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Foi contra todas as 'odds': os NAPA estão na final da Eurovisão

A primeira semifinal do Festival Eurovisão da Canção 2025 aconteceu esta terça-feira à noite em Basileia e os portugueses NAPA apuraram-se para a final.

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Edição de 13 a 19 de agosto
Contra todas as 'odds', os NAPA estão na final da Eurovisão
Gonçalo Correia 13 de maio de 2025 às 22:22
Jens Büttner/picture alliance via Getty Images

A tocha foi passada com benelovência, como que para dar força. Primeiro foi Salvador Sobral, o único vencedor português da Eurovisão na história, a manifestar apoio aos NAPA,cantando nas ruas do Uzbequistãoo tema que o grupo madeirense levou esta terça-feira a Basileia, na Suíça. Depois,juntou-se-lhe a cantora MARO, que comSaudade, Saudadeficou em 9.º lugar, o segundo melhor resultado de Portugal em quase 30 anos (desde que Lúcia Moniz levou, em 1996,O Meu Coração Não Tem Corao 6.º lugar em Oslo, na Noruega).

Talvez a força tenha ajudado. A banda madeirense conseguiu contrariar as odds que as casas de apostas lhe davam e carimbou, esta terça-feira, o apuramento para a final do Festival Eurovisão da Canção, agendada para o próximo sábado, 17 de maio.

Pode ver abaixo a atuação da banda portuguesa na Eurovisão, na noite desta terça-feira, a interpretar o tema Deslocado:

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Além de Deslocado, dos portugueses NAPA, apuraram-se para a final do concurso Lighter, do norueguês Kyle Alessandro, Zjerm, do duo albanês Shkodra Elektronike, Bara bada bastu, do grupo KAJ, que representa a Suécia, Róa, do duo islandês Væb, C'est la vie, do neerlandês Claude, Gaja, tema da cantora polaca Justyna Steczkowska, Tutta l'Italia, de Gabry Ponte (San Marino), Espresso Macchiato, do rapper e cantor Tommy Cash (Estónia) e Bird of Pray, da banda ucraniana Ziferblat.

A estas canções juntam-se outros seis temas apurados diretamente para a final: a representante do país anfitrião desta edição da Eurovisão, Voyage, da cantora Zoë Më, e os temas dos cinco países que todos os anos têm acesso direto à final: França (Maman, de Louane), Alemanha (Baller, de Abor & Tynna), Itália (Volevo essere un duro, de Lucio Corsi), Espanha (Esa diva, de Melody) e Reino Unido (What the Hell Just Happened, do grupo feminino Remember Monday). A segunda semifinal está marcada para esta quinta-feira, 15 de maio.

Esta primeira semifinal contou ainda com uma interpretação de Ne partez pas sans moi, de Celine Dion (que, por sua vez, enviou uma mensagem em vídeo que foi exibida nos ecrãs). O tema representou a Suíça no Festival Eurovisão da Canção de 1988, foi o vencedor do concurso nesse ano e foi interpretado esta terça-feira à noite pela cantora portuguesa Iolanda, a cantora grega Marina Satti, a cantora ucraniana Jerry Heil e o cantor lituano Silvester Belt, todos eles participantes na edição anterior da Eurovisão (2024).

Como as "odds" foram contrariadas

Os NAPA, que levaram a Basileia uma canção em português sobre as saudades de casa e da terra de que se é natural, calharam numa semifinal que abria boas perspetivas de apuramento: dos temas que as casas da apostas apontavam como grandes favoritos para esta edição, evitavam na sua semifinal por exemplo a canção austríaca (Wasted Love, de JJ) e a canção israelita (New Day Will Rise, de Yuval Raphael), que, apesar das ameaças de boicote motivadas pela situação humanitária em Gaza, surgia também bem colocada entre os apostadores. 

O único tema apontado como favorito à vitória nesta primeira semifinal era Bara bada bastu, do grupo KAJ, representantes da Suécia no concurso. Acabaram por se apurar, também, para a final esta terça-feira.

A julgar pelas odds, era porém previsível que também as canções da Estónia (Espresso Macchiato, de Tommy Cash), da Bélgica (Strobe Lights, do cantor Red Sebastian), dos Países Baixos (C'est la Vie, interpretada por Claude), da Albânia (Zjerm, do duo Shkodra Elektronike) e da Ucrânia (Bird of Pray, da banda Ziferblat), todas a concurso na primeira semifinal, viessem a apurar-se para a final. Mas existiam ainda quatro vagas por definir e que podiam fazer Portugal e os NAPA sonharem, sabendo que teriam a concorrência de outros oito candidatos.

As odds não falharam assim tanto, mas falharam o suficiente: contrariamente ao que sugeriam as probabilidades estatísticas avançadas pelas casas de apostas, a canção do Chipre (Shh, de Theo Evan) ficou pelo caminho e, surpresa ainda maior, Strobe Lights, do belga Red Sebastian, também não se ouvirá na final deste sábado. Aproveitaram três underdogs: NAPA (Portugal), Gabry Ponte (San Marino) e Væb (Islândia).

Um percurso turbulento, mas com final feliz

O tema que representou Portugal na Eurovisão este ano, Deslocado, dividira opiniões anteriormente, durante o Festival da Canção da RTP, que apura anualmente o representante nacional na Eurovisão. Nesse momento, foi em simultâneo o mais popular do concurso e um dos que mais anti-corpos gerou no público da Eurovisão.

Confuso? Explicamos: se os números indicavam que, à boleia do TikTok, Deslocado era um fenómeno de popularidade - uma canção aparentemente à medida de um País a quem a saudade assenta bem, um País de deslocados, emigrantes e expatriados -, a vitória no Festival da Canção gerou polémica e comentários críticos por parte de alguns seguidores mais atentos (e apaixonados) da Eurovisão.

A canção, escreveu-se em muitas caixas de comentários, era "pouco Eurovisiva" e pouco adequada ao concurso internacional de canções. Um argumento que alguns fãs da banda desconsideraram, lembrando que o Festival da Canção serve também para premiar a canção que melhor representa Portugal para os portugueses - não apenas para os fãs da Eurovisão - e recordando que uma das canções aparentemente mais "eurovisivas" de entre as vencedoras recentes, Telemóveis, de Conan Osiris (2019), foi precisamente a mesma que não se apurou para a final da Eurovisão.

Para a polémica, não contribuiu a ausência de sintonia entre os votos de público e júri na final do Festival da Canção. O tema mais votado pelo público, I Wanna Destroy U, de Henka, recebeu 0 pontos do júri e foi um dos dois (de 12) menos apreciados pelos jurados. Cotovia, de Diana Vilarinho, foi a canção mais votada pelo júri mas o tema dos NAPA acabou por beneficiar da soma do apoio do público (foi a segunda mais votada pelos espectadores) a uma avaliação razoavelmente positiva do júri (com 7 pontos, foi o quarto tema mais votado pelos jurados). 

Antes do começo da última edição do Festival da Canção, numa análise aos temas a concurso, escrevíamos o seguinte sobre Deslocado, dos NAPA: "Deslocado é uma declaração de amor à Madeira, de quem veio "de longe", do "meio do mar, no coração do oceano", a expressão cantada da vontade de regressar "à minha casa / ilha, paz, Madeira", uma canção indie-pop elegante, clássica, sonhadora, destes rapazes que já não merecem ser chamados só de "Capitão Fausto da Madeira". Eles são os NAPA e é bem provável que para estes miúdos, fãs de Arctic Monkeys, Red Hot Chilli Peppers, Beatles, Caetano Veloso e Tom Jobim (diz-nos a biografia da RTP), tudo vá mudar depois do Festival da Canção."

Mais uma ida à final para Portugal, a 5.ª consecutiva

Iolanda tinha sido a última representante português na Eurovisão, tendo conseguido, em 2024, não apenas apurar-se para final como fechar top 10 no concurso internacional de canções. Nos anos anteriores as canções que representaram Portugal foram Ai Coração, de Mimicat (23.º lugar na final), Saudade, saudade, de MARO (9.º lugar) e Love is On My Side, dos The Black Mamba (12.º lugar).

Em 2020, apesar de ter vencido o Festival da Canção com Medo de Sentir, a cantora madeirense Elisa não pôde representar Portugal na Eurovisão devido à pandemia da Covid-19. Já em 2019, Conan Osiris não conseguiu o apuramento para a final com o tema Telemóveis.

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