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Von der Leyen aberta a negociar com extrema-direita ante contestação socialista

A presidente da Comissão Europeia demonstrou essa posição durante o primeiro debate entre candidatos à presidência da instituição.

Ursula von der Leyen admitiu cooperar com o Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus de extrema-direita e direita radical no primeiro debate entre candidatos à chefia da Comissão Europeia realizado segunda-feira em Maastricht, nos Países Baixos.   

REUTERS/Johanna Geron

A presidente da Comissão Europeia disse que tal "dependerá muito da composição do Parlamento Europeu e de quem estiver representado em cada grupo" em resposta a uma questão levantada pelo candidato dos Verdes, o holandês Bas Eickhout, que se mostrou chocado com a declaração de von der Leyen.

O candidato do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, o luxemburguês Nicolas Schmit, retorquiu à atual presidente da Comissão e candidata do Partido Popular Europeu, que "valores e direitos não se podem dividir consoante determinados arranjos políticos".

Schmit, que é Comissário Europeu do Emprego e Direitos Sociais, disse, ainda, que "ou se colabora com a extrema-direita porque se precisa dela ou se afirma de forma clara que não há acordo possível porque não respeitam os direitos fundamentais por que tem lutado a nossa Comissão". 

Os Conservadores e Reformistas Europeus representam o terceiro maior grupo no Parlamento Europeu, com 70 deputados de 15 países, e integram, designadamente, os Irmãos de Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, o Vox, de Espanha, e o partido Lei e Justiça, da Polónia, e não estiveram representados no debate dado não apresentarem um candidato à presidência da Comissão.

O candidato do Grupo Identidade e Democracia, o dinamarquês Anders Vistisen, dirigiu-se a von der Leyen usando uma expressão típica de Donald Trump ao declarar "ser altura de drenar o pântano de Bruxelas" e afirmou que, quando o partido ganhar as eleições, a presidente alemã será "a primeira a ser corrida". 

Von der Leyen recusou explicitamente acordos com o Grupo Identidade e Democracia (59 eurodeputados de oito países), em que participam, nomeadamente, a Convergência Nacional, da francesa Marine Le Pen, a Alternativa para a Alemanha, a Lega per Salvini Premier, de Matteo Salvini, vice-presidente do governo de Roma, e o Partido da Liberdade da Áustria.

André Ventura anunciou que o Chega integrará o Grupo Identidade e Democracia após as eleições de 9 de junho.

O Partido Popular Europeu, a que pertencem o PSD e o CDS, é o maior grupo do Parlamento Europeu (177 deputados), seguido do Partido Socialista Europeu, onde se encontram os socialistas portugueses, contando o seu Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas com 140 eurodeputados.

O debate – organizado pelo site informativo POLITICO Europe, de Bruxelas, e o Studio Europa Maastricht, um centro de debate neerlandês – em que participaram os representantes de oito dos dez partidos do Parlamento Europeu abriu informalmente a campanha dos chamados Spitzenkandidaten (candidatos líderes, em alemão) designados pelos partidos europeus antes das eleições europeias que terão lugar entre 6 e 9 de junho.

Ursula Von der Leyen, a primeira mulher a chefiar a Comissão desde a criação da Comunidade Económica Europeia, em 1957, é favorita para renovar o mandato iniciado em 2019, mas precisa de obter a nomeação para o cargo pelos chefes de estado e governo dos 27 e do voto favorável da maioria dos 720 eurodeputados o que implica acordos políticos entre os diversos partidos.

O Parlamento Europeu detém desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa de 2009 o poder de eleger o presidente da Comissão, cabendo-lhe, ainda, aprovar os Comissários nomeados pelos Estados-membros.      

Os Spitzenkandidaten são designados pelos partidos europeus desde 2014.

O luxemburguês Jean-Claude Juncker foi o primeiro Spitzenkandidat a assumir a presidência da Comissão, após a vitória do Partido Popular Europeu, com 422 votos a favor e 250 contra, na votação realizada em julho.

Em 2019, o Partido Popular Europeu voltou a ser o partido mais votado, mas o seu Spitzenkandidat, Manfred Weber, não conseguiu uma maioria no Parlamento Europeu.

A então ministra da Defesa de Angela Merkel surgiu como candidata de compromisso vindo a ser eleita com 383 votos a favor e 327 contra, apenas mais 9 votos do que os 374 então necessários.

As sondagens sobre intenção de voto nos 27 apontam para uma vitória do Partido Popular Europeu, à frente de socialistas e sociais-democratas, e para uma forte subida da votação nos partidos de direita radical e extrema-direita.

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