca de cinquenta pessoas ficaram amontoadas, contou. Dois homens acabaram por entrar no abrigo, começaram a disparar sob as pessoas e atiraram granadas de mão.
Depois desse momento, Yuval conseguiu ligar ao pai e avisá-lo do que se estava a passar: "Pai, muitas pessoas morreram. Chama a polícia. Por favor, chama a polícia, é urgente, estou a ser esmagada", refere a gravação que foi incluída num documentário israelita sobre o ataque ao festival.
Yuval Raphael foi uma das onze pessoas que estavam naquele abrigo e que sobreviveram. A cantora teve de se esconder debaixo de cadáveres durante oito horas até que os membros das Forças de Defesa Israelita a foram resgatar. Naquele dia 1.200 pessoas foram mortas por membros do Hamas e 251 foram levadas para Gaza enquanto reféns.
Foi depois dessa experiência que decidiu dedicar-se à música: "Queria ser feliz e realmente entender o presente que me foi dado, que é viver. Ter mais experiências, ser feliz e viver plenamente".
Passado um ano e meio foi escolhida para representar Israel na Eurovisão e na quinta-feira vai cantar a sua músicaNew Day Willna semifinal do maior concurso de música a nível mundial. As regras da União Europeia de Radiodifusão, responsável pelo concurso, impedem que sejam feitas declarações políticas durante a competição, no entanto têm existido muitos protestos pedindo que Israel seja retirado da competição, e já durante a edição do ano passadoEden Golan, então concorrente, foi criticada.
Na semana passada mais de70 ex-participantes da Eurovisão, incluindo Salvador Sobral, assinaram uma carta pedindo aos organizadores que banissem Israel da competição. Em causa, a ofensiva militar israelita, que respondeu aos ataques de 7 de outubro, que já levou à morte de mais de 52 mil pessoas.
Apesar de reivindicar que é um evento apolítico, em anos anteriores outros países foram banidos por questões políticas, como aconteceu em 2021 com a Bielorrússia ou em 2022 com a Rússia. A Eurovisão já referiu que entende as preocupações com a situação atual do Médio Oriente, mas insistiu que os membros deveriam garantir que o evento continua a ser "universal e promove conexões, diversidade e inclusão através da música".
"Estou a deixar tudo de lado e a concentrar-me apenas no mais importante. O slogan deste ano é unidos pela música e é para isso que estamos aqui", defendeu Yuval Raphael.
O Conselho de Segurança Nacional israelita já pediu aos fãs que se desloquem até à Suíça para não utilizarem símbolos judaicos ou israelitas quando estiverem no evento nem nas ruas de Basileia. No domingo, decorreu o desfile de abertura da competição na cidade e a delegação israelita acabou por fazer queixa de um manifestante pró-Palestina à polícia depois de este ter feito um gesto de cortar a garganta e cuspir em direção à delegação.
"Foi assustador às vezes, até desconfortável, mas faz-me continuar a lembrar o motivo pelo qual estou aqui, que é espalhar o máximo de amor possível e orgulhar o meu país", referiu Yuval Raphael ao recordar o momento.